Dimensões e provocações

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Ford olhou para o portal diante de si, sentindo a familiar ansiedade que sempre surgia antes de viajar pelo multiverso. Havia algo de perigoso e fascinante em atravessar dimensões, algo que sempre o chamara. Desta vez, porém, a missão era urgente.

O Artefato do Equilíbrio, um objeto que poderia dobrar as leis da física e da magia, havia sido ativado em uma dimensão distante. Se caísse em mãos erradas, poderia desencadear uma catástrofe que ameaçaria não só aquela dimensão, mas todas as realidades conectadas. Ford sabia que era o único capaz de lidar com isso, dada sua experiência e conhecimento. Por isso, sem hesitar, ele entrou no portal, pronto para o que quer que viesse.

A transição entre as dimensões foi suave, e logo Ford encontrou-se em um mundo estranho, com céus roxos e montanhas flutuantes. Ele puxou seu scanner dimensional do bolso, ajustando-o para detectar o artefato.

— Finalmente, Fordsy, resolvendo problemas interdimensionais como nos velhos tempos?

Ford congelou ao ouvir a voz familiar. Ele já sabia quem era antes mesmo de se virar. Bill Cipher, em sua forma humana (na qual Ford ainda não havia se acostumado completamente), estava encostado em uma rocha flutuante, com um sorriso insuportavelmente confiante no rosto. Seu terno preto estava impecável, e a gravata amarela brilhava como um sinal de alerta.

— Bill. — Ford suspirou, já cansado antes mesmo que a interação começasse. — O que você está fazendo aqui?

— Ah, não posso deixar meu cientista favorito ir em uma aventura sem mim, posso? — Bill respondeu, saindo de sua posição relaxada e caminhando em direção a Stanford. — Pensei que você poderia precisar de um pouco de companhia. Quem sabe até de um par de mãos extras para... Certas tarefas.

— Eu não preciso da sua ajuda. — Ford respondeu, começando a caminhar em direção ao ponto onde o scanner indicava uma concentração de energia incomum. — Isso é algo sério, Bill. Não é um jogo.

Bill o seguiu, um sorriso provocador no rosto.

— Sério? Eu pensei que tudo que você fazia era sério, Fordsy. Mas, de qualquer forma, o que seria a vida sem um pouquinho de diversão? Especialmente com... Você sabe... Nós dois?

Ford o ignorou, focando no scanner, mas não pôde evitar uma leve tensão em seus ombros. Ele estava se acostumando com a presença humana de Bill, mas isso não tornava as coisas menos complicadas.

— Por que você realmente está aqui, Bill? — Ford perguntou, tentando manter a conversa no caminho certo. — Você nunca faz nada sem um motivo.

— Ah, mas talvez meu motivo seja simples dessa vez. — Bill respondeu, inclinando-se perigosamente perto de Ford, como se quisesse ver a reação dele de perto. — Talvez eu só... Goste de estar perto de você.

Ford parou, virando-se para encarar Bill, o rosto desacreditado.

— Gostar de estar perto de mim? Você realmente acha que vou acreditar nisso?

Bill deu de ombros, o sorriso nunca vacilando.

— Acreditar ou não é problema seu, Fordsy. Eu só sei que, no fim das contas, você não se desfez de mim, não é? Ainda me mantém por perto, mesmo quando poderia ter me expulsado há tempos.

— Você sabe que não é tão simples assim. — Ford murmurou, voltando sua atenção ao scanner. — Você está ligado a mim de maneiras que eu ainda não consigo entender. Mas isso não significa que você seja bem-vindo.

Bill deu uma risada leve, mas havia um toque de algo genuíno nela, quase como se ele estivesse se divertindo com a resistência de Stanford.

—Eu sei, eu sei. Mas a verdade, Fordsy, é que você não pode se livrar de mim tão facilmente. E, quem sabe... Talvez você nem queira.

Ford manteve-se calado, avançando em direção ao centro da distorção dimensional. O scanner começou a apitar mais forte, indicando que estavam próximos ao artefato. O cenário ao redor deles começou a se distorcer, a realidade ondulando como água em um lago, o que indicava a proximidade do objeto poderoso.

— Olha só. — Bill comentou, observando as distorções com um interesse casual. — A coisa está por perto. Sabe, Fordsy, essa missão toda... Você realmente acha que vai conseguir fazer isso sozinho? E se der errado? O que vai fazer? Me chamar para salvar o dia?

— Eu sou perfeitamente capaz de lidar com isso. — Ford respondeu friamente. — Já lidei com coisas piores antes.

— Ah, claro que sim. — Bill disse, quase sussurrando ao se aproximar ainda mais de Ford. — Mas mesmo o grande Stanford Pines não é invencível, não é?

Ford apertou os lábios, ignorando a proximidade desconfortável de Bill. Ele sabia que a forma humana de Bill era projetada para desestabilizá-lo, para provocar uma reação. Mas ele se recusava a ceder a isso. O artefato estava logo à frente, brilhando com uma energia pulsante e instável.

—Fique aqui, Bill. — Ford disse com firmeza. — Eu vou neutralizar isso antes que cause algum dano.

— Que meigo, está preocupado comigo.

Ford se virou para Bill e o olhou firme.

Bill levantou as mãos em rendição falsa, mas o sorriso malicioso permanecia.

— Tudo bem, Fordsy. Mas lembre-se, estou bem aqui se precisar de uma ajudinha... Ou qualquer outra coisa.

Ford o ignorou, avançando em direção ao artefato. Ele começou a trabalhar, ajustando o scanner para estabilizar a energia caótica que emanava do objeto. Cada segundo que passava, a pressão aumentava, a distorção na realidade se intensificando. Ele sabia que precisava ser rápido.

— Sabe... — Bill falou, casualmente observando o trabalho de Stanford. — Eu realmente admiro sua determinação. Mesmo quando está claro que tudo isso é inútil. É... Quase atraente, de um jeito teimoso e desesperado.

— Eu não estou interessado nos seus jogos, Bill. — Ford respondeu sem olhar para ele, seus dedos trabalhando rapidamente nos controles.

— Você sempre está dizendo isso, mas... — Bill se aproximou novamente, quase colado ao ombro de Ford, seu tom mais baixo e provocador. — Talvez devesse estar.

Com um último ajuste, Ford conseguiu neutralizar a energia do artefato, fazendo com que as distorções ao redor deles desaparecessem gradualmente. Ele deu um suspiro de alívio, afastando-se do objeto agora inerte.

— Feito. — Ele murmurou para si mesmo, sentindo uma onda de exaustão.

— Não foi tão difícil, afinal. — Bill comentou, com um sorriso que indicava que ele havia desfrutado de cada segundo. — E aqui estou eu, pensando que teria que salvar sua vida e ganhar os créditos.

Ford finalmente virou-se para Bill, com a expressão séria.

— Eu não preciso que você me salve, Bill. Nem agora, nem nunca.

— Mas e se eu quiser? — Bill provocou, seu rosto a centímetros do de Ford. — E se, de alguma forma, eu quisesse ser... Mais do que apenas um problema para você resolver?

Stanford sentiu seu coração bater mais rápido, mas manteve o rosto firme.

— Isso não vai acontecer.

Por um momento, os dois ficaram ali, em silêncio, com Bill observando Ford com uma intensidade que fazia o ar entre eles parecer pesado. Finalmente, Bill deu um passo para trás, um sorriso melancólico surgindo em seu rosto.

— Você sempre foi teimoso. — Ele disse suavemente, sua voz carregando uma mistura de frustração e algo que parecia quase como dor. — Mas acho que é isso que me mantém por perto.

Ford não respondeu, apenas virou-se e começou a caminhar de volta ao ponto de partida, sabendo que Bill o seguiria como sempre fazia. Ele não sabia o que fazer com os sentimentos confusos que o demônio parecia ter por ele, nem sabia como processar a ideia de que, talvez, ele próprio estivesse começando a se acostumar com a presença constante de Bill.

Mas, por agora, ele simplesmente continuaria com sua missão. E, enquanto isso, tentaria ignorar a presença de Bill, que continuava a segui-lo, flertando e provocando a cada passo.

One Last Kiss - Billford Onde histórias criam vida. Descubra agora