Capítulo 25

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• - - - - - - - - - - - - • Judy • - - - - - - - - - - - - •


Os dias que antecedem o festival têm sido uma tortura, pela ansiedade e concentração intensa. Cada vez que toco o violino, sinto a pressão aumentar. É como se o peso do evento estivesse sobre cada uma das cordas, e qualquer erro pudesse fazer tudo desmoronar. Minha mente deveria estar completamente focada nisso, mas, claro, não consigo parar de pensar em Jaxon.

Desde aquele dia, em que ele foi até minha casa e eu cuidei da ferida em sua boca, algo dentro de mim mudou. Eu senti algo mais intenso, e mais profundo do que qualquer outra vez em que estivemos juntos. Mas ao mesmo tempo, senti medo, um receio de que, se eu perguntasse sobre o que aconteceu depois do lago, estragaria tudo. Talvez ele quisesse me afastar, talvez não quisesse falar sobre aquilo, e eu não tinha certeza se estava pronta para ouvir. Quando ele foi embora, senti um alívio inexplicável, como se eu tivesse evitado uma situação que não estava preparada para encarar.

Desde então, Jaxon tem estado mais distante. Eu o vejo pelos corredores, mas é como se houvesse uma barreira invisível entre nós, uma tensão que não deveria existir. E agora, com as provas bimestrais, os ensaios para o festival e a constante pressão em cima dele sobre o basquete, parece que estamos em mundos completamente diferentes.

Ouvi falar, por Maxie, que o treinador de basquete tem insistido para que Jaxon faça parte do time. Mas, ele sempre recusa. Tem algo no basquete que ele evita, algo que o faz fugir.  Eu não sei se é medo, ou se é algo mais, algo apavorante. 

Enquanto estávamos no intervalo, eu e o meu grupo de amigos estávamos discutindo sobre o festival e as provas. Michael, o novo aluno, estava por perto. Ele é simpático e parece estar se enturmando bem, apesar de ser novo. Alguém mencionou Jaxon, uma piada qualquer sobre como ele parece um cara que poderia ser o melhor em qualquer esporte que quisesse. Foi então que Michael disse algo que me paralisou.

Ele olhou para todos nós e, com um tom meio casual, meio curioso e disse:

— Eu sei quem é o Jaxon. Ele jogava hóquei. Era uma estrela em ascensão na equipe de hóquei da antiga escola, mas algo aconteceu... Ele substituiu alguém no basquete, e aí teve uma tragédia. Não sei exatamente o que aconteceu, mas depois disso, ele se afastou de tudo.

Uma tragédia?

Essas palavras ecoaram na minha cabeça o resto do dia. O que poderia ter acontecido? Por que Jaxon nunca mencionou isso? Eu sempre soube que havia algo no passado dele, algo que ele escondia, mas nunca imaginei que fosse algo tão grande. E agora, tudo fazia sentido. O jeito como ele evita o basquete, como se estivesse fugindo de um fantasma.

Passei o resto do dia inquieta, sem conseguir focar no violino, nem nas aulas. Eu queria saber mais, mas ao mesmo tempo, não quero invadir a privacidade dele. Talvez seja por isso que ele se mantém distante. Talvez ele ache que eu não entenderia, ou pior, que eu o julgaria.

Agora, à noite, sentada no meu quarto com o violino descansando no colo, eu penso em como as coisas mudaram. Jaxon não é apenas o cara misterioso e intrigante que conheci semanas atrás. Ele é alguém com um passado, com dores que ele carrega silenciosamente. E quanto mais eu descubro sobre ele, mais eu me preocupo... e mais eu sinto que estou me envolvendo de uma forma que talvez seja difícil de voltar atrás.

À noite, deitada na cama, eu tentava relaxar, mas o corpo estava cansado e meus braços doíam de tanto ensaiar. O festival se aproximava e eu sabia que precisava dar o meu melhor, mas parecia que a cada dia o violino exigia mais de mim, física e emocionalmente. Minha mente estava a mil, e adormecer parecia uma tarefa impossível. Foi então que ouvi um som na janela.

Meu coração disparou por um segundo, mas logo reconheci Kaz, parado do lado de fora, com uma expressão que misturava arrependimento e ansiedade. Eu respirei fundo, exausta demais para lidar com qualquer conversa, ainda mais com ele. Mas, algo dentro de mim me forçou a abrir a janela, mesmo querendo dizer para ele ir embora.

— Judy... — ele começou, a voz baixa e quase hesitante — Eu só queria falar com você. Pedir desculpas.

Eu suspirei, apoiando-me no parapeito da janela. 

— Kaz, agora não é um bom momento. Eu não tô com cabeça pra conversar, com você ou com qualquer outra pessoa.

Mas ele insistiu. Claro que ele insistiu. 

— Eu sei que as coisas ficaram estranhas entre nós... e eu sinto muito por isso. — Ele olhou para o chão, como se estivesse escolhendo bem as palavras. — Eu não queria te tratar daquele jeito... lá na escola. Foi estúpido. Eu só... — Ele hesitou por um segundo antes de continuar. — Sinto falta de você. Da nossa amizade. A gente costumava se dar tão bem...

Fiquei em silêncio por um momento. Kaz e eu éramos amigos, sim, mas depois de tudo o que aconteceu, algo entre nós tinha mudado. Algo tinha se quebrado, e eu não sabia se era possível consertar. 

— As coisas estão diferentes, Kaz. Estranhas. Eu não consigo mais me sentir à vontade com você, como antes.

Eu podia ver a frustração em seus olhos, embora ele tentasse esconder. Ele sempre foi assim, tentando controlar as emoções, mas eu podia sentir que ele estava lutando para manter a calma.

  — Eu faria qualquer coisa para consertar isso, Judy. Me diz o que eu preciso fazer.

Eu balancei a cabeça, sem saber o que dizer. Não era algo que ele pudesse consertar com palavras ou promessas. Algo dentro de mim tinha mudado, e eu não sabia se era por causa dele ou por causa de Jaxon, ou talvez por tudo o que estava acontecendo em minha vida.

 — Eu só... preciso de tempo. Pra pensar. Pra processar. Pra entender o que tá acontecendo comigo, com a gente.

Kaz parecia contrariado, como se a resposta não fosse o que ele esperava ouvir. Seus olhos se estreitaram por um momento, e ele soltou um suspiro pesado.

 — Isso é por causa do novato, não é?

Eu senti meu estômago afundar com a pergunta, mas não estava surpresa. Claro que ele iria trazer Jaxon à conversa. Todo mundo parecia achar que havia algo entre nós, e talvez houvesse, mas não era como Kaz estava insinuando. Eu e Jaxon... era complicado, confuso, e eu nem sabia explicar direito. Mas eu sabia que não era o motivo do meu afastamento de Kaz.

— Não, Kaz. — Respondi com firmeza, meus olhos fixos nos dele. — Isso não tem nada a ver com Jaxon. Tem a ver com a forma como você vem... agindo. Eu só... preciso de espaço.

Kaz me olhou por alguns segundos, como se estivesse tentando processar minhas palavras, mas eu podia ver que ele não estava convencido. Ele deu um passo para trás, passando a mão pelos cabelos, frustrado.

— Tá bom... Eu vou te dar o espaço que você quer. Mas, Judy, saiba que eu tô aqui. Se você mudar de ideia, se precisar de mim... eu tô aqui.

Eu assenti, mas meu coração estava pesado. Quando ele se virou e desapareceu na escuridão, fechei a janela e encostei a testa no vidro, me sentindo esgotada emocionalmente. Eu sabia que Kaz estava machucado, mas também sabia que eu não podia fazer nada para mudar isso. Ele tinha cruzado um limite, e agora não era tão fácil voltar atrás.

E Jaxon? A pergunta voltou à minha mente, como uma sombra que me seguia. Ele não era o motivo do meu afastamento de Kaz, mas era o motivo de muitas das minhas confusões internas. Meu coração ainda batia mais forte quando pensava nele, mesmo com toda a distância que ele vinha mantendo.

Suspirei, me afastando da janela e me jogando na cama. Tudo parecia tão complicado. Eu só queria um pouco de paz, mas parecia que a cada dia estava me afundando na areia movediça.

O Amor é feito de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora