Capítulo 11

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• - - - - - - ☆- - - - - - • Jaxon • - - - - - - ☆- - - - - - •


Eu já estava determinado a me livrar desse teste de basquete o mais rápido possível. Jeremy e os outros caras não paravam de insistir, como se eu fosse a grande salvação do time, mas eu sabia que entrar naquela quadra significava quebrar uma promessa que fiz a mim mesmo. Prometi nunca mais tocar numa bola de basquete, e muito menos jogar num time. Mas o barulho constante deles me pressionando acabou me convencendo a tentar... uma última vez.

O plano era simples: eu iria lá, jogaria mal o suficiente para que não me quisessem no time, e depois seguiria minha vida. Tudo certo.

Quando entrei na quadra, senti aquele cheiro familiar de madeira polida e suor, uma sensação estranha tomando conta de mim. Aquela quadra era menor, menos intimidante do que a última onde estive, mas ainda assim, era uma quadra. O treinador, um cara robusto e com uma expressão séria, me olhou de cima a baixo, como se já estivesse me avaliando antes mesmo de eu tocar na bola.

Os outros caras começaram os aquecimentos, e eu me juntei a eles, mantendo o foco em não me destacar. Mas então, no meio dos exercícios, vi Kaz. Ele estava no outro lado da quadra, com os olhos fixos em mim, com aquele sorriso meio debochado. Ele não falou nada de imediato, mas o jeito como me olhava... eu sabia que ele estava esperando a hora certa para me provocar.

Durante o teste, enquanto eu jogava com o mínimo de esforço, Kaz finalmente se aproximou. 

— Vai ser moleza te superar, novato — ele murmurou, só alto o suficiente para eu ouvir.

Ignorei a princípio, mas então lembrei do que vi na noite em que ele saiu pela janela de Judy. Aquilo acendeu algo dentro de mim. Uma raiva silenciosa que eu não sabia que estava lá.

— Tá com medo de jogar de verdade, ou é assim mesmo? — Kaz continuou.

Meu plano de me manter discreto começou a se desfazer. Eu olhei para ele, e algo em mim mudou. Não tinha a ver com o basquete em si, mas sim com o jeito como ele falava, as suas provocações, por Judy. 

E então, sem perceber, comecei a jogar de verdade.

Passei por Kaz, roubei a bola dele, fiz arremessos perfeitos e bloqueios que nem eu sabia que ainda conseguia fazer. O barulho da bola quicando, o som da rede, tudo veio de volta, como se nunca tivesse saído da minha vida. O treinador assobiava, elogiando os movimentos, e os outros garotos ficaram visivelmente surpresos. Minha intenção de falhar tinha desaparecido completamente.

Quando o teste terminou, o treinador se aproximou de mim, com um sorriso satisfeito.

— Você tem talento, garoto. Quero você no time — ele disse. 

Só o que eu consegui fazer foi acenar, sem me comprometer.

Eu estava pronto para sair da quadra, ainda irritado comigo mesmo por ter cedido, quando Kaz se aproximou de novo. 

— Tá interessado na Judy, não é? —  ele perguntou, com uma expressão desafiadora.

Tentei controlar minha reação, mantendo a expressão neutra. 

— Não. Ela é toda sua — respondi secamente.

Kaz deu uma risada curta e balançou a cabeça. 

— Judy não é de ninguém, cara. Você devia saber disso. 

 Ele me deu um último olhar enigmático antes de sair da quadra, deixando aquelas palavras ecoando na minha mente.

Enquanto eu processava o que ele tinha dito, levantei a cabeça e vi Judy. Ela estava ali, sentada nas arquibancadas. Não sei há quanto tempo ela estava assistindo, mas nossos olhares se cruzaram por um breve momento. Ela parecia hesitante, como se quisesse dizer algo, mas logo virou o rosto e se levantou, e saiu pela porta de saída de modo apressado. 

Eu tentei ignorar o nó que aquilo me causou no estômago, mas era difícil. Judy sempre estava ali, de alguma forma, perturbando meus pensamentos, mesmo quando eu não queria.

Entrei no vestiário, tentando afastar tudo aquilo. O som da água batendo no chão do chuveiro era reconfortante, mas minha mente continuava a vagar. Não só sobre Judy, mas sobre o que Kaz disse. "Judy não era de ninguém".

 Aquilo me deixava com uma sensação estranha, como se eu estivesse preso numa confusão de sentimentos que não fazia sentido.

Eu queria distância disso tudo, mas parecia que, quanto mais eu tentava me afastar, mais fundo eu me metia.

Depois de tomar banho e vestir a roupa, percebi que tinha deixado um livro no meu armário do colégio. O dia tinha sido um turbilhão — primeiro o teste de basquete, depois as provocações de Kaz, e agora meus pensamentos estavam uma bagunça completa. Enquanto caminhava pelos corredores vazios, tentando me concentrar em qualquer outra coisa, um som suave e familiar capturou minha atenção.

Era o som de Judy tocando violino.

Eu sabia que era ela antes mesmo de me aproximar da sala de música. Aquela melodia delicada e ao mesmo tempo poderosa parecia vir direto dela. Minhas pernas, como se tivessem vontade própria, me levaram até a porta da sala, e lá estava ela, completamente envolvida na música. A sala parecia um santuário, onde nada além de Judy e o violino existiam.

Me encostei de leve na porta, sem fazer barulho, só observando. O jeito como ela segurava o violino, como se fosse uma extensão de si mesma, o modo como seus dedos dançavam pelas cordas — era hipnotizante. Eu não conseguia tirar os olhos dela, e isso me incomodava. Eu deveria dar meia-volta, pegar meu livro e seguir com o dia, mas meus pés não me obedeciam. Eu estava preso ali, como se algo mais forte me mantivesse no lugar.

A música preenchia o corredor de um jeito que nenhuma outra coisa conseguia. Cada nota que Judy tocava mexia comigo, me puxava para mais perto, mesmo que eu não quisesse. Eu sabia que não podia deixar isso continuar, não podia me deixar envolver assim. Mas ao mesmo tempo, uma parte de mim queria estar ali, ouvindo-a tocar o dia inteiro.

Ela era mais do que só uma garota com um violino. Cada vez que a via, parecia que algo dentro de mim lutava para emergir, algo que eu sempre tentei enterrar. Eu tinha feito uma promessa a mim mesmo: manter distância das pessoas, não me conectar com ninguém. Porque quando você se conecta, você se machuca. Era simples assim. Eu aprendi isso da pior maneira.

Mas com Judy... era diferente. Eu não conseguia manter aquela distância que tanto valorizei desde que cheguei aqui. E isso me deixava confuso, frustrado. Como ela conseguiu atravessar essa barreira tão facilmente? Eu sabia que me aproximar dela significava arriscar tudo. Se eu me deixasse sentir algo, isso comprometeria todo o meu plano de passar despercebido, de manter as coisas seguras.

O que eu não sabia era o que fazer com o que sentia. Como seguir em frente quando tudo o que eu queria era me aproximar mais?

Enquanto Judy continuava tocando, uma parte de mim queria entrar na sala, sentar ali e ouvir. Não precisava dizer nada, só ouvir. Mas ao mesmo tempo, algo dentro de mim gritava para que eu fosse embora, para que eu me afastasse, porque quanto mais perto eu chegasse, mais difícil seria voltar.

E então, como se ela pudesse sentir que eu estava ali, Judy parou de tocar e olhou em minha direção. Meu coração deu um salto. O que eu estava fazendo? O que eu deveria dizer se ela me visse parado ali, como um idiota? Antes que ela pudesse me notar, dei meia-volta e fui embora rapidamente, sem olhar para trás.

O Amor é feito de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora