XIII🦋

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A manhã seguia leve e cheia de brincadeiras, com risos ecoando pela casa. Depois de tanta bagunça, Luísa sugeriu que todos sentassem um pouco para descansar.

Foi definido que Maiara ia organizar o que iam comer.

Era oficialmente o dia de brincadeiras para elas então nada de comida verde segundo Maraisa o que foi apoiado dignamente tanto por Luisa quanto por Marília.

Elas montaram uma pequena pilha de almofadas no chão da sala, como uma espécie de "sofá improvisado", enquanto Marília folheava alguns livros infantis que encontrou na estante.

— Ei, que tal a gente ler uma história agora? — Marília sugeriu, segurando um livro colorido de capa dura. — Maraisa, você escolhe qual!

Maraisa, animada, correu até ela e pegou o livro com as mãos. Seus olhos brilharam por um momento ao olhar as ilustrações na capa, mas logo em seguida, seu rosto mudou. Ela ficou quieta, quase desconfortável, segurando o livro de um jeito estranho, como se não soubesse o que fazer com ele.

— O que foi, Isa? — Luísa perguntou, percebendo a mudança na expressão da menina.

Maraisa hesitou por alguns segundos, olhando para as páginas sem virar nenhuma. Seus dedos tremiam levemente, e, sem aviso, ela empurrou o livro de volta para as mãos de Marília.

— Eu não quero ler. — A voz dela saiu baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma tensão que as meninas não estavam esperando.

Marília, confusa, tentou tranquilizá-la. — Tudo bem, a gente pode escolher outro livro. Ou posso ler pra você, se preferir.

Mas Maraisa balançou a cabeça, cruzando os braços em frente ao peito, como se estivesse tentando se proteger de alguma coisa. Ela ficou em silêncio por alguns instantes, até que as palavras começaram a sair rapidamente.

— Eu... eu não sei ler. — Ela confessou de repente, olhando para o chão, sua voz vacilando.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Marília e Luísa trocaram olhares rápidos, surpresas, mas tentando processar a informação. Elas nunca tinham parado para pensar nisso, afinal, Maraisa sempre parecia tão confortável em suas brincadeiras, tão segura em suas conversas, que esse detalhe simplesmente nunca veio à tona.

— Isa, tá tudo bem... — Marília começou a falar com um tom calmo, mas foi interrompida.

— Não! Não tá tudo bem! — Maraisa gritou, agora visivelmente agitada. Seus olhos começaram a se encher de lágrimas, e ela deu um passo para trás, como se quisesse fugir daquela situação. — Eu sou... eu sou burra! Todo mundo sabe ler! Menos eu!

Luísa se levantou rapidamente e foi até ela, tentando acalmá-la. — Ei, calma, Isa. Não precisa falar assim. Não tem nada de errado com você, de verdade.

— Tem sim! — Maraisa respondeu, agora chorando de verdade. — Por que eu não sei? Eu tento, mas as letras se misturam, e... e eu não consigo! Todo mundo sabe! Você, a Marília, a Maiara... Eu sou uma idiota!

Marília se aproximou devagar, tentando encontrar as palavras certas para confortá-la. Ela sabia que Maraisa sempre foi muito sensível às suas limitações, especialmente depois de tudo o que passou. O mundo ao redor dela parecia esperar tanto, e cada vez que Maraisa sentia que não atendia a essas expectativas, ela se fechava.

— Isa, olha pra mim — Marília pediu, sua voz suave, mas firme. Quando Maraisa finalmente levantou os olhos, cheios de lágrimas, Marília continuou: — Você não é burra. E você não precisa se sentir mal por isso. Todo mundo tem seu tempo, e se você ainda não sabe ler, a gente vai aprender juntas, tá?

— É verdade! — Luísa concordou, segurando a mão de Maraisa. — Ler não define quem você é. E você tem tantas outras qualidades, Isa. Isso é só mais uma coisa que a gente pode fazer juntas, quando você estiver pronta.

Maraisa respirava com dificuldade, lutando para controlar o choro. Ela olhava para as duas, tentando entender o que elas estavam dizendo, mas ainda havia aquela sensação de fracasso dentro dela. Por que era tão difícil? Por que ela não conseguia fazer o que todos faziam?

— Vocês não entendem... — ela murmurou, os soluços fazendo sua voz tremer. — Eu... eu quero ser como todo mundo. Quero poder ler as coisas sozinha, como vocês fazem.

— Isa, eu entendo — disse Marília, aproximando-se e colocando uma mão no ombro dela. — Mas sabe, todo mundo tem algo que não consegue fazer de primeira. Algumas coisas levam mais tempo, e não tem nada de errado com isso. Você é incrível do jeito que é, com ou sem leitura. Mas, se você quer aprender, a gente tá aqui pra ajudar, ok? Não precisa ser agora, não precisa ser rápido. Você tem o seu ritmo, e isso é o que importa.

Maraisa fungou, tentando parar de chorar, mas os sentimentos estavam muito intensos. A sensação de ser diferente, de ser deixada para trás, a pressionava, mas as palavras das meninas começavam a encontrar um caminho até ela. Era difícil aceitar, mas talvez, só talvez, elas estivessem certas.

— E sabe o que mais? — Luísa acrescentou, tentando suavizar o clima. — Eu aposto que você vai aprender a ler melhor que todo mundo. Porque você é determinada, e quando você quer fazer uma coisa, ninguém te para, né?

Maraisa sorriu levemente entre os soluços, ainda desconfortável, mas começando a sentir o calor do apoio delas. Marília pegou o livro de volta, se aproximando de Maraisa com cuidado.

— Que tal a gente ler juntas agora? — ela sugeriu. — Eu posso ler as palavras, e você me ajuda a virar as páginas. A gente faz isso como um time. O que você acha?

Maraisa olhou para o livro nas mãos de Marília, hesitando por um momento, mas depois assentiu lentamente. Ela ainda estava nervosa, mas a presença das amigas fazia com que o peso em seu peito diminuísse um pouco. Marília abriu o livro de novo e começou a ler em voz alta, de forma tranquila e pausada. Cada palavra que ela pronunciava era acompanhada de um olhar carinhoso, como se estivesse mostrando a Maraisa que não havia nada de errado em não saber tudo imediatamente.

Luísa se sentou ao lado delas, encostando a cabeça no ombro de Maraisa, como se para mostrar que estava ali, independente de qualquer coisa. E, aos poucos, conforme a história avançava, as risadas e o calor da amizade entre elas começou a substituir o nervosismo que Maraisa sentia.

— Tá vendo? — Luísa comentou, num tom leve, enquanto Marília lia uma parte engraçada do livro. — A gente tá fazendo isso juntas. Não tem problema nenhum.

Maraisa respirou fundo, e pela primeira vez desde o susto inicial, sentiu que talvez estivesse tudo bem. Que, com o apoio delas, ela conseguiria enfrentar esse desafio também. Mesmo que fosse no tempo dela.

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