Três

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Felix respirou fundo, o som abafado da música ainda ressoando em seus ouvidos enquanto os outros dançarinos ao redor começavam a se dispersar pelo estúdio. Ele estava suado, mas satisfeito. A dança sempre tinha sido sua forma de escape, sua maneira de expressar o que as palavras não conseguiam. Desde que se mudara para Nova Iorque após a morte de Hyunjin, Felix se entregara completamente ao trabalho. A dança preenchia os vazios deixados por sua perda e o fazia sentir-se vivo de novo.

Ele observou seu reflexo no espelho do estúdio, ofegante, mas com um olhar determinado. Hyunjin sempre fora um dançarino impecável, quase perfeito em tudo o que fazia. E, por mais que Felix tentasse não pensar nele durante os ensaios, os movimentos ainda traziam lembranças — das vezes em que ensaiaram juntos, riram e se desafiaram a melhorar.

Felix sacudiu a cabeça, afastando os pensamentos, quando sentiu uma mão tocar seu ombro. Virou-se e encontrou o sorriso caloroso de Sabrina, sua melhor amiga e confidente desde que chegara à cidade. Ela era pequena e loirinha, com olhos brilhantes que sempre transmitiam energia e otimismo.

— Aqui, você está precisando disso — disse ela, estendendo-lhe uma garrafa de água.

Felix sorriu, aceitando o gesto e dando um gole generoso na água.

— Valeu, Sab — disse ele, enxugando o suor da testa com a mão livre.

Sabrina se encostou na barra de alongamento, cruzando os braços e observando o restante dos dançarinos se espalharem pelo estúdio. Alguns alongavam, outros conversavam ou checavam seus celulares.

— Você estava pegando pesado hoje, hein? — comentou ela, com uma expressão de admiração. — Dá até pra ver o vapor saindo de você.

Felix riu, balançando a cabeça.

— Eu precisava me distrair. Você sabe como é. Sempre dá certo quando eu me jogo assim na dança.

Sabrina arqueou uma sobrancelha, inclinando a cabeça de leve.

— Você realmente dá tudo de si. É impressionante, mas... tem certeza que está tudo bem? — perguntou ela, com uma suavidade na voz que mostrava sua preocupação genuína.

Felix suspirou, dando mais um gole na água antes de responder.

— Eu tô bem, Sab. Só... só tentando continuar, como sempre.

Ela o observou por um momento em silêncio, antes de se aproximar e apertar levemente seu braço.

— Eu sei que não é fácil, Felix. Mas eu fico feliz que você tenha a dança. E, bom... que você tenha a mim e a Jisung também, né? — Ela sorriu, piscando de um jeito brincalhão.

Felix sorriu de volta, sentindo-se grato pela presença constante deles em sua vida. Desde que se mudou para Nova Iorque, ela tinha sido a rocha em que ele se apoiava. Sempre otimista, sempre ali quando ele mais precisava. Mesmo quando ele achava que não merecia o apoio, ela estava lá, pronta para escutá-lo ou simplesmente para distraí-lo com alguma piada boba. Jisung havia chegado depois, e ele foi quem despertou os primeiros sentimentos de paixão após a morte de Hyunjin.

— Eu definitivamente sou sortudo de ter você — disse Felix, sua voz mais suave, mas sincera.

Sabrina balançou a cabeça e revirou os olhos de forma dramática.

— Ah, pare com isso, você sabe que eu sou maravilhosa. Eu deveria ser a estrela desse espetáculo! — Ela deu uma volta exagerada, fingindo estar em um palco imaginário.

Felix gargalhou, e por um instante, o peso que carregava pareceu se dissipar. Sabrina sempre sabia como fazer isso.

— Sabe, você pode ser a estrela do intervalo — brincou ele, secando a nuca com a toalha. — Mas não me peça para te ensinar meus movimentos.

Ela deu uma risada curta.

— Ah, por favor, eu sou uma péssima dançarina! Vou deixar isso para os profissionais. — Então, ela deu um olhar mais sério, cruzando os braços. — Mas falando sério, você está indo muito bem. Todo mundo aqui sabe que você é o melhor da companhia. Você sente isso, né?

Felix deu de ombros, mas um pequeno sorriso tímido apareceu em seus lábios.

— Eu só tento fazer o que amo, Sab. A dança é tudo pra mim. E... talvez seja uma forma de manter ele por perto, sabe?

Sabrina ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de Felix. Ela sabia o quanto Hyunjin significava para ele e o quanto a dança era uma conexão direta com as memórias que Felix tanto preservava.

— Ele teria ficado muito orgulhoso de você — disse ela suavemente. — Mas... eu sei que você está dançando por você também. E isso é importante.

Felix assentiu, sentindo a verdade nas palavras dela. Era difícil às vezes separar o passado do presente, mas ele sabia que, no fundo, a dança era tanto para ele quanto para Hyunjin. Uma forma de viver e se expressar em sua própria arte.

— Obrigado, Sab. Por tudo — disse ele, sinceramente.

Ela sorriu de volta, estendendo a mão para uma batida rápida.

— Sempre aqui por você, amigo. Agora, você vai tomar mais água antes que você desidrate e desmaie no meio do próximo ensaio!

Felix riu e tomou outro gole da garrafa, sentindo-se um pouco mais leve. Mesmo que as sombras do passado estivessem sempre por perto, momentos como esses com Sabrina o lembravam de que ele ainda estava vivo, ainda seguindo em frente. E isso, por agora, era o suficiente.

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