Dois

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Na manhã seguinte, a luz suave do sol entrava pela janela da cozinha, iluminando os contornos de Felix e Jisung sentados à mesa do café da manhã. O silêncio entre eles era quase palpável. Jisung mantinha os olhos fixos na xícara de café que girava lentamente entre seus dedos. Felix sentiu um aperto no peito, sabia que Jisung estava cansado. Embora ele nunca dissesse, a tensão no ar era inegável. As noites intermináveis em que Felix revivia o mesmo pesadelo haviam começado a pesar.

Felix olhou para Jisung de soslaio. Ele não queria magoá-lo, mas também não podia controlar os sonhos que o assombravam. Felix sabia que Jisung era um cara incrível. Paciente, carinhoso, sempre estava lá quando Felix acordava gritando no meio da noite. Mas o sorriso de Jisung agora era pequeno, quase forçado, enquanto tentava manter a compostura.

Finalmente, Jisung quebrou o silêncio com um sorriso leve e uma tentativa de normalidade.

— Dormiu bem depois? — Ele perguntou, levantando os olhos de sua xícara para Felix.

Felix hesitou antes de responder, sentindo a culpa pesar. Ele sabia o que Jisung queria dizer sem precisar colocar em palavras: Dormiu sem sonhar com ele?

— Um pouco — Felix respondeu, tentando manter a voz neutra, embora soubesse que Jisung notaria sua hesitação. — Eu... estou tentando melhorar, sabe?

Jisung assentiu, mas seu sorriso não alcançou os olhos.

— Eu sei, Felix. — Ele respirou fundo e olhou pela janela, observando o movimento lento da manhã. — Eu só... às vezes eu me pergunto se... — Ele parou, como se tivesse dito demais.

Felix sabia o que ele queria dizer. Jisung não precisava terminar a frase. Será que algum dia Felix conseguiria deixar o passado para trás? Será que ele algum dia deixaria Hyunjin descansar em paz?

— Jisung... — Felix começou, sentindo o peso da conversa se aproximar como uma nuvem densa. — Eu gosto de você. Muito. Você sabe disso, não sabe?

Jisung olhou para ele e deu um sorriso triste.

— Eu sei, Felix. E eu amo você — Ele pousou a xícara na mesa e estendeu a mão para segurar a de Felix. — Mas... às vezes, eu sinto que há uma parte sua que ainda está lá... com ele. E não sei se algum dia vou conseguir te alcançar de verdade.

Felix apertou a mão de Jisung, sentindo a dor que as palavras carregavam. Ele sabia que Jisung estava certo, mas era difícil admitir.

— Eu sinto muito — Felix disse, sua voz baixa. — Eu nunca quis que fosse assim. Você merece mais do que isso, mais do que eu consigo dar agora...

Jisung balançou a cabeça, tentando evitar que a tristeza tomasse conta.

— Não estou pedindo para você esquecer, Felix. Não sou idiota, sei que perder alguém assim... é impossível esquecer. Só quero saber se algum dia você vai conseguir viver sem estar preso ao que aconteceu. Se algum dia vai haver espaço para nós dois, sem as sombras.

Felix sentiu um nó na garganta, e suas mãos tremiam levemente. Ele queria prometer a Jisung que sim, que um dia seria diferente. Mas ele não tinha essa certeza.

— Eu... estou tentando. Juro que estou tentando.

Jisung apertou a mão de Felix uma última vez antes de soltá-la.

— Eu sei que você está. — Ele sorriu levemente, mas seu olhar estava distante. — Eu só espero que um dia seja suficiente.

O silêncio voltou a se instalar entre eles, e Felix olhou para a xícara de café que esfriava em suas mãos. Ele não sabia o que dizer para acalmar Jisung, e o medo de perdê-lo começava a crescer em seu peito. Hyunjin ainda estava lá, em seus sonhos, mas Felix temia que, se não conseguisse deixar o passado para trás, Jisung também acabaria sendo apenas uma sombra em sua vida.

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