Vinte e dois

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Felix desabou no chão da sala, as pernas fraquejando enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto. Ele mal conseguia processar o que acabara de acontecer. Hyunjin estava vivo. O homem que ele pensou ter perdido para sempre estava, de fato, ali. Mas envolvido em algo perigoso, algo que o afastara de Felix por tanto tempo. A mistura de alívio, medo e confusão apertava o coração de Felix de uma forma avassaladora.

Ele abraçou os joelhos, chorando baixo. A imagem de Hyunjin fugindo pela janela não saía de sua cabeça, como um pesadelo do qual ele não conseguia acordar. A presença dele ali, o toque frio e silencioso, as palavras crípticas sobre uma facção perigosa. Tudo isso o assustava, mas ao mesmo tempo... Hyunjin estava vivo. Isso o deixava maravilhado.

O tempo parecia ter parado, e Felix ficou naquele estado por algum tempo até ouvir o som da porta sendo destrancada. Ele levantou o olhar, os olhos ainda marejados, e viu Jisung entrando no apartamento. A expressão de Jisung mudou imediatamente ao ver Felix sentado no chão, pálido e com os olhos vermelhos de tanto chorar.

— Felix! — Jisung correu até ele, agachando-se ao seu lado e segurando seus braços. — O que aconteceu? Por que você está chorando assim? — O desespero na voz de Jisung era evidente.

Felix abriu a boca para falar, mas nada parecia fazer sentido. Ele estava tentando encontrar uma desculpa, algo que pudesse justificar o estado em que estava. Foi então que Jisung percebeu a janela quebrada.

— O que... — Jisung se levantou rapidamente e foi até a janela. — Alguém entrou aqui? — O tom dele ficou alarmado. — Felix, alguém invadiu o apartamento?

Felix piscou, o coração batendo ainda mais forte. A invasão era verdade, mas ele não podia contar a Jisung sobre Hyunjin. Não podia dizer a ele que o homem que ele pensava estar morto havia estado ali.

— Não... não... — Felix balançou a cabeça rapidamente, tentando soar convincente. — Foi só o vento. Ficou forte demais e a janela bateu com tudo. Eu estava perto, me assustei... só isso. — Sua voz saiu trêmula, e ele se odiou por estar mentindo para Jisung.

Jisung olhou para a janela quebrada e depois de volta para Felix. Ele parecia hesitar por um momento, mas então se ajoelhou novamente ao lado de Felix, envolveu-o em um abraço apertado, segurando-o firme.

— Você deve ter ficado apavorado... — Jisung murmurou, acariciando os cabelos de Felix. — Tudo bem, está tudo bem agora. Eu estou aqui.

Felix fechou os olhos, se permitindo descansar por um momento no abraço de Jisung. Ele estava exausto, tanto emocional quanto fisicamente. Sentia o corpo fraco, mas sua mente ainda estava presa na imagem de Hyunjin.

— Desculpa... foi só um susto... — Felix sussurrou, tentando esconder o tremor em sua voz. Ele sabia que aquilo não era justo com Jisung, mas o pedido de Hyunjin ecoava em sua mente: Não conte a ninguém.

Jisung se afastou um pouco, segurando o rosto de Felix entre as mãos.

— Está tudo bem, amor. — Ele sorriu, tentando acalmar Felix. — Vamos consertar essa janela e esquecer isso. Não quero que você fique assustado aqui.

Felix assentiu lentamente, sentindo-se ainda mais culpado. Ele mal conseguia processar que estava mentindo para a pessoa que o amava, mas algo dentro dele o impedia de trair o segredo de Hyunjin.

— Acho que preciso de um banho... — Felix murmurou, tentando escapar da situação. — Só... preciso me acalmar um pouco.

Jisung acariciou a bochecha de Felix e assentiu.

— Claro, vai lá. Eu vou dar uma olhada no telefone de emergência para chamar alguém pra consertar essa janela. — Ele se levantou, ainda lançando olhares preocupados para Felix.

Felix se levantou lentamente, sentindo o peso das emoções em cada passo enquanto ia para o banheiro. Fechou a porta atrás de si e olhou para o espelho, vendo o reflexo de seus olhos inchados e a expressão confusa. Ele respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado.

Hyunjin estava vivo.

E ele havia mentido para Jisung.

Felix não sabia como lidar com o peso dessas duas realidades.

Felix ficou muito tempo submerso na banheira, deixando a água quente tentar aliviar a tensão que dominava seu corpo. Ele suspirava, tentando acalmar a mente que rodava incessantemente com os acontecimentos das últimas horas. O vapor subia, embaçando as janelas do banheiro, mas a sensação de peso não deixava seus ombros. Felix massageava a nuca, tentando soltar os músculos doloridos, mas a tensão parecia entranhada em seu corpo.

Ele fechou os olhos e afundou um pouco mais na água, deixando-a cobrir suas orelhas. O som abafado do mundo ao redor era reconfortante, mas não o suficiente para acalmar seus pensamentos. Ele sabia que precisava sair do banheiro em breve, não queria que Jisung ficasse ainda mais preocupado. No entanto, uma parte dele relutava em encarar a realidade fora daquelas paredes. A realidade de que Hyunjin estava vivo... e de que ele estava usando uma aliança de compromisso com outra pessoa.

Felix abriu os olhos devagar e olhou para a aliança em seu dedo. A luz fraca do banheiro fazia o metal brilhar, mas o brilho parecia opaco aos seus olhos agora. Ele girou o anel lentamente no dedo, sentindo o peso simbólico que ele carregava. Antes, a aliança representava um novo começo com Jisung, uma tentativa de seguir em frente depois de perder Hyunjin. Mas agora, sabendo que Hyunjin estava vivo, a aliança parecia estranha... deslocada.

— Como posso usar isso...? — Felix sussurrou para si mesmo, o olhar preso no anel. — Se Hyunjin está vivo... — Ele parou, sentindo a garganta apertar com a confusão que o consumia.

Até aquele momento, Felix acreditava ser viúvo, o que justificava seu relacionamento com Jisung. Ele tentou seguir em frente, como qualquer um faria depois de uma perda devastadora. Mas agora... agora tudo estava diferente. Ele se sentia preso entre dois mundos: um no qual Hyunjin estava morto e ele poderia reconstruir sua vida, e outro no qual Hyunjin estava vivo, e tudo o que Felix sentia por ele ainda estava lá, pulsando.

Ele suspirou mais uma vez, o som abafado no banheiro ecoando como um reflexo do tumulto dentro de sua mente. Por mais que gostasse de Jisung e o carinho entre eles fosse real, a presença de Hyunjin mudava tudo. A aliança em seu dedo parecia um fardo agora, como se fosse uma mentira.

Felix afundou mais uma vez as mãos na água, cobrindo o rosto, tentando afastar a confusão e o medo. Ele sabia que precisava de mais tempo, mas o tempo parecia não estar ao seu favor. Eventualmente, ele teria que sair dali, colocar um sorriso no rosto e encarar Jisung, fingindo que tudo estava bem, quando por dentro, tudo estava se despedaçando.

Com um último suspiro, ele decidiu que era hora de sair. A água já começava a esfriar, e ele não podia mais se esconder naquele refúgio. Felix se levantou lentamente, deixando a água escorrer de seu corpo, e pegou a toalha. Enquanto secava o rosto, ele olhou mais uma vez para a aliança, e por um segundo, pensou em tirá-la. Seus dedos chegaram a tocar o anel, mas ele hesitou.

— Não... ainda não. — Ele murmurou para si mesmo. Não sabia o que fazer com aquilo, então, por enquanto, deixaria onde estava.

Felix se vestiu, jogando uma camiseta larga sobre o corpo, e se preparou para sair do banheiro. O peso no peito não havia diminuído, mas ele sabia que precisava ao menos tentar parecer bem para não preocupar Jisung. Com mais um suspiro, ele abriu a porta, pronto para encarar a realidade fora do banheiro.

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