Onze

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O som rítmico do metrô preenchia o espaço ao redor, criando uma melodia de fundo enquanto o trem seguia seu caminho pelos trilhos. Felix estava sentado ao lado de Sabrina, que olhava para o exterior do vagão, distraída com as paisagens que passavam rápido pelas janelas. Enquanto isso, ele mantinha o caderno aberto em seu colo, a caneta deslizando por sobre as linhas, preenchendo-as com palavras que ele nunca conseguiria dizer em voz alta.

Escrever havia se tornado um hábito para Felix desde a morte de Hyunjin. Era a única maneira que ele tinha de processar tudo que ficava trancado em seu peito, tudo o que ele não conseguia dizer nem para Jisung, nem para Sabrina. No papel, seus sentimentos fluíam com mais liberdade, como se o simples ato de colocá-los em palavras tornasse a dor mais suportável.

Sabrina lançou um olhar discreto para Felix, curiosa sobre o que ele estava escrevendo. Ela sabia que ele usava o diário para se expressar, mas nunca havia perguntado diretamente o que ele escrevia. Hoje, porém, havia algo diferente no semblante dele — uma mistura de concentração e tristeza que lhe preocupava.

Felix, por sua vez, estava imerso no próprio mundo, relembrando o sonho da noite anterior. Ele ainda podia sentir o peso das lágrimas que deslizavam por seu rosto enquanto encarava o anel de casamento, aquele mesmo anel que ele guardava como um pedaço de sua alma, mas que não conseguia usar. O sonho havia sido tão real, tão cheio de detalhes que doíam... Era sempre assim, cada vez que Hyunjin aparecia em seus sonhos. Ele acordava sufocado pela dor da perda, e, na noite passada, não foi diferente.

Felix piscou, afastando umidade que ameaçava se acumular nos cantos dos olhos enquanto suas mãos continuavam a escrever. Ele anotava pequenos trechos soltos, como se estivesse conversando diretamente com Hyunjin, como sempre fazia quando não havia mais ninguém para ouvir.

"Eu sei que você me ouve quando eu choro..."

A caneta correu suavemente pela página, enquanto Felix apertava os lábios, lembrando do vazio no peito que sentia cada vez que acordava desses pesadelos. Ele tinha Jisung ao seu lado agora, mas, ainda assim, era como se uma parte de si estivesse sempre distante.

"Eu tento segurar a noite enquanto você está dormindo perto de mim..."

As palavras eram um reflexo da noite anterior, do modo como ele se encolheu ao lado de Jisung na cama, tentando acalmar as lágrimas sem acordá-lo. O toque de Jisung o confortava, mas nunca o suficiente para apagar as cicatrizes invisíveis que Hyunjin havia deixado.

"Mas os seus braços são o que mais preciso nesse momento..."

O aperto no peito ficou mais intenso à medida que ele finalizava a frase. Seus dedos tremiam um pouco, e ele fez uma pausa, respirando fundo para controlar a onda de emoção que ameaçava transbordar ali, em pleno metrô.

Sabrina notou a tensão crescente em Felix, mas, respeitando o espaço dele, permaneceu quieta. Ela sempre soube que Felix guardava muito para si, e não queria invadir o que ele claramente tentava processar em silêncio. No entanto, seu olhar estava cheio de preocupação, percebendo o quanto o amigo estava se consumindo por dentro, mesmo que ele nunca admitisse em voz alta.

Felix fechou o diário com cuidado, guardando-o de volta na mochila com um suspiro pesado. Ele esfregou os olhos, tentando afastar a ardência das lágrimas que não conseguia derramar. Sabrina o observava em silêncio, e quando Felix finalmente levantou o olhar para ela, forçou um pequeno sorriso, como se quisesse garantir que estava tudo bem.

— Tudo certo? — Sabrina perguntou, a voz suave e compreensiva, sem qualquer pressão.

— Sim — Felix respondeu, a voz um pouco trêmula, mas ele se recompôs rapidamente. — Só... pensando.

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