S E I S

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Ross não disse nada quando voltamos pela ponte principal da cidade. O frio era tão intenso que eu sentia meus pés afundarem na neve. Minhas botas, já tão desgastadas, estavam cheias de neve, o que me fazia fazer caretas de desconforto. Ross andava à minha frente, mas ainda conseguia me manter no seu campo de visão.

— Por que você tem tanto medo de cantar? — finalmente ouvi sua voz.

— Eu não tenho medo — respondi, tentando soar descontraída. — Só não acho que tenho esse dom como vocês têm.

Ele deu um sorriso de canto.

— Acho que você devia parar de se colocar tanto para baixo e começar a enxergar quem você realmente é, Olivia.

Meu coração gelou ao ouvir meu nome saindo da boca dele. Continuamos andando em silêncio, mas o impacto de suas palavras permanecia. Ross tinha esse efeito sobre mim, entre tantos outros que eu estava começando a descobrir.

Assim que chegamos em casa, tirei as botas e as deixei no canto da porta, suspirando de alívio. Ross correu para a sala de música, provavelmente para trabalhar em algo, e eu não quis interrompê-lo. Subi para o meu quarto e me joguei na cama, minha mente rodando com o que ele havia dito. Estava tão acostumada a me ver como a coadjuvante da minha própria história, que era difícil quando alguém me enxergava como a protagonista.

Eventualmente, o cansaço me venceu, e adormeci, deixando meus pensamentos suspensos no ar frio que entrava pela janela.

•••

    Quando abri os olhos, percebi que já havia anoitecido. O teto branco do quarto estava mais escuro que de costume, sinal de que o dia havia passado. A casa estava silenciosa, e não havia sinais de que Rocky e sua família tinham voltado. Mais cedo, ele havia me avisado que levaria os pais e os irmãos ao centro da cidade para comprar coisas para uma festa de família no fim de semana.

Meu celular acendeu, notificando uma nova mensagem.

Era Rocky.

"A estrada está cheia de neve. Estamos presos no centro, mas estamos bem."

"Vocês estão seguros?"

Ele respondeu rapidamente:

"Sim, mas mamãe está preocupada por te deixar sozinha. Mas Ross está aí, peça ajuda a ele se precisar. Voltamos de manhã, quando a estrada estiver liberada."

Enviei uma mensagem tranquilizando-o, embora não tivesse visto Ross desde que ele sumiu na sala de música. Mas sabia que ficaríamos bem.

Decidi sair do quarto e ver como as coisas estavam. Ao abrir a porta, esbarrei em algo. Olhei para baixo e encontrei um par de botas de neve novinhas.

Abaixei-me para pegá-las, confusa. Eram do meu número. Não era possível que Stormie as tivesse comprado; ela nem sabia meu tamanho ou que minhas botas estavam tão gastas. Ou será que era tão óbvio assim?

Deixei as botas em cima da cama e desci para a cozinha, morrendo de fome. Enquanto pegava uma fatia de pão, ouvi uma melodia vindo do andar de baixo, da sala de música. Ross estava tocando piano.

Hesitei por um momento, mas decidi descer. Ele estava sentado em frente ao piano, seus dedos correndo pelas teclas com leveza. Seu cabelo caía sobre o rosto, e ele cantarolava uma melodia que eu não conhecia. Era nova. E linda.

— Você é uma péssima espiã — disse ele, sem virar-se. Dei um passo para trás, surpresa.

— O espelho — explicou, apontando para o reflexo da escada.

Droga.

— Eu não estava espionando. Achei que você estivesse com fome — retruquei, dando de ombros.

— Estava me encarando, Olivia? — ele provocou, com aquele sorriso que me fazia revirar os olhos.

— Convencido... — murmurei. — Rocky disse que só voltam amanhã. Ele acha que você é irresponsável, então me deixou no comando.

— Essa doeu — ele colocou a mão no peito, fingindo drama.

— Essa música... é nova? — perguntei, curiosa, dando alguns passos em direção à sala.

— Uma ideia nova — disse, ainda tocando as teclas. — Quando eu toco o que sinto, parece que partes de mim se fundem com a música.

— Eu entendo. Eu costumava sentir o mesmo quando escrevia — murmurei, quase inaudível.

— E por que parou de escrever? — ele me lançou um olhar de canto, sem interromper a melodia.

— Escrever sobre perda não é tão libertador assim — brinquei com meus dedos.

— Acho que qualquer sentimento pode ser transformado em arte — disse ele, tocando uma melodia suave. Fechei os olhos, deixando-me levar pelas notas e pela sua voz. Era como ouvir anjos.

— Acho que você deveria voltar a escrever, Olivia — ele sussurrou ao se levantar e passar por mim. — Vamos comer algo.

•••

— Não sabia que você cozinhava — comentei, balançando as pernas na bancada, enquanto ele preparava algo que dizia ser sua especialidade.

— Nossa mãe era muito criativa. Fazíamos muitas aulas de culinária quando éramos pequenos, especialmente no Natal. — Ele jogou uma generosa quantidade de queijo na panela. — Tradições e mais tradições.

— Isso é legal, une vocês — comentei, observando cada detalhe do preparo.

— Ou nos mata — ele riu. — Rocky sempre falou muito de você. Achávamos que ele estava mentindo sobre a sua existência.

Ri enquanto ele colocava o prato na minha frente. O aroma delicioso do macarrão com queijo invadiu minhas narinas, e meu estômago roncou em resposta.

— Buon appetito — brincou Ross, exagerando na pronúncia enquanto se sentava à minha frente.

Eu nunca tinha visto Ross tão descontraído. A maioria das vezes, ele estava sendo provocativo ou perdido em pensamentos. Agora, ele estava aqui, de verdade. Nos poucos vídeos que assisti de seus shows, ele sempre estava sem camisa, sendo idolatrado pelas fãs. E eu entendia o porquê. Ross Lynch era talentoso e bonito, uma combinação rara.

— Acho que você deveria investir na música, Olivia — disse ele, casualmente, enquanto brincava com a comida no prato. — Escrever sobre dor não é ruim. É libertador.

Nossos olhares se encontraram, e por um momento, perdi o fôlego. Meu coração disparou, e tudo o que eu podia fazer era tentar manter o controle.

— Você não é tão babaca quanto eu pensava — brinquei, tentando aliviar a tensão.

Ele sorriu de lado, e eu senti meu estômago virar de ponta-cabeça. Borboletas? Ou estou ficando louca? Com certeza, a segunda opção.

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