Capítulo 42

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• - - - - - - - - - - - - • Jaxon • - - - - - - - - - - - - •

Cheguei em casa ansioso. Estava até um pouco nervoso, esperando qualquer sinal de Judy para ir ao lago. Parece que virou o nosso lugar secreto, um só nosso, embora tenha sido seu refúgio particular com o irmão. Enquanto encarava o teto, fiquei decidindo como contar tudo à Judy. O que contar, e o que omitir. Ainda não estava pronto para contar tudo. Não ainda. 

Ouvir Lonely Day, System of a Down, me fez pensar nos dias sombrios que vivia antes de conhecer Judy. Eram dias em que eu sentia que apenas existia, me culpando por tudo e por todos. Me culpando até por existir, porque achava que não merecia nem mesmo o ar que entrava nos meus pulmões. Tudo o que eu queria era desaparecer, ficar sozinho, distante de tudo, mas a vida me levou para Rosewood, para Judy. 

Contei as horas, os minutos e segundos, para encontrá-la. Olhava para a sua janela a todo instante, mas estava apavorado com a ideia de estragar tudo de novo. Não sei se me perdoaria se a magoasse novamente. Torcia para encontrar as palavras certas para dizer, e deixar que ela soubesse uma parte da minha vida, mas não as mais dolorosas, as que ainda me atormentam.

O sol estava se pondo no horizonte quando recebi uma mensagem. Judy.

Estou no lago, a sua espera. 

 Meu coração bateu tão rápido que quase esqueci de respirar. Judy ainda mexia comigo, ainda tinha feitiço sobre mim que eu não conseguia resistir. Era ela, só ela, que me fazia sentir dessa maneira. Nunca, nenhuma outra garota conseguiu fisgar meus sentimentos desta maneira, com tanta intensidade. Às vezes, pensava que estava ficando louco. Como se apaixona por alguém desta maneira em tão pouco tempo? 

Vesti uma camisa e peguei minha jaqueta. Passei por minha mãe na sala, que estava ao telefone tagarelando com alguém. Era meio que o passatempo favorito dela desde que deixou de lecionar e passou a apoiar meu pai na carreira dele, disposta a abrir da dela. Agora eu a entendia, por amor a gente faz coisas absurdas, sem nem pensar nas consequências. 

Montei na minha moto e coloquei o capacete. Respirei fundo e com as mãos trêmulas virei a chave e ouvi os roncos, que me devolveram a coragem que eu já estava perdendo. Em poucos minutos eu já estava quase fora da cidade numa estrada sinuosa com árvores majestosas, que já anunciavam a partida do outono, com suas folhas amarelas espalhadas no chão. Tantas folhas que pareciam um manto extenso. 

Cheguei no ponto onde deveria seguir a pé, e a cada passo meu coração acelerava mais, batendo como um louco no meu peito. Caminhei devagar, com a respiração difícil porque tremia, por tantos motivos que seria difícil verbalizar, mas estava feliz, por receber uma chance de me explicar e salvar o mínimo que fosse com Judy. 

Ela estava lá, sentada no píer com os pés descalços brincando na água. Parecia um anjo, de tão linda. Entendi perfeitamente porque Kaz era apaixonado por ela por tanto tempo. Judy era diferente, e eu tive dúvidas no começo, a confundi e me confundi. Mas, logo percebi que estava errado. Judy era diferente porque era única. Não havia nenhuma outra garota como ela. 

Eu me aproximei devagar, até que ela notasse a minha presença. E ela notou. Abriu um sorriso que incendiou meu coração de um jeito, que minhas pernas quase vacilaram. Suspirei fundo, e me sentei ao lado dela, tirando os meus tênis e os colocando de lado. 

Ficamos em silêncio por algum tempo, como se estivéssemos meditando, ou nos preparando para o que diríamos um ao outro. Eu estava reunindo as palavras, os fatos que contaria a ela, mas não sabia como começar. 

— Estamos no lago, de novo. — começou ela, com um sorriso tímido. 

— É, sim. — respondi, completamente desajeitado. — Como você está? 

Ela olhou para mim, depois para os próprios pés. 

— Estou bem. 

O silêncio se fez presente entre nós novamente. Acho que não sabíamos como começar aquela conversa. Então, reunir toda a coragem possível.

— O nome dela é Blair. — eu disse, e comecei a pigarrear, porque estava nervoso. — Namoramos por um... tempo. Mas, não estamos juntos mais, eu juro. 

— O que ela queria? 

— Sinceramente? Não sei. Nem dei chance para explicações, porque a evitei, desde que sai de Sunny Brae...

Ela franziu a testa, revelando algumas rugas de preocupação. Era difícil deixar de notar. 

— Vocês conversaram? — questionou ela, visivelmente interessada na conclusão desse meu encontro indesejado com Blair. 

— Não tínhamos nada para conversar, Judy. O relacionamento acabou antes de eu vir para cá. — suspirei fundo antes de continuar. — Blair tem dificuldade em lidar com rejeição. Ela veio pensando que podíamos recomeçar, ou algo parecido. 

— Então, vocês não têm mais nada, mesmo? 

—Não. Não sou o tipo de cara que... sai com mais de uma garota. Não mais. Esses dias acabaram para mim há muito tempo. 

Judy parecia pensativa, com mais dúvidas do que respostas. Eu sabia que merecia aquele interrogatório, e por isso continuei ali, ao lado dela, esperando pelas suas perguntas. 

— Por que terminaram? Ela é bonita. 

— É complicado. 

— Tem a ver com Alex? 

Eu arregalei os olhos. Ouvir o nome de Alex depois de meses foi aterrorizante. 

— Como sabe do Alex? — perguntei, intrigado. 

— Andaram me ajudando a entender você, e... acabaram descobrindo sobre o Alex. É seu amigo, certo?

— Melhor amigo. O que aconteceu com ele, foi... minha culpa. 

Ela tocou no meu braço, e foi como se meu corpo recebesse uma enorme descarga elétrica. 

— O acidente não foi sua culpa, Jaxon. 

— Mas eu devia estar com ele quando aconteceu. Eu tinha prometido que... estaria com ele naquela noite. — suspirei fundo e senti meu peito doer. — Essa era a parte de tudo que eu não queria te contar...

— Tudo bem, você ainda não está pronto para falar disso. 

— Não. Talvez seja a hora de... falar. Ando reprimindo tudo desde que aconteceu, e não tem feito nada bem para mim. 

— Não precisa, Jaxon. 

— Eu sou bom no basquete porque comecei jogando basquete. Alex e eu éramos do mesmo time, mas logo me interessei pelo hóquei. Mudei de colégio, mas sempre nos encontrávamos. Sempre assistíamos um ao outro nos jogos. Naquela noite, prometi vê-lo jogar, mas... — desviei o olhar para a água. — Blair me ligou, e... acabei perdendo o jogo do Alex. Eu estava a caminho quando soube que o ônibus que levava o time para comemorar sofreu um acidente. Minha mãe me ligou, histérica, dizendo que Alex estava no hospital...

— Jaxon...

— Se eu tivesse ignorado Blair e ido ao jogo, talvez... — contive a lágrima que estava querendo cair, com a minha garganta começando a doer. — Alex não pode mais andar. O basquete era a vida dele. 

— Eu sinto muito, Jaxon... 

Forcei um sorriso, e senti a mão dela tocando a minha. Foi a minha primeira vez falando do Alex para alguém, desde o acidente, e senti que um peso enorme saía das minhas costas. 


O Amor é feito de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora