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Maiara
Quando a noite finalmente avança e o sono começa a pesar nas pálpebras de Maraisa, eu a ajudo a se levantar do sofá, ainda segurando o Ted com força contra o peito. Seus olhos já estão meio fechados, e eu sorrio ao ver o jeito sonolento e tranquilo dela. Esse é um dos poucos momentos em que eu sinto que ela não carrega nenhuma preocupação.
— Vamos, Isa — sussurro, enquanto a guio até o quarto.
Ela murmura algo ininteligível, provavelmente algum sonho misturado com a realidade. Eu a coloco na cama, ajeitando os lençóis ao redor dela e colocando o Ted do lado, onde sei que ela gosta. Maraisa se vira de lado, segurando o ursinho como se fosse um escudo contra o mundo lá fora. Fico ali, olhando para ela, sentindo o peso do cansaço e das preocupações me esmagando.
Quando tenho certeza de que ela dormiu, suspiro e me viro para sair do quarto. Fecho a porta devagar, tomando cuidado para não fazer barulho, e sigo em direção à sala, onde Marília e Luísa me esperam. Elas estavam na cozinha, falando baixo, provavelmente tentando me dar espaço para cuidar da Isa antes de conversar.
— E aí? Ela já dormiu? — Marília pergunta, com aquele tom suave que sempre usa quando o assunto é Maraisa.
— Dormiu, finalmente — respondo, me sentando no sofá com um suspiro pesado. — Ela tá exausta. Eu também.
— Você parece exausta — Luísa comenta, se aproximando e se sentando ao meu lado. — Como você tá, de verdade?
Eu fico em silêncio por um momento, sentindo o peso da pergunta. Não sei como começar. Não sei se consigo colocar em palavras tudo que tá preso dentro de mim. Mas sei que preciso falar, preciso deixar sair, porque isso tá me consumindo. Olho para Marília, que tá de pé, apoiada no balcão, com o olhar cheio de preocupação.
— Eu não sei mais o que fazer — começo, sentindo a garganta apertar. — Eu tô tentando cuidar dela, mas é como se nada que eu faça seja suficiente.
Marília franze a testa, mas permanece em silêncio, deixando-me desabafar.
— Eu olho pra Isa e vejo que ela tá feliz em alguns momentos, como quando a gente brinca ou quando ela tá com os bichinhos dela. Mas aí vem esses momentos em que eu... — minha voz falha, e eu respiro fundo, tentando continuar. — Em que eu sinto que tô falhando. Que ela precisa de mais do que eu posso dar. E isso me destrói.
Luísa coloca a mão no meu ombro, um gesto silencioso de apoio, mas não diz nada. Ela sabe que eu preciso falar.
— Você não tá falhando, Maiara — Marília finalmente diz, a voz firme mas cheia de compreensão. — Tá fazendo o melhor que pode. E a Isa sabe disso. Ela sente isso.
— Eu só... — minha voz fica embargada, e eu odeio o quanto me sinto vulnerável. — Eu só queria que fosse mais fácil. Queria que ela não tivesse que passar por tudo isso. Que ela fosse... normal.
As palavras escapam antes que eu possa contê-las, e imediatamente sinto uma onda de culpa me inundar. Normal. Eu odeio ter pensado isso. Odeio ter dito. Marília e Luísa me olham com simpatia, mas não dizem nada. Elas sabem que não foi por mal. Mas o peso da minha própria culpa é esmagador.
— Ela é quem ela é — Luísa diz suavemente. — E você tá fazendo tudo que pode pra dar a ela o melhor. Ninguém pode te culpar por isso, nem mesmo você.
Eu passo as mãos pelo rosto, tentando afastar as lágrimas que ameaçam cair. O silêncio na sala é pesado, mas ao mesmo tempo reconfortante. Elas estão aqui. Elas entendem.
— Eu só não sei até quando eu consigo fazer isso sozinha — admito, finalmente deixando escapar o medo que carrego há tanto tempo. — Eu sinto que vou quebrar a qualquer momento.
Marília se aproxima e se ajoelha na minha frente, pegando minhas mãos nas dela. O toque dela é firme, mas reconfortante.
— Você não tá sozinha, Maiara. Eu tô aqui. A Luísa tá aqui. A gente vai te ajudar, do jeito que for preciso. Não precisa carregar isso sozinha.
Eu olho nos olhos dela e vejo a sinceridade ali. Marília sempre foi direta, mas nunca deixou de me apoiar. Eu sei que posso contar com ela, e com Luísa também. Mesmo assim, o medo de depender de outras pessoas me assombra. Tenho medo de falhar com a Maraisa, de não ser o suficiente pra ela.
— Eu... eu só queria poder fazer mais por ela — sussurro, apertando as mãos de Marília. — Queria ser suficiente.
— Você já é — Marília insiste, e Luísa faz um aceno com a cabeça, concordando.
Ficamos em silêncio por um momento, e então eu me levanto lentamente. Preciso de um tempo pra mim, nem que seja por um breve momento. Vou até a cozinha e abro o armário, pegando uma taça de vinho. Não bebo muito, mas às vezes preciso de um gole pra aliviar o peso do dia. Sirvo a taça e fico ali, encostada no balcão, sentindo o vinho deslizar pela garganta.
O silêncio da casa à noite é quase ensurdecedor, mas é nesse silêncio que eu percebo o quanto eu estou sobrecarregada. Tento afastar os pensamentos ruins, mas eles sempre voltam. Sempre ficam rondando, me lembrando de que, por mais que eu ame a Maraisa, cuidar dela exige mais do que eu imaginava.
Termino a taça e suspiro, voltando para a sala, onde Luísa e Marília ainda estão sentadas. Elas me olham, preocupadas, mas não pressionam. Sabem que eu preciso de espaço, e por agora, isso já é mais do que suficiente.
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Ohana 🦋
FanficOhana quer dizer família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer.