Capítulo 50

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• - - - - - - - - - - - - • Jaxon • - - - - - - - - - - - - •

Muitas vezes eu fui para o lago depois do treino. Eu ia para pensar, arejar a mente, e porque estava fugindo. Para não voltar para casa e me deparar com a janela de Judy, ou vê-la saindo com Kaz. Depois da noite anterior, eu precisava fugir, mais do que nunca. Estava chateado demais para ficar no meu quarto, remoendo aquela conversa com Judy, deixando claro que estava com ciúmes. Eu estava me sentindo patético. 

Agora, ali, no lago, ela estava ao meu lado, contemplando o pôr-do-sol. Jamais pensei que me depararia com ela lá. Sabia que ela estava praticando todos os dias, na sala de música. Na verdade, eu convenci a professora de música a deixar o piano lá, para Judy praticar e conseguir ir bem na audição. Penso que ela não faz ideia disso, porque eu pedi que a sra. Noris não comentasse. Fiquei feliz por saber que a ideia foi aceita e que ela estava dedicando tempo e esforço naquilo quye amava. 

Olhando para ela, me senti mais tranquilo, em vê-la tão serena, mesmo estando ansiosa para a Julliard. Eu também estava. Queria contar a ela que me inscrevi no Suny, tentar uma bolsa jogando hóquei, para quem sabe, ficar perto dela. No entanto, eu não queria assustá-la. Eu poderia ser visto com um ex-namorado grudento, que não está respeitando a decisão dela. 

— Eu queria que a gente... se desse bem, Jaxon. — ela disse  — A gente não brigou, nunca tivemos uma briga. As coisas simplesmente... não sairam como a gente queria. Às vezes, precisamos aceitar e tentar viver da melhor maneira possível. 

— É o que estamos fazendo, Judy. Estamos ocupados, vivendo nossas vidas. E sim, a gente nunca brigou. Pelo menos, não uma briga de verdade, em que dois discutem e acusam o outro de coisas absurdas. Não tivemos tempo nem para isso. — desabafei, finalmente colocando para fora as coisas que ficaram entalada na minha garganta, como um muco teimoso. 

— Não sei o que dizer, Jaxon. Talvez as coisas eram para serem assim mesmo, sabe. Eu não vou dizer que... não senti nada, porque foi intenso para mim. Intenso até demais, e me assustava. Me assustava a velocidade que crescia os meus sentimentos por você. 

— Foi assustador para mim também, acredite. Nunca senti nada igual assim antes, e confesso que fiquei um pouco perdido quando... terminamos. Acho que me acostumei com você rápido demais, e isso me deixou.... vulnerável. — falei, tirando todo o peso do meu coração, como se estivese me livrando de um fardo. E de fato, estava.

— Podemos ser amigos, como nós combinamos, lembra? 

— Isso não deu certo. Nós nos afastamos e nos tornamos estranhos para o outro. Acho que não dá para sermos amigos, ao menos agora. 

Judy não disse nada, mas dava para ver que ela ficou chateada com o que eu disse. Queria que ela percebesse que eu não queria ser apenas amigo dela. Queria ser o namorado, o parceiro, o melhor amigo, estando ao lado dela sempre. Mas, com tudo o que passamos, não dava para sermos apenas amigos. Amigos que são vizinhos, que estudam no mesmo colégio, que sempre se esbarram e esqueceram que um dia foram tão íntimos. 

— Droga, preciso ir... — ela disse, olhando para o visor do celular. — Ainda não terminei de arrumar a mala, e minha mãe está me deixando maluca. Acho que ela está mais ansiosa do que eu para essa audição.

— Imagino. Boa sorte, Judy. Você vai se sair bem. — falei, com total sinceridade. — Também preciso voltar para casa. Quer uma carona? 

— Eu vim de bicicleta... 

Aquela bicicleta? 

— Aquela.  Meu pai deu um jeito nela.— explicou, tentando manter o tom descontraído, mas a senti tensa.

— Judy, se quiser, posso te dar uma carona. Acho meio perigoso você ir bicicleta, com mais da metade do caminho escuro. 

Judy me encarou, como se estivesse me analisando. 

— Não posso deixar a bicicleta aqui. 

— Prometo que a levo amanhã. Eu dou um jeito. Mas, não posso deixar que você volte sozinha para casa, é perigoso.

— Certo, você venceu. Aceito sua carona. 

— Considere isso como um voto de boa sorte. 

Fiquei feliz por ela ter aceitado minha carona, e não consegui disfarçar. Acho que ela percebeu. 

Enquanto eu esperava Judy subir na moto, o coração batia mais forte do que o normal. O silêncio entre nós dizia tanta coisa que eu mal conseguia processar. Quando ela colocou o capacete e se ajeitou atrás de mim, senti os braços dela em volta da minha cintura, o corpo encostando no meu... E, por um momento, tudo pareceu certo de novo.

Eu senti falta disso. Não apenas da presença dela, mas desse conforto, dessa sensação de que eu não estava sozinho, de que ela ainda estava comigo, mesmo que as coisas entre nós tivessem desmoronado.

Enquanto eu pilotava a moto pelas ruas, o vento batendo no meu rosto, desejei que aquele momento nunca acabasse. É engraçado como, às vezes, a gente só percebe o quanto algo importa quando está prestes a perder. Não sei o que eu esperava ao oferecer essa carona. Talvez fosse minha forma de tentar reconstruir algo que, no fundo, eu sabia que estava em ruínas. Mesmo assim, tê-la ali, abraçada em mim, fez com que eu me sentisse menos... vazio.

Quando chegamos à casa dela, eu demorei para desligar a moto. Talvez estivesse tentando prolongar um pouco mais aquele instante. Judy desceu devagar, quase hesitante, como se também sentisse que esse momento estava carregado de significados que nenhum de nós estava preparado para enfrentar.

— Obrigada pela carona, Jaxon. — ela disse isso de forma tão suave, e eu percebi que havia uma barreira invisível entre nós. Não era mais como antes, e não importa o quanto eu quisesse atravessá-la, ela parecia inalcançável agora.

—Foi um prazer — respondi, tentando sorrir, mas o nó na garganta não me deixava. Tudo que eu queria era dizer mais, convencer ela de que ainda poderíamos consertar as coisas. Mas as palavras não saíram.

Ela olhou para mim por um segundo a mais, como se estivesse pensando em algo a mais para dizer. Ou talvez eu estivesse só imaginando. E então ela começou a caminhar em direção à porta, e eu fiquei ali, parado, assistindo.

Eu sabia que devia ir embora, mas algo me segurava. Quando a porta finalmente se fechou atrás dela, senti um vazio. Um silêncio pesado. Aquele gesto simples, de uma porta se fechando, parecia mais final do que qualquer outra coisa que já havíamos vivido.

Eu fiquei ali por mais uns segundos, ainda processando, ainda tentando entender por que, depois de tudo, eu sentia que estava perdendo mais do que apenas uma garota. Eu estava perdendo uma parte de mim mesmo, e o pior é que eu não tinha a menor ideia de como trazer isso de volta.







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