Ecos Caóticos

Dezesseis

Quando a noite caiu, Felix e Jisung caminharam em direção a um restaurante italiano aconchegante. O ar de Nova York estava fresco, e o céu, limpo, revelava as estrelas que brilhavam suavemente. Felix sentiu um alívio quando percebeu que Jisung não os havia levado ao Le Bleu, o restaurante que trazia tantas memórias dolorosas de Hyunjin. Em vez disso, o clima estava leve e agradável, ideal para a noite de comemoração.

Sentados em uma mesa à luz de velas, o ambiente era acolhedor e íntimo. O aroma dos pratos italianos no ar envolvia os dois enquanto brindavam com taças de vinho tinto.

— Esse lugar é perfeito — Jisung comentou, sorrindo enquanto observava Felix do outro lado da mesa. Ele estava claramente encantado, os olhos passeando pelo rosto de Felix, que estava distraído mexendo nos talheres.

Felix levantou o olhar, sentindo o peso suave daquele olhar intenso. Ele sorriu, um pouco sem jeito.

— É, você escolheu bem hoje — Felix respondeu com um sorriso, tentando manter o tom casual.

Jisung não disse nada por alguns segundos. Apenas estendeu a mão por cima da mesa e tocou delicadamente o rosto de Felix, os dedos traçando o contorno suave das bochechas sardentas. Ele sorriu, admirando a delicadeza dos traços, o cabelo loiro brilhando suavemente sob a luz das velas e os lábios rosados que ele adorava beijar.

— Você é tão especial pra mim, sabia? — Jisung sussurrou, os olhos ainda fixos nos de Felix, o tom de sua voz repleto de sinceridade.

Felix, por um momento, não soube o que dizer. As palavras "eu te amo" flutuavam no ar, mas ele não conseguia pronunciá-las. Aquele sentimento que Jisung expressava tão abertamente, ainda era algo que ele, preso às suas lembranças de Hyunjin, não conseguia retribuir com a mesma intensidade.

— Você também é muito especial pra mim — Felix respondeu, a voz suave, acompanhada de um sorriso triste e tímido. Ele sabia que Jisung merecia mais do que isso, mas era o que ele podia dar no momento.

Jisung sorriu, talvez esperando mais, mas sem pressionar. Ele sabia que Felix tinha suas próprias feridas, e o tempo seria o melhor remédio para curá-las. Ele então se inclinou sobre a mesa e beijou Felix suavemente, um beijo carregado de carinho e paciência. Felix retribuiu o beijo, fechando os olhos e se permitindo esquecer as memórias, ainda que por um breve instante.

Quando Jisung se afastou, ele colocou a mão no bolso e tirou uma pequena caixinha de veludo. O coração de Felix acelerou, e por um momento, ele sentiu um déjà vu esmagador. Sua mente o levou de volta à uma noite com Hyunjin, quando ele também havia recebido uma caixinha semelhante, com o anel de casamento que marcava o começo de suas vidas juntos. Felix piscou, tentando afastar o turbilhão de emoções.

Jisung abriu a caixinha, revelando duas alianças prateadas, simples, mas belíssimas. Ele olhou para Felix com um sorriso doce.

— Eu sei que ainda é cedo, e não quero pressionar nada, mas eu sinto que quero isso com você. Um compromisso, uma prova de que estamos juntos e vamos construir algo bom... — Jisung falou com suavidade, os olhos brilhando com um toque de esperança. — Eu quero que a gente use elas.

Felix olhou para as alianças, o coração apertado, mas ao mesmo tempo sentindo o carinho genuíno de Jisung. Ele sorriu suavemente, a dor das lembranças misturando-se com a ternura daquele momento. Ele não estava pronto para esquecer, mas talvez estivesse pronto para seguir em frente, mesmo que fosse devagar.

— Eu... — Felix começou, mas sua voz falhou por um segundo. Ele respirou fundo e assentiu, estendendo a mão para que Jisung colocasse a aliança em seu dedo. — Vamos fazer isso.

Jisung pegou delicadamente a mão de Felix, deslizando a aliança prateada em seu dedo com cuidado. Felix observou em silêncio, sentindo o peso do compromisso, mas também o carinho por aquele homem que, dia após dia, tentava curar suas feridas. Em seguida, Felix pegou a outra aliança e fez o mesmo, colocando-a no dedo de Jisung com um pequeno sorriso.

— Está feito — Jisung disse, segurando a mão de Felix com firmeza, os olhos brilhando com uma mistura de alegria e emoção.

Felix sorriu de volta, um sorriso pequeno, mas sincero. Ele não conseguia dizer tudo o que Jisung queria ouvir, mas naquele momento, usar aquela aliança era o máximo que ele podia dar. E, de alguma forma, isso parecia ser o suficiente para Jisung. Eles selaram o momento com mais um beijo, suave e tranquilo.

O restaurante estava envolto em uma atmosfera mágica. A música ao vivo preenchia o espaço, suave e romântica, enquanto os casais dançavam lentamente sob as luzes baixas e o brilho das velas. Felix observava a cena com um sorriso tímido, tentando se manter presente no momento. O peso da aliança nova em seu dedo era uma sensação que ele ainda estava assimilando.

Jisung, com um olhar caloroso, estendeu a mão para Felix.

— Me concede esta dança? — ele perguntou, a voz macia e carregada de ternura.

Felix olhou para Jisung, e por um momento hesitou. Ele não estava acostumado a essas cenas românticas em público desde que Hyunjin se foi, mas o sorriso acolhedor de Jisung o convenceu. Ele pegou a mão estendida e se levantou com um sorriso suave.

— Claro — respondeu, permitindo-se relaxar um pouco mais.

Eles caminharam até a pequena pista de dança improvisada no centro do restaurante, cercada por outros casais que se balançavam ao som da música. Felix, sempre em casa no movimento, sabia que não importava que tipo de dança fosse: quando seu corpo se movia, tudo o que o atormentava parecia se dissipar.

Jisung colocou uma mão na cintura de Felix e o puxou para mais perto. O toque era suave, como se ele estivesse tentando transmitir segurança e afeto com cada gesto. Felix retribuiu, pousando uma mão no ombro de Jisung enquanto a outra se entrelaçava à mão que Jisung ainda segurava.

A música era calma, o ritmo lento, e eles se moviam juntos, balançando de um lado para o outro, envoltos na melodia romântica que preenchia o ambiente.

— Você dança muito bem — Jisung sussurrou, com um brilho de admiração nos olhos, enquanto conduzia Felix com suavidade. — Eu sempre me perco te observando dançar.

Felix sorriu, sem deixar de olhar nos olhos de Jisung. Ele se sentia em paz naquele momento, ainda que uma parte de si estivesse longe, nas memórias com Hyunjin. Mas naquela dança, ele permitiu que as dores do passado se acalmassem por um breve instante.

— Eu me sinto bem dançando. É como se... — Felix começou a dizer, mas hesitou, tentando encontrar as palavras certas. — É como se nada mais importasse quando eu me movo. Tudo fica mais leve.

Jisung assentiu, compreendendo. Ele sabia que a dança era a linguagem de Felix, uma forma de expressar o que às vezes ele não conseguia dizer em palavras.

— Eu fico feliz por compartilhar isso com você — Jisung respondeu baixinho. — Feliz por estar aqui com você, agora.

Felix, sentindo o calor nos olhos de Jisung, apenas sorriu de volta, sem necessidade de mais palavras. Ele se concentrou na música, nos passos leves e no toque delicado de Jisung contra ele.

A música parecia durar para sempre, mas ao mesmo tempo passar rápido demais. Eles se balançavam lentamente, aproveitando o momento, e por um breve instante, Felix deixou de lado as lembranças dolorosas. Ele permitiu-se sentir a leveza do presente, sem se preocupar com o futuro ou o passado.

Quando a música chegou ao fim, Jisung apertou a cintura de Felix e encostou a testa na dele, respirando fundo e sorrindo.

— Obrigado por essa noite, Lixie — sussurrou ele, com carinho.

Felix olhou para ele, sentindo o coração aquecido.

— Eu que agradeço, Sungie — respondeu, com um sorriso pequeno, mas sincero.