One Last Kiss - Billford

Docemente humano

Ford estava ajustando os últimos detalhes da aparência do diário, seus olhos pesados de cansaço, mas a determinação de mostrar aquilo para Bill o mantinha acordado. Ele olhava para o desenho que fizera na capa, o triângulo demoníaco que uma vez representara Bill, agora pintado de vermelho, com um coração no centro. Era irônico, mas de uma forma que fazia sentido para Ford. Ele suspirou, tentando encontrar as palavras certas para quando entregasse o livro a Bill.

A porta do laboratório se abriu e, antes mesmo de Ford perceber, Bill já estava ali, com seu sorriso cínico e sarcasmo afiado.

— Você sumiu da sala e me deixou sozinho no sofá. — Bill provocou, inclinando-se contra a bancada do laboratório. — Não gosta mais da minha companhia?

A atenção de Bill foi para o livro, com um movimento rápido, agarrou-o antes que Ford pudesse reagir. Seus olhos se arregalaram ao ver a capa — seu antigo eu, o demônio triangular, mas em vermelho. Ele folheou as páginas, vendo as anotações detalhadas, os desenhos que Ford havia feito, capturando cada expressão, cada detalhe dele. O choque foi evidente em seu rosto, um misto de surpresa e algo mais profundo.

Ford ficou nervoso com a reação de Bill.

— Eu... Eu fiz isso como uma recordação, caso... Caso algo acontecesse. Ninguém mais vai ver, eu prometo. É só para mim, para me lembrar de nós dois... Não queria que você pensasse que era... Que eu estava...

Ele foi interrompido quando Bill, com um gesto surpreendentemente terno, o puxou pela gola da camisa para um beijo apaixonado. Ford ficou estático por um momento, mas logo retribuiu, sentindo o calor e a surpresa daquele gesto. O beijo foi longo, intenso, como se palavras não fossem necessárias para expressar o que ambos estavam sentindo.

Quando o beijo terminou, Ford ainda estava atordoado, seu coração acelerado. Bill o observava com um sorriso malicioso, mas havia algo mais profundo em seus olhos, algo que Ford não podia ignorar. O silêncio se prolongou por um momento até que Ford, hesitante e emocional, olhou para Bill.

— Cada palavra, cada desenho… Tudo isso foi inspirado em você. Você foi... Um Muso para mim.

Bill parou, e o cinismo habitual em seu rosto deu lugar a uma expressão de surpresa genuína.

— Muso? — Ele repetiu, com um sorriso travesso surgindo. — Eu gosto disso. "Muso" soa bem... Vindo de você.

Ford sorriu suavemente enquanto suas mãos deslizavam até a cintura de Bill, fazendo-o estremecer levemente ao toque. Bill, por sua vez, levou as mãos ao rosto de Ford, seus dedos explorando cada contorno, como se quisesse gravar cada detalhe em sua memória. O silêncio entre eles não era desconfortável, mas carregado de emoção, enquanto se observavam, cada um admirando o outro de uma maneira que ambos achavam impossível algum tempo atrás.

Bill, com um olhar mais sério, passou os polegares pelas olheiras marcadas de Ford, sentindo o cansaço evidente. Ele percebeu o quanto Ford havia se dedicado àquele diário, o presente mais inesperado e significativo que Bill já havia recebido. Isso o atingiu de uma forma profunda, algo que ele não esperava sentir tão intensamente.

— Você precisa de longas horas de sono. — disse Bill, com um toque de cuidado em sua voz, algo raro de ouvir vindo dele. Ele se inclinou para dar um último beijo em Ford, um beijo curto, mas cheio de carinho, deixando os lábios de ambos um pouco molhados.

Ford, já exausto, apenas assentiu, seu corpo finalmente cedendo ao cansaço, mas ainda sem desviar os olhos de Bill, ainda maravilhado com a sensação de estar tão próximo de alguém que o compreendia, apesar de todas as diferenças e complexidades.

Eles ficaram ali por mais um instante, até que Ford finalmente se afastou, suas mãos soltando o corpo de Bill.

Enquanto Ford se afastava para o quarto, Bill olhou para o diário em suas mãos. Um presente que ele jamais imaginaria receber, vindo de alguém que, até pouco tempo atrás, evitava qualquer demonstração de afeto. Ele caminhou até a sala e se jogou no sofá, começando a folhear as páginas com um sorriso cínico no rosto, mas um calor diferente no peito.