VIII 🦋

185 47 16
                                    

Oi oi gente
Voltei 🩵🥹

🦋

Maiara

O celular vibrou em minhas mãos enquanto tentava processar a cena à minha frente. Maraisa, como sempre, encantava com sua inocência, mas o que deveria ser fofo agora só me deixava mais preocupada. Ela repetia aquela palavra, "merda", como se fosse uma novidade engraçada, algo sem peso. E, talvez, para ela realmente fosse.

Respirei fundo. O diagnóstico estava chegando e, mesmo sem querer, uma parte de mim já sabia o que Gustavo ia dizer. Não era só distração ou comportamento "fofinho". Tinha algo mais. Os hematomas que não se curavam rápido, a confusão constante nas suas palavras... Tudo isso estava somando, criando um cenário que eu temia há tempos.

— Ei, meu anjo, vem cá — chamei suavemente, tentando esconder a ansiedade. Maraisa, ainda sorrindo, veio de mãos dadas com Luisa, que parecia igualmente desconcertada. As duas não tinham noção do que estava prestes a acontecer. Talvez fosse melhor assim.

Gustavo atendeu na terceira tentativa.

— Maiara, precisamos conversar com urgência. Os exames indicam algo que, embora já esperássemos, precisa de uma abordagem cuidadosa.

Eu sabia que ele não falaria diretamente pelo telefone. Ele era meticuloso e esperava que eu fosse ao hospital para ter uma conversa mais pessoal, mais sensível. Mas a minha mente já começava a organizar as peças. Maraisa não estava apenas agindo como uma criança, ela estava presa nesse comportamento. Algo nela não estava evoluindo como deveria.

Quando desliguei, Maraisa me puxou levemente pelo braço, chamando minha atenção.

— Mãe, você tá bem? — A pergunta, tão simples, me pegou de surpresa. Era uma frase comum, mas na voz dela, com aquele tom infantilizado, havia algo mais... uma inocência que não combinava com a idade que ela deveria ter.

— Tô sim, meu amor — forcei um sorriso. — A gente vai no hospital rapidinho, tá bom?

Ela assentiu, mas seus olhos logo se perderam novamente, distraídos pelas cores ao nosso redor. Luisa, ao meu lado, lançou um olhar desconfiado. Ela sempre sabia quando algo estava errado, mas não disse nada. Acho que, no fundo, ela também preferia não saber naquele momento.

🦋

No hospital, Gustavo nos aguardava na sala de espera com o semblante sério, mas acolhedor. Ele sabia que aquele momento seria difícil. O que ele tinha a dizer, por mais que estivéssemos nos preparando para isso, nunca seria fácil de ouvir.

— Maiara, antes de qualquer coisa, quero que saiba que estamos aqui para ajudar Maraisa da melhor forma possível — começou ele, puxando uma cadeira e gesticulando para que eu me sentasse. — Fizemos uma série de exames e testes cognitivos que indicam infantilismo. Não apenas comportamental, mas também com uma leve dificuldade na fala.

Meus olhos se encheram de lágrimas antes mesmo que eu pudesse processar completamente. "Infantilismo". A palavra ecoou na minha mente. Parte de mim já sabia, já tinha visto os sinais, mas ouvir isso em voz alta era devastador.

— O que significa exatamente? — perguntei, minha voz quase um sussurro.

Gustavo respirou fundo.

— Maraisa tem um atraso no desenvolvimento emocional e social. Ela está presa em uma fase infantil, e isso se reflete nas suas interações, como vimos nas últimas semanas. A dificuldade na fala é outro aspecto... ela muitas vezes mistura palavras ou se perde nas frases, o que, combinado ao infantilismo, é um indicador de que precisamos de um acompanhamento especializado.

Maraisa, sentada ao meu lado, parecia alheia à conversa. Ela balançava os pés, entretida com a barra do vestido. Para ela, tudo estava normal. E era isso que partia meu coração. Eu queria que ela estivesse bem, queria que pudesse crescer e experimentar o mundo da forma que outras adolescentes fazem... mas agora eu sabia que isso não seria tão simples.

Gustavo continuou falando sobre tratamentos e terapias, sobre a importância do apoio emocional, mas minha mente estava longe. Eu precisava ser forte, não por mim, mas por Maraisa. Ela precisava de mim mais do que nunca.

— Maiara? — Gustavo chamou, puxando-me de volta para a realidade. — Estamos aqui para ajudar vocês. Isso não é o fim, apenas o início de uma nova jornada.

Assenti, tentando absorver suas palavras, mas ainda assim, uma sensação de impotência me dominava. Eu não sabia como seria o futuro de Maraisa. Só sabia que, independentemente de tudo, eu estaria ao lado dela.

— Vamos passar por isso, juntas, meu anjo — sussurrei para Maraisa, segurando sua mão com firmeza.

Ela me olhou e sorriu. Para ela, o mundo ainda era simples. Para mim, ele acabara de ficar muito mais complicado.

Ohana 🦋Onde histórias criam vida. Descubra agora