Capítulo 20

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• - - - - - - ☆- - - - - - • Jaxon • - - - - - - ☆- - - - - - •


O sinal toca anunciando o intervalo, e a sensação de estar em um estado constante de tensão não me larga. Judy ainda não apareceu, e eu sei que estou a ponto de enlouquecer se não falar com ela. Fico andando pelos corredores, o estômago revirado de culpa, enquanto Jeremy  percebe minha inquietação.

— Qual é a tua, cara? — Ele me pergunta, olhando de relance enquanto mastiga seu lanche — Você tá estranho hoje.

Eu apenas balanço a cabeça, evitando o olhar dele. Não posso contar o que está me perturbando. Não ainda. 

— Nada, só preciso de um tempo. Vou no banheiro.

Mas eu não vou. Em vez disso, caminho direto para a sala de música, na esperança de que Judy esteja lá, talvez ensaiando como de costume. Quando abro a porta, o silêncio me dá uma resposta clara: ela não está lá.

O vazio do lugar me atinge de um jeito estranho. Eu quase posso ouvi-la tocar, ver sua concentração, o jeito que ela fechava os olhos e se entregava à música. E, por mais que tenha sido tolo, eu me convenci de que a encontraria aqui. Como se isso pudesse me dar uma chance de consertar tudo.

Antes que eu pudesse processar mais qualquer coisa, ouço uma risada familiar e cínica. Maxie. Ótimo.

— Você está procurando pela Judy, né? — Ela pergunta, cruzando os braços e me olhando como se estivesse me analisando.

Eu não respondo, mas o jeito que ela me olha já diz que ela sabe a resposta. 

— Bom, você fez um ótimo trabalho quebrando o coração dela, Jaxon.

As palavras me atingem como uma marretada no peito. Quebrar o coração de Judy? Eu não consigo processar isso. É isso que ela está sentindo agora? Ela acha que eu a afastei de propósito, que eu a machuquei intencionalmente? A sensação de culpa só aumenta. Tento sair dali, mas Maxie continua.

— Sabe, eu realmente não sei o que passa na sua cabeça — ela diz, me olhando de cima a baixo. — Mas eu sei que você magoou uma das melhores pessoas que eu conheço.

As palavras dela pesam, e mais do que eu consigo lidar naquele momento. Não digo nada, apenas viro e saio de lá o mais rápido possível. As paredes parecem se fechar ao meu redor, e tudo o que eu queria agora era consertar isso. Consertar tudo com Judy. Mas como, se nem eu sabia como lidar com o que estou sentindo?

Você disse:

Depois da escola, cada segundo em direção à minha casa é mais pesado do que o anterior. Passo pela rua de Judy, o coração batendo acelerado, como se estivesse esperando que algo me empurrasse até a porta dela. Eu paro bem na frente da casa, encarando a entrada, minha mente girando. O que eu diria se batesse? Como explicaria o que aconteceu no lago, o beijo, o jeito como me afastei?

Eu respiro fundo, minha mão hesita por um segundo... mas no fim, sou um covarde. Meus dedos nunca tocam a porta. Me viro e saio rápido dali, como se pudesse escapar da confusão que está me consumindo por dentro.

Chego em casa e vou direto para o meu quarto. Fecho a porta com força e tranco, fecho as cortinas e a janela. Eu não quero ver nada, não quero pensar em nada. Só preciso de um tempo para me desligar do mundo.

Coloco meus fones de ouvido e procuro pela música que sempre me ajudou a acalmar a mente. "Nothing Else Matters" do Metallica começa a tocar. Fecho os olhos e me deixo mergulhar na letra, tentando me esconder atrás das palavras e do som da guitarra, e a voz de James Hetfield, tudo me puxa para longe. Mas mesmo com a música, Judy continua voltando à minha cabeça.

A letra da música me faz pensar em como nada mais parece importar agora, além dela. Como se todas as minhas barreiras estivessem desmoronando e eu não soubesse mais como segurá-las. Como eu fui de alguém que queria manter distância, para alguém que não consegue parar de pensar em Judy?

E o pior de tudo é que eu sei que, se continuar assim, posso machucá-la ainda mais. E eu não posso permitir isso.

Acabei adormecendo e quando acordo, o céu já está escuro. Levanto meio atordoado, o corpo ainda pesado do sono mal recuperado. Caminho até a janela e, automaticamente, meus olhos procuram a janela de Judy. A luz está acesa, mas ela não está lá, visível. Ainda assim, só de saber que está por perto faz meu coração bater mais forte, como sempre acontece quando penso nela.

Encosto na janela, olhando para a casa dela, e começo a me perder em pensamentos. Como eu poderia consertar as coisas com ela? O beijo no lago, o jeito como me afastei... tudo foi um desastre. Ela deve estar magoada, confusa, e a culpa por ter deixado tudo daquele jeito pesa em mim.

Mas parte de mim também se pergunta se eu realmente deveria consertar. Talvez esse seja o momento perfeito para manter distância, para manter Judy segura, longe de toda a bagunça que sou.

Eu não sei se mereço alguém como ela. Judy é... tudo o que eu não sou. Ela tem essa luz, essa calma que parece fazer tudo ao redor dela ser mais leve. E eu? Eu sou só um cara que carrega mais dor do que posso suportar. Somos tão diferentes. Ela é música e arte, e eu sou silêncio e tormenta.

Não sei se estou à altura de tudo o que ela é, e isso me assusta. A última coisa que quero é machucá-la, porque eu sei que se continuar me aproximando, não vai demorar para que isso aconteça. E a ideia de magoá-la... essa ideia me corrói por dentro.

Suspiro, afastando-me da janela e me sentando na cama. O que eu faço? Me aproximo ou a deixo ir? Tudo em mim grita para me afastar, mas ao mesmo tempo, não consigo parar de pensar nela. A cada vez que tento mantê-la longe, meu coração se recusa a seguir a lógica.

E talvez seja isso que me incomoda mais do que tudo: a sensação de que, por mais que eu lute, não vou conseguir ignorar o que estou sentindo por ela.

O Amor é feito de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora