Pov. Mikaela.
Semanas se passaram desde que voltei para Ridgeville. Minha mala de armas chegou dez dias depois de mim, já que teve toda a burocracia de ser parada na alfândega. Vovó fez minha matrícula na Woodland High School. Queria tanto já ter terminado o ensino médio. Logo teria que ir para aquele hospício que chamam de escola, aposto que vai ser um porre, já que estamos no final de março.
Toda aquela baboseira de "Guys, essa é a nossa nova aluna! Senhorita Jones apresente-se por favor!"
"Salut, meu nome é Mikaela Jones, eu não queria estar nessa fodida escola de merde, mas aqui estou eu, para a infelicidade de vocês!"
Não foi pra isso que eu vim pra cá.
Deitada encarando o teto, com os fones de ouvido na altura máxima. O que vai ser melhor? Uma facada? Um tiro? Acônito? Tantas ideias boas, por que escolher só uma?
Vejo a porta de madeira se abrir pela minha visão periférica. Tia Adelle entrou no meu quarto sem bater, outra vez.
– Sua avó está chamando, não ouviu? - Ela me encarava brava. – Claro que não, fica com essa merda o tempo inteiro! – Aquelas palavras me acertaram como um soco no estômago, mas um soco no estômago de verdade doía bem menos.
Sei que não posso bufar e revirar os olhos se não tomarei outra bronca.
Lá vou eu, fazendo o que ela quer, outra vez.
Levanto-me já me arrependendo de ter cedido a ela. Desço as escadas até o segundo andar e vou até a sala onde minha querida avó estava de pé. Ela se virou ao ouvir meus passos, um sorriso brilhou em seus lábios.
– O que foi, Vovó?
– Quero te dar uma coisa, venha comigo – ela pega minha mão. Reparo que ela não está mais usando a aliança desde a última vez que a vi. Minha avó saiu pela porta da frente me puxando pelo caminho de pedregulhos.
Do lado da árvore vejo uma motocicleta preta que refletia a luz do sol.
– É uma Falcon – diz me fitando –, era do seu pai.
As iniciais JJ, de Jacob Jones, estavam gravadas na lataria.
– É muito bonita, tá bem conservada – declaro.
– É sua – encaro a velha que sorria. – Seu pai gostaria que fosse sua.
Então é por isso que Adelle me fez tirar carta de moto aos dezesseis anos.
Vou até a motocicleta e sento no banco de couro, dou partida e ela ronca como um animal feroz.
– Vai, dá uma volta, se divirta – comenta me dando um óculos de sol. Eu ainda estava parada encarando-a quando ela entrou em casa, fechando a porta.
Coloco os óculos escuros e acelero. A motocicleta começa andar e tenho que lembrar de ter equilíbrio para não acabar ralando minha carinha linda no asfalto. O dia estava calmo, o vento batia em meus cabelos fazendo-os enrolarem, vi algumas crianças passeando com seus cachorros, um velho cuidando do jardim, algumas pessoas fazendo churrasco, coisas normais de uma cidade pequena.
Sinto falta de Paris. Caminhar nas margens do Sena pela manhã. Escalar os canos de um edifício qualquer só para poder admirar a Torre Eiffel toda iluminada. Ou até passear pelo Louvre em uma tarde qualquer.
Cheguei na frente do Carter's Fast Stop para abastecer a moto. Duas bombas vazias, vou até uma delas, passo meu cartão na máquina e coloco a mangueira no tanque.
Uma coisa que eu adorava em Paris era que ninguém te julgaria por andar quilômetros a pé e que a escola que eu frequentava não ficava assim, tipo...Na puta que pariu igual aqui.
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A Caçadora Vermelha
RomancePara todos aqueles que redescobriram a magia dos contos de fadas e se apaixonaram por 'Enemies to Lovers', este livro é dedicado para vocês. Mas antes de mergulharem novamente nesse universo, eu tenho um recado muito importante: A netinha nunca cheg...