Capítulo 3

17 2 0
                                    

 - - - - - - - - - - - - • Jaxon • - - - - - - - - - - - - •


Eu estava vagando pelos corredores do colégio, tentando encontrar meu armário, mas o lugar parecia um labirinto. O número que estava escrito no meu papel parecia não fazer sentido em meio àquele monte de portas idênticas. Suspirei, já um pouco irritado, quando algo me chamou a atenção.

Um som suave, delicado e envolvente cortou o caos dos meus pensamentos. Violino. As notas se espalhavam pelo corredor vazio, e havia algo naquele som... algo que me puxava para mais perto, como se cada corda tocada tivesse uma espécie de magnetismo.

Sem perceber, comecei a seguir o som até chegar à porta da sala de música. A luz que entrava pela janela iluminava suavemente o espaço lá dentro, mas o que realmente me prendeu foi a garota tocando. Judy, a nova vizinha. Eu a reconheci imediatamente, naqueles cabelos ondulados e levemente dourados, que caiam em seus ombros. 

Ela estava de pé, completamente concentrada, o violino repousando no ombro enquanto as notas se desenrolavam com perfeição, preenchendo o ambiente. O mundo parecia suspenso enquanto ela tocava. Eu não conseguia tirar os olhos dela — não só pela música, mas pela forma como ela se movia com o instrumento, como se fizesse parte dela. Havia algo hipnotizante naquela cena, algo que me fez esquecer completamente do resto do mundo.

— Ei, Jaxon!

A voz repentina me fez quase pular. Virei-me rapidamente, e lá estava Maxie, surgindo do nada com sua energia estranha. Ela me olhou com um sorriso travesso, claramente percebendo que eu estava espiando Judy.

— Você está espiando a Judy tocando, né? — Maxie deu uma risadinha, inclinando a cabeça para espiar também. — Ela é incrível, não é? Eu nunca consegui entender como ela faz isso.

Eu cocei a nuca, sem saber bem o que responder. Maxie não parecia se importar com a minha hesitação. Ela cruzou os braços e continuou, com um tom casual.

— Sabe, Judy toca três instrumentos. Violino, piano e violoncelo. E é boa em todos eles. — ela suspirou, fingindo frustração, mas seu sorriso continuava animado. — Eu tentei acompanhá-la por um tempo, mas... bom, nunca fui tão dedicada quanto ela. E, honestamente, nunca seria tão boa. Ela tem um talento absurdo, e é meio difícil competir com isso.

Eu olhei para Maxie, surpreso com a honestidade dela, mas não disse nada. Meus olhos voltaram para Judy, que continuava a tocar, completamente alheia à nossa conversa. A forma como seus dedos deslizavam pelas cordas, precisos e cheios de vida, me deixou ainda mais fascinado. Eu não sabia nada sobre música clássica, mas sabia reconhecer quando alguém era incrível no que fazia.

Maxie se encostou na parede ao meu lado, olhando para mim de novo com aquele sorriso. 

— Ela vai tocar no festival de primavera do colégio. Por isso está ensaiando tanto ultimamente. Vai ser o maior evento do ano, e Judy sempre arrasa nessas coisas.

Eu assenti, ainda tentando processar tudo. Festival de primavera. Agora fazia sentido o motivo de ela estar tão concentrada. Havia algo acontecendo ali, algo maior que eu ainda não compreendia totalmente.

Maxie deu de ombros, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. 

— Mas, você sabia disso, né? Você se mudou para a casa ao lado, e pode escutá-la tocando — Ela piscou, maliciosa, antes de começar a andar pelo corredor, acenando com a mão.

Fiquei parado por um momento, observando Maxie desaparecer no corredor. Depois, voltei meu olhar para Judy, que agora terminava a peça com uma precisão que me deixou sem fôlego. Antes que ela pudesse me ver, me afastei silenciosamente da porta.

Meu coração ainda batia forte, e eu me perguntava o que estava acontecendo comigo. Judy não era apenas talentosa, ela tinha algo... e era muito bonita. Eu não costumo ignorar garotas bonitas, mas parecia que Judy era diferente de tudo o que eu tinha visto na vida. 

Depois de espiar Judy tocando, o som suave do violino ainda ecoava na minha mente enquanto eu finalmente encontrava o maldito armário. Abri a porta de metal com um rangido irritante, jogando meus livros dentro de qualquer jeito. Minha cabeça, no entanto, estava em outro lugar. Mais especificamente, na sala de música, onde Judy tocava com tanta graça e paixão que parecia impossível ignorá-la. Não consegui me livrar daquela imagem — ela ali, tão concentrada, como se o mundo desaparecesse quando seus dedos tocavam as cordas.

Suspirei, fechando o armário com força demais, o barulho reverberando no corredor vazio. Minhas mãos ainda estavam um pouco trêmulas, e não era pelo violino. Era ela.

Com o som dos sinos anunciando o fim do intervalo, fui para minha primeira aula, ainda preso naquele turbilhão de pensamentos. O professor já estava lá na frente, ajeitando alguns papéis, e eu entrei meio sem querer chamar atenção. Escolhi um lugar no fundo, mas mesmo ali, com a sala cheia de alunos, ainda me sentia inquieto. O pensamento de vê-la de novo me deixava... ansioso. Não sabia exatamente o que era, mas a sensação de querer estar por perto dela era mais forte do que eu admitiria em voz alta.

— Ei, cara. 

 Uma voz me tirou do devaneio. Olhei para o lado e vi um garoto se sentar na cadeira ao meu lado. Ele tinha cabelo castanho bagunçado, um sorriso fácil e um jeito  que parecia que ele conhecia todo mundo e se dava bem com todos.

— Você é o novo, né? Jaxon, certo? —  Ele estendeu a mão de forma despreocupada. — Sou Jeremy. — diz ele, estendendo a mão. 

Apertei a mão dele, surpreso pela abordagem tão direta. 

— É, Jaxon. Cheguei faz pouco tempo. — respondi, me virando da cadeira de frente para ele. 

Jeremy sorriu. 

— Bem-vindo ao nosso pequeno e agitado colégio. Não é exatamente Nova York, mas... dá pra sobreviver.

Dei uma risada, já gostando dele. Havia algo em Jeremy que parecia fácil de lidar, como se ele fosse o tipo de cara que sabia como manter as coisas leves. 

— Valeu. Eu vim de uma cidade bem maior, então... isso tudo aqui é meio estranho.

— Ah, você vai se acostumar. — Jeremy disse com um aceno de cabeça, como se já tivesse passado por isso antes. — Cidade pequena tem suas vantagens e... algumas desvantagens também. — Ele sorriu de lado, claramente se divertindo. — Primeiro conselho de sobrevivência: todo mundo sabe da sua vida. E se não sabe, inventa.

Eu ri, balançando a cabeça. 

— Já percebi isso. — lembrei de Maxie falando dos talentos de Judy. 

— Bom, pelo menos você já está preparado. — Jeremy se recostou na cadeira, lançando um olhar para as garotas que passavam perto. — E, cara, outra dica: tenha cuidado com as garotas daqui. Elas parecem fofas, mas... podem ser um bando de loucas. Especialmente as populares. Elas vão se jogar em você só porque é novidade, mas não se deixe enganar. —avisa ele. 

Fiquei em silêncio por um momento, lembrando de Judy e de como ela parecia ser diferente de tudo isso. Jeremy, percebendo minha hesitação, riu. 

— Mas nem todas, claro. Algumas são tranquilas, gente boa. Como aquela garota... como é mesmo o nome dela? Ah, Judy. Ela é legal, inteligente, toca música... nada a ver com as outras.

Meu corpo ficou tenso quando ele mencionou o nome dela, e eu fingi que estava indiferente, mas algo no meu estômago revirou. Ele estava falando sobre ela de uma maneira casual, como se fosse óbvio que ela era incrível, e eu não sabia como lidar com isso. 

— Judy toca violino, né? — perguntei, tentando parecer casual.

—Isso, entre outras coisas. — Jeremy balançou a cabeça, claramente impressionado. — Ela toca no festival todo ano. As garotas como ela são raridade por aqui.

Eu me recostei na cadeira, mas minha mente ainda estava presa em Judy, tocando na sala de música. Quanto mais Jeremy falava sobre a escola, as pessoas e suas regras de sobrevivência, mais eu percebia que estava aguardando o próximo momento em que a veria. Ela parecia ser o tipo de garota que não precisava se encaixar em rótulos ou categorias. E eu estava ficando impaciente, inquieto, esperando que o dia passasse logo para que, de alguma forma, pudesse estar perto dela de novo, mesmo que ainda estivesse distante, porque eu não planejo me aproximar mais do que isso, de ninguém. 

O Amor é feito de EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora