Maraisa
Era mais um daqueles dias tranquilos, o tipo de dia que eu adorava passar com as meninas. Depois do episódio do exame de sangue, que, aliás, eu fui uma verdadeira guerreira por enfrentar, elas tinham decidido que merecíamos um passeio relaxante pelo shopping. A promessa de algodão doce ainda pairava no ar, e eu estava contando os minutos para finalmente mergulhar naquela nuvem de açúcar que Luísa tinha me prometido.
Estávamos andando pelos corredores, parando aqui e ali para olhar vitrines, quando, de repente, percebi que Luísa não estava mais com a gente. Olhei para os lados, esticando o pescoço como uma girafa curiosa, mas nada dela aparecer.
— Ué, cadê a gostosa? — perguntei, inocentemente, me referindo à Luísa, o que fez Maiara rir imediatamente.
Maiara tentou disfarçar, mas eu vi. Ela sempre fazia isso, tentava não rir das minhas perguntas, mas eu sabia que ela achava engraçado. — Ela deve estar em alguma loja por aí — disse, tentando me acalmar. — Logo ela volta.
Eu balancei a cabeça, aceitando a explicação, mas ainda desconfiada. Por que alguém sumiria no meio de um passeio tão importante? Quer dizer, estávamos no shopping! E eu ainda não tinha ganhado meu algodão doce!
Enquanto continuávamos andando, eu ainda estava com aquela sensação de que algo estava estranho. Aí, de repente, Luísa reaparece no horizonte. Mas, ao invés de estar com algodão doce nas mãos, como eu esperava, ela vinha carregando uma pilha de livros enormes.
Eu fiquei olhando para ela, meio sem entender. Por que alguém compraria livros no shopping? Eu sabia que a Luísa era inteligente, e que ela gostava de ler, mas, naquele momento, tudo que eu conseguia pensar era: E o algodão doce?
— O que é isso? — perguntei, apontando para os livros com uma sobrancelha levantada.
— Livros — respondeu Luísa, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Mas por que você comprou tantos? — insisti, ainda tentando entender como ela podia pensar em livros quando tínhamos prometido um dia de diversão.
Maiara, que parecia igualmente surpresa, cruzou os braços e perguntou: — Luísa, você entrou numa livraria no meio do passeio? A gente nem passou por uma!
Luísa deu de ombros, mas com aquele sorriso orgulhoso de quem sabia exatamente o que estava fazendo. — Bom, eu estava pensando... Nenhuma de nós tem muita experiência com crianças, certo? A gente lida com empresas, advogados, reuniões... Nada relacionado a como educar ou cuidar de uma criança no dia a dia. Então, achei que seria uma boa ideia aprender um pouco mais.
Ela ergueu um dos livros e leu o título: Educação Positiva para Crianças: Como Criar com Respeito e Limites. Eu fiz uma careta. O livro parecia grosso e nada divertido.
— Mas pra que tudo isso? — perguntei, sinceramente confusa. — Eu não sou difícil, né?
Luísa abaixou os livros por um momento e se ajoelhou ao meu lado, me olhando nos olhos com aquele olhar sério, mas carinhoso, que ela sempre usava quando queria me explicar algo importante. — Não, Isa, você não é difícil. Você é incrível. Mas, como não somos mães e nunca cuidamos de uma criança antes, a gente quer aprender como te ajudar da melhor forma possível. Queremos saber como te apoiar quando você se sente triste, ou quando você fica nervosa. Esses livros são pra gente te entender ainda melhor.
Eu fiquei quieta por alguns segundos, processando o que ela tinha dito. Era um sentimento estranho. Saber que elas estavam se esforçando tanto por mim, até comprando livros pra aprender mais sobre como cuidar de mim, me deixava feliz, mas ao mesmo tempo, me fazia pensar. Será que eu era tão difícil assim de cuidar?
Maiara colocou a mão no meu ombro, sempre com aquele jeito protetor dela. — A gente já te ama do jeito que você é, Isa. Esses livros são só pra ajudar. Queremos fazer o melhor por você, entende?
Eu suspirei, finalmente começando a entender o que elas queriam dizer. Não era sobre eu ser difícil, mas sim sobre elas quererem ser as melhores cuidadoras possíveis. Isso me fez sentir um calorzinho no peito.
— Então vocês vão me ensinar a ler também? — perguntei, mais curiosa agora.
Foi aí que Luísa abriu um dos livros e revelou a capa: Métodos Divertidos para Ensinar Crianças a Ler. O olhar dela era decidido.
— Exatamente! — ela respondeu, balançando o livro para mim. — Eu estava pensando que, além de tudo, a gente podia te ajudar a aprender a ler de um jeito divertido. Que tal?
Eu senti meu estômago revirar. Ler sempre foi um grande mistério pra mim. As palavras dançavam na página, e eu nunca conseguia acompanhar. Era frustrante, e sempre me deixava nervosa. Eu sabia que as outras meninas já sabiam ler há muito tempo, e o fato de eu ainda não conseguir me fazia sentir pequena, como se eu fosse menos capaz.
— Mas... e se eu não conseguir? — perguntei baixinho, sentindo o nervosismo crescer.
Maiara imediatamente se ajoelhou ao meu lado e me puxou para um abraço. — Você vai conseguir, Isa. E, se demorar um pouco, tudo bem. Estamos aqui para te ajudar, sem pressa.
Eu senti as lágrimas começando a se formar, mas tentei segurá-las. Eu não queria que elas me vissem chorar por algo tão bobo. Mas ainda assim, o medo de não ser capaz era real.
— E se eu errar tudo? — minha voz saiu trêmula.
Luísa, com sua atitude sempre prática, passou o braço ao redor dos meus ombros e deu um leve sorriso. — A gente vai errar junto, Isa. E aí vamos rir de tudo. Não tem erro que a gente não possa consertar, tá bom?
Eu olhei para as duas e vi a seriedade nos seus olhos, mas também vi o amor e a paciência que elas estavam dispostas a me dar. Isso me deu uma sensação de segurança. Talvez, com elas ao meu lado, eu pudesse aprender a ler. Talvez eu não estivesse tão sozinha nesse desafio como eu achava.
— E o algodão doce? — perguntei, mudando rapidamente de assunto, tentando aliviar a tensão que estava sentindo.
As duas riram, e Luísa balançou a cabeça. — Não esqueci! Mas antes, vamos escolher um livro para começarmos a ler juntas.
Eu suspirei, aceitando a ideia. Não seria fácil, mas, com elas ao meu lado, talvez ler não fosse mais tão assustador quanto antes. E, quem sabe, depois de aprender, eu ainda poderia me deliciar com o algodão doce que tanto esperava.
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Ohana 🦋
Fiksi PenggemarOhana quer dizer família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer.