Vinte e três

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Os dias seguintes à visita de Hyunjin foram um borrão para Felix. Ele tentou manter sua rotina, mas a ansiedade estava sempre presente, como uma sombra que o perseguia a cada passo. Jisung, sempre atento, havia notado o comportamento estranho de Felix, e mesmo Sabrina tinha perguntado se ele estava bem. No entanto, Felix usava os ensaios como desculpa, alegando cansaço e estresse. O que mais ele poderia dizer? Não podia contar para ninguém sobre Hyunjin.

Numa tarde aparentemente comum, Felix estava saindo da companhia de dança. Ele puxou o casaco para se proteger do vento, e decidiu pegar um café na cafeteria do outro lado da rua. O aroma do café sempre ajudava a clarear sua mente, e era o que ele mais precisava naquele momento. Com os pensamentos longe, ele não percebeu o carro preto que vinha rápido em sua direção até que estava praticamente em cima dele.

Tudo aconteceu em segundos. Felix deu um salto para trás, e caiu com força na calçada, a dor irradiando da base de sua coluna. Ele arfou de surpresa, olhando para o carro que parou abruptamente onde ele estava segundos antes. Felix pensou que fosse apenas um acidente, uma distração do motorista, até que o vidro escurecido se abaixou devagar.

Seus olhos se arregalaram quando viu a arma apontada diretamente para ele.

Seu coração congelou.

O barulho da cidade parecia sumir ao seu redor. As batidas de seu coração ecoavam em seus ouvidos como trovões enquanto ele encarava o cano da arma. Aquele momento parecia se arrastar, como se o tempo estivesse se desdobrando de forma lenta e cruel. Felix não conseguia respirar direito, o medo o imobilizando. Ele esperava o pior, seu corpo paralisado de terror.

Ele tentou se mexer, mas suas pernas não obedeciam. Tudo o que conseguia fazer era manter os olhos fixos na arma, sua mente girando em uma espiral de desespero. Por que estavam fazendo aquilo? Era algum tipo de engano? Ou... será que tinha algo a ver com Hyunjin?

Antes que pudesse processar qualquer pensamento coerente, uma buzina soou com força ao longe. O motorista pareceu se distrair por um segundo, e o carro acelerou repentinamente, fugindo da cena, deixando Felix caído na calçada, atônito e tremendo.

A adrenalina pulsava por suas veias enquanto ele tentava recobrar o fôlego. Seu corpo todo tremia, e ele mal conseguia se levantar. Pessoas começaram a se reunir ao redor, perguntando se ele estava bem, mas Felix mal conseguia ouvir. Seus olhos estavam fixos na rua onde o carro desaparecera.

Tentando se acalmar, ele forçou-se a levantar. A dor nas costas e nos quadris não era nada comparada ao pânico que sentia. Felix precisava sair dali, precisava entender o que estava acontecendo.

Com o coração ainda disparado, ele correu o mais rápido que pôde de volta para casa.

Felix entrou no apartamento tropeçando nos próprios pés, o peito arfando como se tivesse corrido uma maratona. Ele mal conseguia respirar de forma adequada, com o coração ainda martelando no peito após o quase acidente — ou tentativa de assassinato? Não sabia ao certo, mas aquilo o deixou aterrorizado. Ele precisava de uma desculpa para Sabrina, algo rápido e convincente para justificar sua ausência do ensaio. Mas isso poderia esperar. Agora, ele precisava de respostas. Precisava falar com Hyunjin. Mas como?

Tremendo, Felix foi direto para a cozinha e encheu um copo de água. Seus dedos mal seguravam o copo direito enquanto ele o levava à boca, bebendo em goles rápidos, mas pouco da tensão escapava de seu corpo. Alguém tentou me matar, repetia em sua mente. Era isso. Quase o mataram no meio da rua, e agora ele estava ali, sozinho, perdido e sem saber para onde correr.

Tentando acalmar-se, ele respirou fundo, embora o tremor nas mãos não cessasse completamente. Levando o copo consigo, Felix caminhou até o quarto, o coração ainda descompassado. Sentou-se na cama, a mente fervilhando de perguntas. Hyunjin tinha que ter algo a ver com isso. Era a única explicação plausível. Felix precisava encontrar um jeito de falar com ele, de entender o que estava acontecendo. Mas Hyunjin não aparecia desde a noite que escalou a janela.

Enquanto tentava controlar a respiração, algo chamou sua atenção. Havia um pequeno pedaço de papel embaixo do travesseiro. Aquilo não estava ali antes. Felix franziu a testa e se inclinou para pegá-lo. Quando seus dedos tocaram o papel, ele reconheceu a caligrafia imediatamente.

— Hyunjin — sussurrou, com um misto de alívio e confusão.

Ele desdobrou o papel rapidamente, os olhos correndo pelas palavras escritas. Não havia muito. Apenas um e-mail, escrito de forma discreta e urgente, sem nenhuma explicação ou saudação.

jnret@protonmail.com

Era um e-mail criptografado. Hyunjin estava pedindo para ele entrar em contato por ali, uma maneira de garantir que suas conversas fossem seguras, longe de olhares indesejados. Isso só podia significar uma coisa: o perigo era muito maior do que Felix imaginava.

Felix segurou o papel entre os dedos trêmulos, seus olhos presos àquele simples endereço eletrônico. Ele sabia que deveria se sentir aliviado por finalmente ter um meio de falar com Hyunjin, mas, em vez disso, a ansiedade só crescia. Hyunjin sabia que ele estaria em perigo. Por isso não queria que ninguém soubesse que estava vivo.

— O que eu faço agora? — Felix murmurou para si mesmo, afundando os dedos nos cabelos, a cabeça cheia de perguntas.

Ele respirou fundo novamente, tentando se preparar para o próximo passo. Precisava enviar uma mensagem.

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⏰ Última atualização: Oct 12 ⏰

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