XII 🦋

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Maiara

Acordo com a luz do sol invadindo o quarto, me jogando num estado de confusão. O quarto tá silencioso, o que é estranho, porque já era pra eu ter ouvido a Maraisa andando pela casa. Dou uma olhada rápida no relógio e percebo que dormi mais do que devia. O peso do cansaço da noite anterior ainda tá presente, mas é a preocupação que logo me faz levantar da cama de uma vez.

Caminho até o quarto da Maraisa, esperando ouvir os passinhos dela ou algum som de brincadeira, mas quando abro a porta, encontro o quarto vazio. O susto me atravessa. Onde ela tá? Meu coração acelera, e de repente, várias possibilidades passam pela minha cabeça. Será que ela saiu sozinha? Será que aconteceu alguma coisa? Tento me lembrar de alguma pista do que pode ter ocorrido, mas nada faz sentido.

— Maraisa? — chamo, sem resposta.

Entro no quarto e olho ao redor. As cobertas estão amontoadas na cama como se ela tivesse saído correndo. Os bichinhos de pelúcia estão espalhados pelo chão, e os brinquedos que ela tanto adora parecem ter sido abandonados no meio de uma brincadeira. Tento controlar a ansiedade que começa a tomar conta, e a primeira coisa que penso é em sair pela casa, procurando por ela.

Caminho rápido pelo corredor, sentindo o chão frio sob meus pés descalços. O silêncio da casa me deixa ainda mais tensa, até que, de repente, ouço uma risada. Uma risada que me parece familiar, mas não era da Maraisa. Não... são duas risadas. Alívio imediato começa a me invadir quando reconheço as vozes.

Sigo o som até a sala, e, quando viro a esquina, o que vejo faz meu coração finalmente desacelerar. Lá está Maraisa, rindo como se não tivesse preocupações no mundo, sentada no meio do tapete com Marília e Luísa ao lado dela. Os três estão cercados por brinquedos, pelúcias e uma montanha de almofadas que parecem ter sido reorganizadas para formar uma espécie de forte improvisado.

— O dragão não pode pegar a princesa se ela estiver no castelo! — diz Luísa, fazendo uma voz exagerada, enquanto segura uma almofada como se fosse um escudo.

Marília, fingindo ser o "dragão", faz uma imitação engraçada de um rugido, enquanto se arrasta pelo chão, tentando alcançar Maraisa.

— Raaawr! — ela grita, estendendo os braços para tentar agarrar uma das bonecas de Maraisa, que solta uma gargalhada gostosa e se esconde atrás de Luísa.

— Eu sou a guerreira Luísa! — Luísa diz, segurando um ursinho de pelúcia como se fosse uma espada. — Ninguém vai pegar a princesa Maraisa!

O sorriso no rosto da Maraisa é tão genuíno, tão leve, que qualquer preocupação que eu tinha desaparece. Por um momento, fico parada, observando de longe, sem querer interromper. Marília, com seu jeito natural, conseguiu fazer o que eu sempre tento, mas muitas vezes não consigo: deixar Maraisa completamente à vontade, tranquila e feliz, apesar de achar que Marília não tinha ido com a cara da minha gêmea. E Luísa, claro, sempre foi ótima em entrar na onda das brincadeiras, levando a diversão a outro nível. A cumplicidade entre elas é evidente, e eu sinto um alívio profundo em saber que Maraisa está cercada de tanto carinho.

— Eu vou te pegar, princesa! — Marília ameaça de novo, fingindo que vai atacar com as mãos.

— Não vai, não! — Maraisa responde, entre risos, jogando uma almofada na direção dela.

Marília finge que a almofada é um golpe fatal e cai para trás dramaticamente, derrubando algumas pelúcias no processo.

— Ai! O dragão foi derrotado mais uma vez! — ela diz, se jogando no chão, cobrindo o rosto com as mãos. — A guerreira e a princesa são invencíveis!

Maraisa, ainda rindo, pula em cima de Marília, abraçando-a com força.

— A gente ganhou de novo! — ela diz, com um brilho de alegria nos olhos que há muito tempo eu não via.

— Vocês são as melhores! — Marília responde, sorrindo, enquanto retribui o abraço.

Luísa, por sua vez, se joga no chão ao lado delas, suspirando como se tivesse acabado de enfrentar uma batalha de verdade.

— Esse foi o dragão mais difícil que eu já enfrentei — ela brinca, limpando o "suor" da testa com exagero.

Finalmente, decido me aproximar, ainda com um sorriso no rosto.

— O que tá acontecendo aqui? — pergunto, cruzando os braços, fingindo seriedade.

Marília se levanta de um salto, ajustando as roupas como se fosse uma soldado em posição de sentido.

— Estamos em uma missão secreta, senhora — ela diz, fazendo uma saudação exagerada.

Luísa cai na gargalhada, e Maraisa corre até mim, se jogando em meus braços.

— A gente derrotou o dragão de novo, mamãe! — ela diz, com um orgulho que derrete meu coração.

Ajoelho-me ao lado dela, passando a mão pelo cabelo bagunçado.

— Eu vi. Vocês foram incríveis. Mas... — faço uma pausa dramática — será que o dragão vai voltar?

Marília, entrando completamente no papel, ergue as mãos como se estivesse se transformando de novo.

— Raaawr! O dragão voltou!

Maraisa solta um gritinho de alegria e corre pra se esconder atrás de mim, rindo o tempo todo. Eu seguro o riso, tentando manter a expressão séria.

— Cuidado! O dragão é forte dessa vez!

— Não é páreo pra gente! — Marília diz, avançando devagar, como se estivesse se preparando para atacar de novo.

— Eu protejo você, princesa! — Luísa grita, pegando uma almofada e arremessando na direção de Marília, acertando em cheio.

A cena é tão ridícula e ao mesmo tempo tão adorável que eu finalmente relaxo de vez. Me sento no sofá, observando a bagunça que elas estão fazendo, e sinto uma onda de alívio. Marília sempre teve essa habilidade de transformar qualquer ambiente e eu sou grata por isso.Elas parecem saber como deixar Maraisa confortável, como criar um espaço seguro onde as preocupações não existem. E Luísa, com seu jeito espontâneo, sempre entra de cabeça nessas brincadeiras, fazendo tudo parecer tão fácil.

Ver a Maraisa assim, rindo e sendo ela mesma, me faz perceber que, apesar de todos os desafios, ela tá bem. Melhor do que eu imaginava. E eu também, de certa forma, me sinto bem. Mesmo que o caminho seja difícil, momentos como esse me mostram que não estou sozinha. Tenho essas duas pessoas incríveis ao meu lado, e isso faz toda a diferença.

Marília, exausta da "luta", se joga no chão mais uma vez, fingindo derrota total.

— Ok, ok, vocês ganharam de novo! Eu me rendo! — ela diz, com uma mão no coração e a outra levantada em sinal de paz.

Maraisa, vitoriosa, solta outra risada e corre até Luísa, abraçando-a forte.

— A gente sempre ganha! — ela diz, orgulhosa.

Eu dou uma risada leve, sentindo o peso dos últimos dias desaparecer um pouco. Por mais que as coisas sejam complicadas, momentos como esse são tudo.

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