Cinco

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Felix estava na cozinha, picando legumes com precisão enquanto o aroma de temperos já preenchia o ar. Cozinhar sempre o ajudava a relaxar, e depois de um longo dia na companhia de dança, ele só queria preparar algo gostoso para ele e Jisung. Ouviu o som familiar da porta se abrindo, e logo em seguida, o barulho suave das chaves sendo deixadas sobre a mesa no corredor. Um sorriso imediato surgiu em seus lábios.

— Oi, amor — Felix disse com doçura, largando a faca sobre a bancada e se aproximando de Jisung.

Ele lhe deu um selinho, um gesto simples, mas que continha uma intimidade que eles haviam construído ao longo do tempo. No entanto, ao olhar nos olhos de Jisung, Felix notou a seriedade em seu rosto, algo que havia estado presente desde a manhã. Ele fez um pequeno biquinho, típico quando estava tentando descontrair o clima.

— Ainda pensando na nossa conversa? — Felix perguntou, com a voz suave, enquanto voltava para o balcão para continuar preparando o jantar.

Jisung suspirou profundamente, como se estivesse carregando um peso que não conseguia soltar. Ele encostou-se na bancada da cozinha, cruzando os braços. Seus olhos estavam fixos no chão, mas era claro que sua mente estava longe.

— Eu não consigo parar de pensar — Jisung finalmente respondeu, a voz baixa, quase hesitante. — É como se... eu estivesse sempre esperando algo que nunca vem, entende?

Felix parou o que estava fazendo, sentindo o desconforto de Jisung no ar. Ele não gostava de ver o namorado daquele jeito, mas, ao mesmo tempo, não sabia exatamente como ajudar. Ele se aproximou de novo, desta vez mais lentamente, colocando a mão sobre o braço de Jisung.

— Eu não sei o que dizer... — Felix murmurou, a sinceridade em suas palavras era palpável. Ele o puxou para um abraço apertado, deixando que o calor entre seus corpos falasse por ele.

Jisung deixou-se afundar no abraço de Felix, apoiando a cabeça no ombro dele, os olhos fechados. Por mais que quisesse respostas, ele também sabia que não era tão simples. Ainda assim, sentia que precisava expressar o que estava dentro dele, mesmo que não esperasse que Felix tivesse uma solução imediata.

— Eu só... — Jisung começou, sua voz abafada pelo ombro de Felix. — Eu sinto que nunca vou ser o suficiente. Eu sei que você se importa comigo, Felix. Eu sei disso. Mas você nunca diz que me ama. E eu não tô pedindo isso como uma cobrança, mas... às vezes me faz pensar que você ainda tá preso no passado, sabe? Que talvez eu nunca vá realmente ocupar o lugar do Hyunjin pra você.

Felix fechou os olhos por um momento, sentindo o peso das palavras de Jisung. Ele sabia que esse era um assunto delicado, algo que ele próprio evitava pensar. Mas agora estava ali, diante deles, e ele precisava lidar com isso.

— Jisung... — Felix sussurrou, ainda mantendo-o nos braços. — Eu... eu gosto muito de você. De verdade. E eu sei que "gostar" não é a mesma coisa que "amar", e talvez... talvez eu não tenha falado isso porque... — Ele hesitou, procurando as palavras certas. — Eu tenho medo. Medo de amar de novo. Medo de perder de novo. O Hyunjin... ele era tão importante pra mim, e perder ele me destruiu.

Jisung ergueu a cabeça, olhando para Felix com olhos cheios de compreensão, mas também de dor.

— Eu entendo o seu medo, Felix. De verdade. Mas eu tô aqui. Eu tô com você agora. Eu não sou o Hyunjin, eu sei disso, e não quero competir com a memória dele. Só quero que você me veja. Que veja que eu tô aqui, do seu lado, querendo construir algo com você.

Felix engoliu em seco, seu coração apertado. Ele sabia que Jisung estava certo, e odiava a ideia de estar ferindo alguém que era tão bom para ele, alguém que estava tentando fazer parte de sua vida de verdade. Mas as cicatrizes do passado ainda estavam ali, profundas, e ele ainda estava tentando descobrir como seguir em frente.

— Eu vejo você, Jisung — Felix sussurrou, sua voz carregada de emoção. — E eu me importo com você. Mais do que eu consigo explicar. Eu só... eu preciso de tempo. Pra processar tudo isso. Mas por favor, saiba que você é importante pra mim. Eu só... não quero te magoar, e não quero te perder.

Jisung suspirou, ainda sentindo um peso no peito, mas reconhecendo o esforço de Felix em tentar ser honesto.

— Eu só preciso saber que eu tenho uma chance. Uma chance de ser essa pessoa pra você, Felix. — Jisung murmurou, antes de afundar de novo no abraço de Felix.

Felix o apertou ainda mais, respirando fundo, tentando encontrar algum alívio na presença de Jisung. Eles ficaram ali, em silêncio por alguns minutos, o som suave da panela no fogão sendo o único ruído na casa. Era um momento de conexão, mas também de incertezas.

— Você tem essa chance, Jisung. — Felix finalmente disse, baixinho, sem soltar o namorado. — Eu prometo. Eu só preciso de tempo.

Jisung assentiu levemente, sentindo o calor do abraço de Felix ao seu redor. Era o suficiente por enquanto, mesmo que a dúvida ainda estivesse ali. Era um começo, e talvez, com o tempo, as palavras que ele tanto esperava ouvir pudessem vir.

Felix, por sua vez, sabia que estava numa encruzilhada. Ele queria seguir em frente, queria amar de novo. E olhando para Jisung, sabia que talvez aquele fosse o momento de tentar.

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