Vinte e um

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Hyunjin manteve a mão na boca de Felix por mais alguns segundos, os olhos fixos nos dele, como se tentasse decifrar todas as emoções que Felix estava sentindo. Os olhos de Felix continuavam marejados, e ele mal conseguia respirar. O silêncio parecia eterno até que, finalmente, Hyunjin afastou a mão devagar, observando cada movimento de Felix para garantir que ele não fosse gritar ou fazer algo repentino.

— Há coisas que você nunca soube, Felix... — disse Hyunjin, a voz quase falhando, carregada de uma culpa que parecia antiga, dolorosa. — Eu nunca te disse porque queria te proteger.

Felix soluçou baixinho, ainda tremendo, mas agora conseguindo respirar com um pouco mais de controle. Ele passou a mão pelo rosto, tentando limpar as lágrimas que não paravam de cair. A confusão tomava conta de seu olhar.

— Proteger do quê? — a voz dele saiu num fio, quase inaudível. Seu corpo parecia pesado, como se ele mal conseguisse se sustentar ali em pé, preso entre o choque e o desespero.

Hyunjin respirou fundo, fechando os olhos por um momento, como se precisasse reunir forças para continuar. Quando ele abriu os olhos novamente, o peso do que estava prestes a dizer era palpável.

— Eu sabia demais... mais do que deveria. — Ele começou, a voz baixa e sombria, como se confessar aquilo fosse reviver cada dor que sentiu. — E, por isso, eu precisei forjar minha morte. Foi a única forma de me livrar deles.

Felix recuou um passo, a mente girando, incapaz de processar tudo de uma vez. Ele sacudiu a cabeça, incrédulo.

— O que... o que você está falando? — a voz dele tremeu, um desespero crescente em suas palavras. — Eu te vi... Eu te vi morto! Eu... eu fui ao seu enterro, Hyunjin! Como você pôde me deixar acreditar nisso?!

Hyunjin mordeu o lábio, a dor visível em seu rosto. Ele avançou um pouco mais, mas não o suficiente para sufocar Felix. Ele queria explicar, mas sabia que não existiam palavras que pudessem justificar totalmente o que ele havia feito.

— Eu não queria... — Hyunjin começou, mas sua voz falhou. Ele fechou os olhos novamente, tentando respirar. — Eu estive perto de você o tempo todo, Felix. Eu te observava de longe... sempre. — Ele olhou para Felix com a expressão cheia de arrependimento. — Eu sabia que não podia ficar perto, mas... eu não consegui. Não consegui evitar.

Felix balançou a cabeça, o choro ficando mais pesado.

— Então, por que agora? Por que você apareceu? — Felix perguntou, a voz quase inaudível. — Por que voltou?

Hyunjin desviou o olhar por um momento, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas. Finalmente, ele olhou de volta para Felix, os olhos dele brilhando sob a pouca luz da sala.

— Eu precisava te ver, Felix. — Ele confessou, a voz quase implorando por compreensão. — Eu tentei me manter longe, juro que tentei... mas eu não consegui. Eu precisava ver você, saber como estava. Eu precisei te ver...

A vulnerabilidade na voz de Hyunjin fez com que o coração de Felix apertasse ainda mais. Ele queria odiá-lo, gritar, perguntar por que Hyunjin o deixou passar por todo aquele inferno. Mas, ao mesmo tempo, Felix ainda sentia algo dentro de si que não o deixava se afastar.

— Você não tem ideia do que fez comigo... — Felix sussurrou, a voz trêmula. — Eu te amei... eu ainda te amo. E você me deixou!

Hyunjin fechou os olhos com força, como se cada palavra de Felix fosse um golpe. Ele balançou a cabeça lentamente, se aproximando mais um passo, mas ainda hesitante em tocá-lo.

— Eu sei... e é por isso que nunca quis voltar. Mas agora... agora não posso mais me esconder.

Felix encarava Hyunjin, sua mente girando com as revelações que estavam sendo feitas. Ele queria desesperadamente entender o que estava acontecendo, mas a cada vez que abria a boca para fazer uma pergunta, Hyunjin balançava a cabeça, afastando qualquer possibilidade de explicação.

— Quanto menos você souber, melhor, Felix. — Hyunjin insistiu, a voz baixa e sombria. Ele olhava ao redor, como se esperasse que alguém estivesse observando ou ouvindo. O olhar cauteloso só aumentava a tensão no ar.

Felix apertou os punhos, frustrado. Ele precisava de respostas, precisava entender por que o homem que ele amava havia desaparecido, apenas para reaparecer como um fantasma.

— Hyunjin, por favor... — a voz de Felix tremia. — Eu mereço saber. O que você está escondendo de mim?

Hyunjin suspirou profundamente, as mãos tremendo levemente. Ele passou uma mão pelos cabelos, claramente lutando com a decisão de compartilhar ou não o que sabia.

— É perigoso demais, Felix. — Ele olhou para ele com seriedade. — Existe uma facção... uma facção coreana antiga. Eles estão por trás de coisas que você nem consegue imaginar. — Hyunjin falava num tom cauteloso, quase sussurrando. — Eu estava envolvido em um plano... para desmascará-los. Mas para que isso funcionasse... eu precisava estar morto.

Felix levou a mão à boca, tentando conter o choro que voltava a surgir. A confusão e a dor que sentia eram esmagadoras, mas uma parte dele ainda queria acreditar que havia uma razão válida para tudo.

— Então... você está dizendo que tudo isso foi por causa deles? — Felix perguntou, a voz embargada. — E agora você quer que eu continue fingindo que você está morto?

Hyunjin assentiu novamente, os olhos escuros implorando por compreensão.

— Sim. Você não pode contar a ninguém que me viu — Ele fez uma pausa, o olhar fixo no de Felix. — Eu preciso que você confie em mim. Se souberem que estou vivo, todos correm perigo.

Felix assentiu quase automaticamente, sem pensar. O peso de tudo era demais, e ele mal conseguia raciocinar. As palavras de Hyunjin ecoavam em sua mente, mas ele ainda não conseguia acreditar completamente no que estava acontecendo.

— Eu... eu não vou contar a ninguém. — Felix murmurou, a voz fraca.

Hyunjin suspirou, aliviado, e tocou o rosto de Felix de forma gentil, mas firme. Ele olhou profundamente nos olhos de Felix, como se tentasse gravar aquele momento em sua memória.

— Obrigado. — Hyunjin sussurrou, sua voz carregada de emoção. — Eu sinto muito por tudo isso, Felix. Mas eu preciso que você acredite em mim... Eu fiz isso para te proteger.

Felix não respondeu. Ele apenas assentiu novamente, sua mente uma bagunça de sentimentos. Ele queria gritar, queria chorar, queria entender. Mas, acima de tudo, ele queria Hyunjin de volta — e essa ideia o consumia.

Hyunjin, vendo que Felix ainda estava abalado demais para falar mais alguma coisa, afastou-se lentamente, ainda com aquele mesmo olhar culpado.

— Eu preciso ir... mas eu estarei por perto. — Ele disse suavemente, a mão escorregando do rosto de Felix. — Só não me procure. Por favor.

E então, como uma sombra, Hyunjin se virou e desapareceu pela janela de onde havia entrado, deixando Felix sozinho no meio da sala, tremendo e cheio de perguntas sem resposta.

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