Doze

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Naquela noite, a mesa de jantar estava posta com pratos simples, algo que Felix tinha preparado rapidamente após voltar do ensaio. O cheiro de macarrão com molho de tomate preenchia o pequeno apartamento, e o som dos talheres batendo nos pratos era a única coisa que quebrava o silêncio no início do jantar. Jisung estava sorridente como de costume, mexendo na comida enquanto olhava para Felix com animação.

— Você já pensou onde quer ir para comemorar o nosso aniversário de namoro? — Jisung perguntou de repente, a voz carregada de entusiasmo.

Felix ergueu os olhos de seu prato e forçou um pequeno sorriso, tentando manter a conversa leve.

— Ah, qualquer lugar está bom pra mim — respondeu, dando de ombros, sem realmente pensar na resposta.

Jisung, no entanto, não percebeu o tom despreocupado de Felix. Ele estava animado demais, já planejando todos os detalhes em sua cabeça. Começou a listar os restaurantes mais populares da cidade, enquanto gesticulava com a mão livre.

— Pensei em algo especial, sabe? Tem aquele restaurante italiano que todo mundo fala... ou o francês, que é bem sofisticado. Eu sei que você gosta de coisas mais tranquilas, então também tem aquele lugar que serve comida caseira, super aconchegante. Ah, e tem aquele outro, como chama mesmo...? — Jisung fez uma pausa, tentando lembrar o nome, mas logo sorriu. — Ah, lembrei! O Le Bleu! Aquele que fica no centro, lembra?

No instante em que Felix ouviu o nome "Le Bleu", seu corpo enrijeceu. Aquele nome o atingiu como um soco no estômago, e as memórias vieram à tona de forma avassaladora. Era o restaurante onde ele e Hyunjin tinham jantado na noite do acidente. O último lugar em que estiveram juntos. Felix sentiu o ar escapar dos pulmões por um segundo, e, antes que pudesse se conter, as palavras saíram rápidas e secas de sua boca.

— Não.

Jisung parou no meio da frase, piscando, surpreso com a reação repentina de Felix. O sorriso em seu rosto vacilou.

— Não? — repetiu, confuso. — Mas... por quê? Você nem pareceu pensar.

Felix percebeu que tinha sido ríspido demais, e imediatamente tentou suavizar o tom. Ele sabia que Jisung não fazia ideia do que aquele restaurante significava para ele, e não era justo descontar nele. Respirou fundo, tentando não deixar a emoção transparecer.

— Eu só... não acho que seja uma boa ideia, Jisung — disse, desviando o olhar e mexendo no macarrão com o garfo. — Prefiro outro lugar. Qualquer outro lugar.

Jisung inclinou a cabeça, claramente intrigado. Ele estava apenas tentando fazer algo especial, e agora parecia que qualquer coisa que sugerisse seria rejeitada. Ainda assim, ele respeitou o limite que Felix impôs, mesmo sem entender completamente o motivo.

— Tudo bem — Jisung disse com um sorriso meio forçado, tentando manter o clima leve. — Podemos ir para outro lugar. Não tem problema.

Mas o desconforto pairava no ar. Jisung sentiu que havia algo mais por trás daquela reação, algo que Felix não estava disposto a compartilhar. Ele tentava ser compreensivo, mas não podia evitar a leve sensação de frustração. Depois de quase um ano juntos, Felix ainda guardava partes de si mesmo, pedaços que Jisung nunca conseguia alcançar.

O silêncio voltou a dominar a mesa, e Felix sentia o peso da situação nas entrelinhas. Ele sabia que deveria dizer algo, talvez explicar o porquê da sua recusa, mas as palavras não vinham. Falar sobre Hyunjin com Jisung era um território delicado, algo que ele tentava evitar o máximo possível. Ele olhou para Jisung, que agora estava concentrado em seu prato, forçando um sorriso para disfarçar o desconforto.

Felix apertou os lábios e abaixou os olhos novamente, mexendo a comida no prato de forma distraída.

— Desculpa se eu fui seco — murmurou finalmente, sem coragem de encará-lo diretamente.

Jisung olhou para ele por um segundo e deu de ombros, tentando parecer despreocupado.

— Tá tudo bem, Felix. A gente pode escolher outro lugar, sem estresse.

O esforço de Jisung para não demonstrar frustração partiu o coração de Felix. Ele sabia que Jisung estava tentando ser paciente, mas Felix também sabia que havia limites para essa paciência. Uma parte de si queria se abrir, explicar por que aquele restaurante era um gatilho tão doloroso, mas as palavras ficaram presas em sua garganta.

Felix forçou outro sorriso.

— Obrigado por entender.

Mas no fundo, ambos sabiam que havia muito mais por trás daquele simples "não". O que Felix não conseguia dizer, e o que Jisung não ousava perguntar, pairava no ar como um peso invisível. Felix sentia-se sufocado, dividido entre o passado e o presente, sem saber como equilibrar os dois.

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