Nunca, Niki?

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Não é possível.

— Por quê não veio ao mercado sozinho? — questiono.
— Você esperou mesmo que eu fosse preparar tudo sozinho, e você somente aproveitar? — Responde Niki, colocando uma bandeira de iorgut no carrinho que estou arrastando.
— Mas o que é?
— Calma, afobado. – Ele da um sorrisinho.

Independente do que for, passei a ter um pingo de confiança em Niki. Talvez porque ele está me ajudando com o caso do sequestro, ou pelo tempo que estamos passando juntos durante um dia. Tem também a possibilidade de que talvez seja porque estamos virando amigos.

— Quem vai pagar? — pergunto.
— Kim Sun-Oo. — Niki parece silabar enquanto mexe a cabeça conforme pronuncia, os olhos fixos em uma caixa de achocolatado.
— Mas não é justo. — rebato — eu já te paguei um sorvete, de pedido de desculpas.
— E eu te salvei — Niki aparenta perceber meu silêncio em resposta — Ganhei. — essa risada no final me irrita.

Apaguem tudo o que eu disse eu e ele estarem "amigos".
Depois das compras, caminhamos até o caixa. A atendente está passando as compras de um homem lindo, de cabelos escuros, pele morena e dedos longos. Infelizmente, ele parece estar paquerando a moça do caixa. Perdi a minha chance com ele.

Nossa vez, e eu arrasto o carrinho para Niki retirar os alimentos de dentro.

— 12.185 wones. Forma de pagamento? — pergunta a atendente.
— Cartão, débito. — respondo, já inserindo na máquina.
— Certinho, obrigada. — agradece ela.

Niki recolhe as 4 sacolas , duas em cada braço.

— Quem diria que você sabe pagar no cartão. — ele diz, entrando no elevador.
— Quem diria que você aguentaria 4 sacolinhas. — brinco.

Um silêncio paira. É óbvio que estranho isso, até me virar de costas e ver Niki se olhando no espelho do elevador, como se quisesse dizer "espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?".

— Sou tão lindo, não é? — ele mexe nos cabelos. Sinceramente, é difícil negar.

Apesar de ele ser insuportável, irritante e estranho, assim como todos os seres humanos, tem suas qualidades. Ele é aquele tipo de pessoa que é insuportavelmente legal. Por mim, só por não ser chato, posso enxergar a pessoa de forma elegante ou bonita, ele é legal e ainda por cima bonito. Claro que é estranho concordar com sua fala, mas, sei lá. Gosto de ser irritante e "carinhoso" em alguns momentos. Nunca fui assim com ele.

—Verdade. — Niki olha na minha direção, seus dentes ficam à mostra.
— EU SABIA QUE VOCÊ IRIA CONCORDAR!! Afinal, nenhum gay iria resistir a minha beleza.
— Isso me fez pensar em uma coisa. — digo.
— O que?
— Eu realmente não sei minha sexualidade. Cogitei ser hétero, mas não me sinto exatamente assim.

O sorriso de Niki oscila um pouco, as portas do elevador se abrem e caminhamos em direção ao carro, no estacionamento.

— Sinto o mesmo. — responde ele, sem deixar que esse assunto se desvie para outro — pra falar a verdade, nunca sequer namorei.
— Ahn? — quase deixo escapar uma gargalhada. — nem se apaixonou?

Niki coloca as sacolas dentro do porta-malas. Andamos até o interior do carro, e, enquanto aguardo ele girar as chaves, imagino um discurso que poderia fazer pra me expressar.

— Já, mas nunca me declarei. Não tenho certeza se é carência ou realmente amor. Imagine, namorar alguém, deixar a pessoa se apegar e depois vejo que é simplesmente carência? Ou até vice-versa. É difícil confiar no que alguém diz que sente por mim. Uma menina já disse que me amava, mas não acreditei. — Niki conta enquanto dirige, o rosto em uma expressão pensativa.
— Por quê?
— Eu não sei demonstrar afeto, entendo quem não sabe. Mas ela aparentava muito mais não se esforçar do que não saber. Além de que imagino que seja só pela minha aparência, porque nem conversávamos direito. Mesmo que as poucas vezes que nós conversamos tenham sido boas, não acho que tenham sido suficientes para criar sentimentos românticos por mim.
— Talvez ela realmente não te amasse assim, mas te amasse como amigo. — deduzo.
— Pois é. Tenho medo de fazer igual ela, mas com quem não tenha o mesmo pensamento que eu tive.

Entendo ele.

— Entendi. Mas você já se apaixonou? — pergunto.
— Eu acho que não.

Quem foi?Onde histórias criam vida. Descubra agora