Pov. Mikaela.
Escuto algumas batidas secas, tento me mexer e percebo algo pesado em cima de mim, seria esse o manto da morte? Abro os olhos piscando várias vezes para me acostumar com a claridade. As lembranças me vem à cabeça, eu estava morrendo, mas agora eu nem estava mais naquela casa.
Eu sobrevivi.
Olho em volta, era um quarto decorado com preto e cinza, eu estava deitada numa cama enorme com um edredom negro em cima de mim e no teto uma Lua Cheia com estrelas fluorescentes.
Uma bateria no canto do quarto e uma guitarra com raios pendurada na parede. Levanto-me da cama e vou em direção ao banheiro que havia no cômodo. Um grande espelho pendurado acima da pia mostrava meu reflexo, impecável, como se a noite passada não tivesse acontecido. Puxei a blusa para cima. Nada. Abaixo o short. Nenhum arranhão na coxa, nem minha cicatriz. Nem mesmo a da cirurgia de apendicite.
Que porra...?
As roupas que eu estava usando não eram as minhas.
Ouço novamente as batidas secas e olho para a porta fechada, corro até ela, estava destrancada. A porta dava num corredor repleto de quadros e o que mais me chamou a atenção era de um casal. A mulher de vestido azul claro, sua pele morena clara como a minha, sorria com os lábios rosados e de olhos fechados, os cabelos castanhos chegavam na cintura. A mulher estava sendo abraçada por trás por um rapaz que mantinha as mãos na sua barriga O homem era alto, vestido dos pés a cabeça de roupas pretas, pele pálida, cabelos negros e olhos azuis.
Olhei na pequena legenda embaixo. Katherine e Lúcius Fenrir. Os pais de Thomas. O lobisomem tinha praticamente tudo de seu pai, a pele, os cabelos e principalmente os olhos, mas o sorriso era de sua mãe. O sorriso de verdade o qual eu o vi enquanto tocava sua guitarra no palco sem nem saber da minha existência, não aquele sarcástico que sempre se dirigia a mim.
O sorriso sarcástico que eu tinha que ficar longe com certeza veio do quadro ao lado, de um homem muito parecido com Thomas e seu pai, um homem que se chamava Órion Fenrir.
Continuei andando até achar uma grande escada, que acabava em um cômodo gelado. A casa parecia ter parado no tempo há duzentos anos, mas também trazia certos luxos do século XXI. Olhei para o lado e avistei uma cozinha, meu estômago ronca. Peguei uma maçã na fruteira e as batidas ainda não pararam, elas pareciam vir lá de fora. A casa estava gelada por completo, isso era bem estranho já que estamos no verão.
Avistei o faqueiro e roubei uma faca que estava bem afiada, eu não era burra de ir lá fora desarmada. Eu voltei a ser eu, não estava mais sob influência sentimental alheia. Não tinha nenhum Bicho Papão aqui. Continuei andando pela casa até achar uma porta dupla de madeira enorme que devia ser a saída.
Com um puxão as portas se abriram, ao olhar para cima dou de cara com uma aldrava de prata em formato de lobo. Passei pelo batente e com uma lufada de vento as portas se fecharam atrás de mim, dou um pulinho.
Sabe uma daquelas casas enormes no meio do nada onde famílias burras compram da imobiliária por um preço mixuruca em filmes de terror?
A grama verde destacava uma fonte de água com imensos lobos jorrando o líquido transparente pela boca, aos arredores da casa uma flor roxa nascia.
Acônito.
Não esperava ver acônito na casa de Thomas, isso parecia meio...sei lá, errado? A planta lobo era um veneno mortal se manuseado de maneira errada, mas eu também li sobre registros em que alguns lobisomens se drogavam com ela.
Peguei algumas pétalas e as esfreguei na faca até uma pequena fração de líquido violeta sair. Seguia o caminho de pedregulhos e pude perceber que olhando de longe a casa era realmente enorme. Uma mansão. É claro que ele tinha que morar em uma mansão. Atrás dela tinha uma floresta, o caminho de pedras se embrenhava em meio às árvores e eu segui por ele.
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A Caçadora Vermelha
RomancePara todos aqueles que redescobriram a magia dos contos de fadas e se apaixonaram por 'Enemies to Lovers', este livro é dedicado para vocês. Mas antes de mergulharem novamente nesse universo, eu tenho um recado muito importante: A netinha nunca cheg...