Capítulo 28

4 2 0
                                    

• - - - - - - - - - - - - • Judy • - - - - - - - - - - - - •


O dia do festival está cada vez mais perto, e quanto mais ele se aproxima, mais ansiosa eu fico. O violino tem sido meu único foco, mas mesmo enquanto pratico, minha mente insiste em divagar. Jaxon. Ele anda distante, como se estivesse me evitando de propósito. Não que eu o procure de verdade. Decidi dar espaço a ele, deixar as coisas se resolverem sozinhas, mas isso não impede que cada vez que o vejo nos corredores, meu coração acelere um pouco, mesmo que ele não olhe para mim.

Quando meus amigos falam sobre ele — o famoso jogo entre Jaxon e Kaz ainda sendo comentado —, eu apenas escuto. Não dou minha opinião, porque o que poderia dizer? Que há algo no jeito que ele me olha, mesmo de longe, que me faz sentir que tem algo mais acontecendo? Algo que talvez ninguém entenderia? Eu não tenho as respostas, então só fico quieta, como se estivesse tentando juntar as peças de um quebra-cabeça complicado demais para resolver agora.

Hoje, eu decido ir para o ensaio de bicicleta. Faz um bom tempo que não uso a bike. O vento no rosto ajuda a limpar a mente, nem que seja por um momento. Tudo está indo bem até que, de repente, o inesperado acontece. Eu não sei dizer exatamente como aconteceu, mas meu corpo é jogado ao chão e o som que vem depois é ainda pior: o violino. Meu violino. O som de madeira quebrando ecoa nos meus ouvidos.

Eu olho para o chão, e meu coração para. Lá está ele, meu violino, partido, destruído. A dor é instantânea, um aperto no peito tão forte que me faz perder o fôlego. Não me importo com as escoriações nos meus joelhos, com o sangue que escorre pelo meu braço. O violino está em pedaços.

Eu choro. As lágrimas vêm rápidas, sem controle. Eu tento pegar os pedaços, como se houvesse alguma maneira de consertá-los, mas sei que não há. Tudo o que trabalhei, todo o esforço, os ensaios, o festival... tudo parece desaparecer com cada lasca de madeira quebrada.

De repente, sinto uma presença ao meu lado. Levanto o rosto e vejo Jaxon. Ele me olha com uma expressão séria, mas há algo nos olhos dele que me faz sentir que ele entende. Ele não diz nada no início, apenas se ajoelha ao meu lado e pega delicadamente um dos pedaços do violino.

— Judy... — A voz dele é baixa, quase um sussurro, mas de algum modo, ela me faz parar de chorar por um instante.

Eu não consigo falar, ainda estou em choque. Meus dedos ainda tentam pegar os pedaços de madeira, como se fosse possível juntar tudo de novo. Jaxon, então, deixa o pedaço de violino no chão e me abraça.

No início, eu fico tensa, surpresa. Mas depois... depois eu simplesmente aceito o abraço dele. Eu sinto o calor do corpo dele, a força no jeito que ele me segura, como se estivesse me protegendo de alguma coisa, até mesmo de mim mesma.

E, naquele momento, algo dentro de mim se acalma.

— Vai ficar tudo bem — ele diz, com a voz rouca.

Eu quero acreditar nele, mas olhando para o violino quebrado, não consigo. Mesmo assim, não o empurro, não o afasto. Pela primeira vez em muito tempo, eu me permito ser consolada. Por ele.

Nós ficamos assim por um tempo, no meio da calçada, cercados pelos pedaços de um sonho partido, mas de alguma maneira, o abraço de Jaxon me dá força. Uma pequena fagulha de que, talvez, as coisas possam ser remendadas, mesmo que nunca voltem a ser como antes.

Jaxon se afasta um pouco e me encara. Ele enxuga minhas lágrimas delicadamente e força um sorriso. 

— Vai ficar tudo bem. Nem tudo está perdido. — ele diz. 

— Quero acreditar em você, mas... e o festival? Faltam apenas três dias. O que vou fazer? 

Eu o observo enquanto ele se abaixa para pegar cada pedaço do meu violino destruído, e meu olhar vai até a minha bicicleta. O pneu está furado. Deve ter sido isso. O motivo do acidente.

Eu suspiro, um tanto derrotada, mas algo na presença de Jaxon faz com que a sensação de desespero diminua. Ele se levanta e, quando percebe as feridas nos meus joelhos e cotovelos, imediatamente me ajuda a ficar de pé, colocando meus braços ao redor dos ombros dele.

— Vamos deixar sua bicicleta em algum lugar seguro — ele diz, com uma determinação silenciosa. Eu apenas concordo com a cabeça.

Deixamos a bicicleta em um canto perto da rua, encostada em uma árvore, e Jaxon me coloca na moto dele. O toque firme de suas mãos quando ele me ajuda a subir, o barulho da moto ligando — tudo é um borrão de emoções que não consigo organizar. 

— Não quero ir para casa. Minha mãe vai ficar preocupada se encontrar o violino assim. Leva-me para outro lugar, por favor. — imploro. 

— Pra minha casa. — responde ele. 

— Ótimo. 

Ele me olha por um segundo, como se estivesse considerando as implicações disso, mas não discute. Ele só acelera e logo estamos em direção à casa dele.

Quando chegamos, a casa está vazia, a mãe dele saiu. Entramos no quarto dele, e a sensação de estar sozinha com ele, nesse espaço tão pessoal, faz algo se revirar dentro de mim. O cheiro do quarto de Jaxon é tão... ele. Eu mal consigo descrever. Um misto de algo limpo, fresco, misturado ao leve cheiro de couro e... madeira. É como se o ambiente inteiro estivesse carregado da presença dele, e eu mal consigo respirar.

Ele me observa com um olhar preocupado, examinando minhas escoriações. Sem dizer muito, vai até uma pequena caixa de primeiros socorros e começa a limpar minhas feridas com cuidado. Suas mãos são firmes, mas gentis, e, ao me tocar, é como se uma descarga elétrica percorresse em cada célula do meu corpo. 

Fico observando-o de perto, os traços do seu rosto, o jeito que ele franze o cenho enquanto se concentra. Algo dentro de mim está crescendo, algo que não consigo mais controlar. Há uma tensão palpável no ar, uma mistura de medo e desejo.

E então, de repente, ele se afasta. Como se estivesse tentando ganhar distância. Como se precisasse desesperadamente de espaço.

— Por que você está sempre fugindo? — pergunto, minha voz mais alta do que eu esperava. — Eu sei que você não quer isso. Sei que quer o oposto, então por que...?

Ele suspira, passando a mão pelos cabelos, claramente tenso.

— Eu tenho meus motivos, Judy.

— Me dá pelo menos um. Um motivo.

Jaxon me olha com intensidade, sua voz baixa e carregada de uma emoção que me atinge profundamente.

— Se eu começar... não sei se consigo parar.

Eu me aproximo, o coração batendo forte, os olhos fixos nos dele. Sinto uma coragem que não sei de onde vem, mas que não consigo controlar.

— Então não para — sussurro, minha voz quase tremendo.

Jaxon fecha os olhos por um momento, como se estivesse lutando contra algo dentro de si, e quando os abre, eles estão cheios de uma intensidade que me faz estremecer.

— Judy, não diga isso. Eu sou uma bomba-relógio perto de você.

Eu o beijo. Sem pensar, sem hesitar.

O mundo para. Não há mais violino quebrado, não há mais preocupações ou mágoas. Só há ele, e o toque de seus lábios nos meus. No início, ele parece surpreso, mas, em segundos, ele retribui. É como se toda a tensão que existia entre nós tivesse finalmente explodido. Seus braços me puxam para mais perto, como se estivesse tentando me fundir a ele, e eu me perco completamente naquele momento, naquele beijo.

Nada mais importa.

O Amor é feito de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora