Nove

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A manhã chegou lentamente, com o sol entrando pelas frestas da janela e iluminando o quarto. Felix se mexeu levemente, o rosto meio enterrado no travesseiro, tentando ignorar a luz que insistia em acordá-lo. Ele sentiu o calor familiar do corpo de Jisung atrás de si, os braços fortes envolvendo sua cintura, mantendo-o preso em um abraço confortável.

Felix soltou um resmungo baixo, virando o rosto para o lado, mas sem abrir os olhos. Seu corpo ainda estava pesado, a mente meio entorpecida pela noite mal dormida. Jisung, no entanto, parecia estar totalmente desperto, pressionando um beijo suave na nuca de Felix.

— Bom dia — Jisung murmurou, a voz ainda rouca de sono, mas com uma pitada de diversão.

Felix soltou um gemido suave, se afundando mais no travesseiro, tentando evitar a realidade por mais alguns minutos.

— É cedo demais pra isso — Felix resmungou, a voz abafada pelo travesseiro.

Jisung riu baixo, apertando Felix mais em seus braços, os dedos traçando círculos preguiçosos na pele da barriga dele.

— Sempre é cedo demais pra você — Jisung respondeu, sua voz carregada de carinho.

Felix suspirou, sentindo o peso das mãos de Jisung o puxando de volta para a realidade. Mesmo cansado, não conseguia evitar um pequeno sorriso ao sentir o toque suave do namorado. Ele se virou de leve na cama, os olhos ainda semicerrados, mas o suficiente para ver o rosto de Jisung olhando para ele com um sorriso satisfeito.

— E você já tá acordado faz tempo, né? — Felix perguntou, com um tom de brincadeira na voz.

Jisung deu de ombros, inclinando-se para dar um beijo rápido nos lábios de Felix.

— Não consegui mais dormir. Fiquei te olhando... — ele disse de forma casual, mas havia algo de suave e íntimo no tom de sua voz.

Felix abriu os olhos por completo dessa vez, observando o rosto de Jisung. Havia algo no jeito como ele sorria, tão simples, mas tão cheio de amor. Um sentimento que sempre deixava Felix sem saber o que dizer. Ele não estava acostumado a ser olhado daquela maneira, especialmente depois de tudo o que tinha acontecido com Hyunjin. Jisung era diferente. Ele não pedia nada além de estar ali, presente, com ele.

— Você devia parar de me olhar tanto... — Felix brincou, esticando o corpo de leve na cama, sentindo os músculos despertarem aos poucos. — Vai acabar descobrindo que eu não sou tão interessante assim de perto.

Jisung balançou a cabeça, soltando um suspiro teatral.

— Acho que já passei desse ponto, Lix — ele disse, o apelido saindo naturalmente de seus lábios. — Agora eu tô preso com você.

Felix riu suavemente, encolhendo os ombros e fechando os olhos por um segundo, sentindo o calor de Jisung ainda mais próximo.

— Que azar o seu... — Felix murmurou, mas havia uma leveza no seu tom.

Jisung, no entanto, ficou em silêncio por um momento. Seus braços se apertaram um pouco mais ao redor de Felix, e ele suspirou de novo, dessa vez mais profundo, como se estivesse pensando em algo sério.

— Felix... — a voz dele soou baixa, quase hesitante.

Felix abriu os olhos, percebendo a mudança no tom de Jisung.

— Hm? — Felix respondeu, tentando esconder qualquer traço de preocupação.

Jisung mordeu o lábio por um segundo antes de continuar.

— Eu sei que... você ainda tá lidando com... com as coisas — ele começou, sem querer mencionar diretamente o nome de Hyunjin, mas era evidente sobre o que ele estava falando. — Mas, às vezes, eu só queria saber... se você... me vê. Tipo, realmente me vê.

Felix piscou, virando-se um pouco mais para olhar nos olhos de Jisung. Ele ficou em silêncio por um momento, processando as palavras. Jisung já havia perguntado aquilo para ele na noite anterior.

— Jisung, claro que eu vejo você — Felix disse, a voz calma, mas honesta.

Jisung sorriu, mas não era o mesmo sorriso despreocupado de antes. Era um sorriso pequeno, quase incerto.

— É que... às vezes eu sinto que... — ele hesitou, soltando um suspiro. — Que eu tô competindo com um fantasma. E isso é difícil.

Felix sentiu o peito apertar com as palavras de Jisung. Ele sabia que não era fácil para ele, e odiava a ideia de estar fazendo Jisung se sentir assim. Mas, ao mesmo tempo, a dor de perder Hyunjin ainda era real e sempre estaria ali.

— Eu gosto de você, Jisung — Felix disse, tentando soar o mais sincero possível. Ele sabia que aquelas palavras não eram o suficiente, mas eram as únicas que ele conseguia oferecer.

Jisung deu um pequeno aceno, apertando Felix em seus braços novamente, sem dizer mais nada. Não era uma resposta completa, mas ele aceitava o que Felix podia dar, pelo menos por enquanto.

Eles ficaram assim por mais alguns minutos, os corpos entrelaçados sob os lençóis, até que o sol ficasse forte demais para ignorar e o dia realmente começasse. Felix sabia que, em algum momento, teria que lidar com esses sentimentos de maneira mais profunda. Mas, por enquanto, ele se permitiu aproveitar aquele momento tranquilo, cercado pelo calor e pela presença de Jisung, sem pensar no amanhã.

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