Pov. Mikaela.
Adelle me contesta por que Louis estava indo embora com um olho roxo, ela ouve o que eu tinha para falar e aceita, não me questiona, não me abraça tentando me acolher, ela dizia que as mulheres Chasseur não precisavam ser acolhidas, pois eram fortes demais. Eu não precisava ser acolhida, aprendi sozinha a não precisar.
Minha tia apenas encosta na porta do meu quarto e sorri. Ela era uma mulher jovem, tinha apenas trinta e quatro anos, se parecia bastante comigo, por mais que seus olhos não fossem verdes, isso eu havia adquirido de minha mãe, Marlene Black. Os olhos de Adelle eram castanhos como seu cabelo.
– Essa foi a mulher que eu criei. Destemida e imparável.
Sorrio de volta segurando as pontas para não desmoronar.
– Com certeza sou imparável.
. . .Fico encarando minhas malas, cheias de roupas e pertences, mudar de país não era brincadeira, olho para a lista em minhas mãos, quase todas as coisas estavam marcadas com um X.
As únicas coisas que faltavam eram minhas armas, meu arco com a aljava de flechas, meus dois revólveres carregados com balas de prata. Os lobisomens não eram alérgicos a prata como algumas versões dizem, a questão era que a prata fazia o sangue deles parar de coagular, morriam muitas vezes de hemorragia e era por isso que nós a usávamos.
Pego minhas adagas gêmeas de prata que ganhei no meu aniversário de 15 anos, elas tinham minhas iniciais, como todas as minhas armas. As facas estavam guardadas junto com o isqueiro na mala de armas.
Eu estava deixando algumas coisas para trás, como as roupas de aspecto muito francês, em Ridgeville eu precisava parecer normal.
– Antes de irmos, sabe o que precisamos fazer não é? – Adelle estava na porta, parecia indefesa, mas eu sabia que ela não saia de casa sem armas. – A capa é muito chamativa para isso.
Tiro ela de meus ombros e a guardo na mala.
. . .Domingo, Saint-Chapelle, uma capela gótica extremamente detalhada, na minha opinião era um dos pontos mais belos de Paris.
O relógio tocou, em breve a missa começaria, várias pessoas se aglomeravam na entrada da igreja, nós duas fomos as últimas.
Quando adentro, molhei meu dedo na água benta e faço o sinal da cruz. Adelle faz o mesmo e se curva rapidamente.
– Acho um pouco, sabe, bem pouquinho hipócrita, você fazer o sinal da cruz dentro de uma igreja carregando armas – cochicho.
Nos sentamos no banco, na última fileira.
– Sabe o que eu acho mais hipócrita ? - cochicha de volta. – Você entrar em um lugar sagrado vestida como uma vadia.
Zut alors.
Que tapa!
Eu estava vestindo botas de salto, calça preta, camiseta vermelha de alcinha e jaqueta de couro. Talvez estivesse mesmo parecendo uma vadia. Eu me magoei com aquele comentário, ela era a única que conseguia me tirar do sério em questão de segundos.
– Aliás, o que matamos é abominado pela igreja, então tá tudo bem – completa.
Ia retrucar, mas me calo quando o padre começou a falar. Escutei atentamente a missa toda, se eu já estava ali, não iria desrespeitar, eu acreditava em Deus, mas também acreditava no sobrenatural. Seguro meu talismã durante a missa toda. Era até devota de um santo.
Adelle foi até o padre receber a hóstia, já eu fiquei sentada, eu era uma assassina, mesmo de sobrenaturais, mas era uma assassina, e pelo menos na minha consciência eu não tinha direito de receber aquela benção.
A mulher que me criara voltou em silêncio com a cabeça baixa e se ajoelhou, confessando seus pecados. Matei uns vampiros aqui, uns lobisomens ali, umas bruxas para cá, mas não importa não é? Estou tirando todo o mal do mundo.
A missa tinha acabado, eu entreguei meu folheto para as crianças que ajudaram na missa e Adelle ainda estava lá, encarando o padre. Revirei os olhos.
– Vamos.
– Nossa – digo – achei que fosse confessar todos os seus pecados para o padre, oh não, melhor, como você é uma hipocrisia ambulante achei que estaria se pegando com o padre, ou talvez, oh meu Deus, uma freira!
Ela me encara brava e eu sorrio vitoriosa.
– Mathis fica muito...bem na batina e que seja só eu a hipócrita ambulante, porque aqueles olhos azuis caribe de Thomas Fenrir já te deixaram hipnotizada uma vez!
– Eu tinha o que? Onze anos? E também não sabia que ele era o assassino de meus pais, nunca vou ficar hipnotizada por ele, só na hora de sua morte, quando eu contemplar o horror em sua face.
Adelle revira os olhos.
– É o que veremos.
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A Caçadora Vermelha
RomansaPara todos aqueles que redescobriram a magia dos contos de fadas e se apaixonaram por 'Enemies to Lovers', este livro é dedicado para vocês. Mas antes de mergulharem novamente nesse universo, eu tenho um recado muito importante: A netinha nunca cheg...