Capítulo 36

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• - - - - - - - - - - - - • Judy • - - - - - - - - - - - - •

O grande dia do festival finalmente chegou. Eu acordei sentindo um misto de ansiedade e nervosismo, como se algo enorme estivesse prestes a acontecer. Minha mente estava acelerada, pensando no que estava por vir, no piano esperando por mim no palco, e se eu realmente seria capaz de tocar novamente diante de tanta gente. Tentei não pensar em Elis, eu prometi a mim mesma, para conseguir chegar perto do piano. E prometi a Jaxon que tentaria. 

Jaxon veio me buscar antes do evento. Assim que me viu, ele sorriu e me deu aquele abraço reconfortante que só ele conseguia. Eu estava usando um vestido que escolhi com tanto cuidado. Ele era longo, num tom de azul celeste, fluido, com uma leveza que me fazia sentir como se estivesse flutuando. Tinha alças delicadas e o tecido brilhava suavemente sob a luz, como se refletisse um céu estrelado. A saia esvoaçava quando eu andava, me dando a impressão de que, ao me mover, eu desenhava ondas no ar. Meus cabelos estavam soltos, caindo em ondas suaves pelos ombros.

Mas, apesar de todo o cuidado com a minha aparência, minha mente estava fixada em outra coisa: o piano. E o medo. Um medo real, quase sufocante. Jaxon estava tão lindo, em seu habitual look despojado, que o deixava tão bonito e charmoso. 

Eu olhei para ele, me sentindo cada vez mais tensa. 

— Eu não sei se consigo — murmurei para Jaxon enquanto nos aproximávamos do local. — Estou com tanto medo...

Ele parou por um momento, me segurando pelos ombros e olhando diretamente nos meus olhos, como se quisesse transferir toda a confiança que ele tinha para mim.

— Vai dar tudo certo, Judy. Você é incrivelmente talentosa. E, mais importante, você coloca seu coração em tudo que faz. Quando você tocar, vai ser mágico. Eu sei disso. — Ele me abraçou com força, sussurrando no meu ouvido. — Você vai tocar lindamente, tenho certeza.

Sua voz era uma âncora. Eu me agarrei a essas palavras como se fossem minha única salvação. O abraço dele me trouxe um pouco de calma, mas ainda assim, o nervosismo continuava ali, pulsando no fundo da minha mente.

Finalmente, era a minha vez de subir no palco.

Eu caminhei lentamente, quase como se estivesse em câmera lenta. Cada passo parecia ecoar na minha cabeça. As luzes suaves pendiam do teto, iluminando o centro do palco de forma tão delicada que parecia uma cena de um sonho. O piano de cauda estava ali, majestoso, esperando por mim, como se soubesse que esse era o nosso momento.

Sentei-me no banco, ajeitando minha saia com cuidado, enquanto sentia o peso de todos os olhares da plateia. Minhas mãos tremiam levemente quando toquei as teclas pela primeira vez, apenas sentindo a textura familiar sob meus dedos. Eu olhei para o público, mas rapidamente desviei o olhar para o lado do palco, onde Jaxon estava. Ele tinha um olhar tão apaixonado, tão orgulhoso, que por um breve momento, esqueci do meu medo. Era como se, com aquele olhar, ele estivesse dizendo que tudo ficaria bem.

As luzes da plateia se apagaram suavemente, deixando o palco iluminado apenas ao meu redor. E então, comecei a tocar.

Escolhi Clair de Lune, de Debussy. A música era suave, cheia de nuances, com cada nota ecoando uma história. As notas subiam e desciam, criando uma melodia que preenchia todo o ambiente, mas, ao mesmo tempo, me envolvia de uma maneira tão íntima que eu quase esqueci que havia outras pessoas assistindo.

À medida que tocava, senti como se algo dentro de mim se acalmasse. O medo foi se dissipando, substituído por uma sensação de paz. E então, eu pensei no Elis. Pensei em como ele adorava aquela música. E, por um momento, juro que o vi. Ele estava ali, ao lado do piano, sorrindo para mim. Um sorriso largo, cheio de orgulho, como se estivesse dizendo que eu estava fazendo tudo certo.

Uma lágrima escorreu silenciosamente pelo meu rosto, mas não era de dor. Era de pura felicidade, de paz. Era como se, por fim, eu estivesse tocando não apenas para mim, mas para ele também. Para nós dois.

Quando a última nota soou, houve um silêncio profundo antes que a plateia começasse a aplaudir. As palmas começaram suaves, mas logo todos estavam de pé, aplaudindo. Eu me levantei, ainda meio atordoada, olhando para a multidão. Meus pais estavam na primeira fila, chorando, com toda a emoção a flor da pele. Minha mãe tinha um sorriso que eu não via há muito tempo, e meu pai... ele não precisava dizer nada. Seus olhos diziam tudo.

E então, Jaxon correu para o palco. Ele me envolveu em um abraço forte, como se quisesse me proteger de tudo.

— Eu sabia — ele sussurrou, com um sorriso orgulhoso e emocionado nos lábios. — Eu sabia que você iria tocar lindamente.

Eu não conseguia dizer nada. Apenas o abracei de volta, segurando o momento com todas as minhas forças. 

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A noite estava tranquila enquanto Jaxon e eu caminhávamos de volta para casa. O festival tinha acabado, mas minha mente ainda estava repleta de todas as emoções que senti no palco. Meus pais, depois de toda a euforia e lágrimas, nos deixaram a sós, percebendo que Jaxon e eu estávamos talvez mais próximos do que eles jamais estiveram. 

— Não fique até tarde... — pediu minha mãe, tentando parecer casual. — Se comportem. 

— Eu vou só me despedir, juro! — ele disse, com aquele sorriso que derrete qualquer preocupação.

Assim que ficamos sozinhos, Jaxon me olhou com tanta intensidade que eu quase perdi o fôlego.

— Judy, eu estou tão orgulhoso de você. Não só pelo que você fez no palco, mas pelo jeito que você superou tudo... você foi incrível. — Ele me abraçou, e aquele abraço  que sempre me fez sentir segura. 

Eu encostei a cabeça no peito dele, sentindo o calor do seu corpo. 

— Sabe, eu realmente não sabia como seria voltar a tocar piano, ainda mais com tanta gente me olhando. Mas assim que comecei, foi como se algo em mim tivesse despertado... e por um segundo, eu achei que estava vendo o Elis ali, comigo. — As palavras saíram baixas.

Ele me apertou um pouco mais forte, como se quisesse me dar mais força ainda.

Eu ri, tentando aliviar a tensão. 

— Quantas vezes será que já nos abraçamos hoje? Desde que eu acordei, parece que não paramos.

Jaxon riu de volta, olhando para mim com um brilho travesso nos olhos. 

— Se eu pudesse, eu dormiria abraçado com você, todos os dias.

As palavras dele me surpreenderam. Eu senti meu rosto ficar quente, o coração bateu mais rápido. Ele quis dizer isso de um jeito inocente? Ou tinha algum outro significado por trás? Meu estômago deu um nó, mas eu não queria perguntar. Não agora. Então só sorri, tentando não demonstrar o nervosismo.

E foi então que percebemos um carro chegar. Um táxi parou bem na nossa frente. Eu fiquei olhando, até que uma garota saiu dele. O ar ao redor de Jaxon pareceu mudar instantaneamente. Ele ficou imóvel, com uma expressão que eu nunca tinha visto antes — surpresa, talvez até um pouco de... tensão?

A garota se aproximou com passos decididos de nós.

— Você não vai me cumprimentar, Jaxon?

Minha mente parou por um segundo. Quem era ela? Jaxon conhecia essa garota? E, pior, ela parecia esperar alguma coisa dele. Ele ficou ali, olhando para ela com uma expressão que eu não conseguia decifrar.

— O que você está fazendo aqui, Blair?

A garota sorriu, aquele tipo de sorriso que não chega aos olhos.

— Vim ver meu namorado. — ela respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo:

Meu mundo parou. Eu senti o chão sumir debaixo dos meus pés.

O Amor é feito de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora