T R Ê S

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Meus olhos estavam cansados, havia olheiras evidentes e meu rosto estava levemente corado.

     Motivo? Não consegui dormir a noite inteira, por pura irritação. Como alguém podia me tirar tanto do sério a ponto de roubar meu sono?

— Você parece exausta. Não conseguiu descansar? — Rocky me cutucou, me tirando dos meus pensamentos.

— Estava tão cansada que nem dormi direito. — Mordi um pedaço da maçã. — Tem planos para hoje?

— Todos vamos ver os preparativos para o Festival de Inverno no fim do ano. Vem com a gente?

— Claro, parece divertido. — respondi, animada, e vi um sorriso se formar no rosto de Rocky.

— Primeira vez que não preciso insistir tanto... milagres acontecem? Deve ser por isso que o sol está saindo. — Dei língua para ele, rindo.

•••

O teatro da cidade era lindo, uma verdadeira obra de arte. Rocky comentou que sua família sempre ajudava nos eventos de fim de ano, tanto financeiramente quanto com mão de obra. Stormie fez questão de me mostrar todos os quadros na parede com fotos das peças de cada ano e de seus filhos participando.

— Mãe, ela vai enjoar de ver a gente vestidos de carneiro. — Ryland passou por nós e arrastou a mãe pelo braço, querendo mostrar algo.

Nunca tinha pensado em participar de uma peça. No máximo, cantava no coral do orfanato, onde o prêmio era um chocolate ao final de cada ensaio. Essa era minha motivação. Havia uma professora que sempre dizia o quanto minha voz era angelical e que eu deveria tentar algo musical, mas isso nunca foi adiante.

— Sra. Ruby, esta é Olivia, a amiga de Rocky de quem falei. — Stormie me apresentou a uma senhora de cabelos vermelhos, que estava acompanhada por Ross, que nos observava com curiosidade.

— Ah, meu Deus! — Ruby veio em minha direção e me abraçou. — Não sabia que você era tão bonita! Que rosto lindo, e que cabelo maravilhoso! — Ross continuava a nos encarar, sem dizer nada.

— Prazer em conhecê-la. — Sorri timidamente.

— Estávamos falando das suas peças, Ruby. Mostrei todos os quadros dos meninos, e a Olivia adorou. — Stormie disse, orgulhosa.

— A propósito, este ano decidimos inovar. Já cansamos do cordeirinho de Natal, e as crianças também. Vinte anos de tradição é tempo demais. — Ela parou por um momento, pensativa. — Estamos planejando encenar Romeu e Julieta, e vejo que temos um rosto perfeito para Julieta.

O ar ficou pesado, todos me encaravam, esperando minha reação.

— Eu? — Arregalei os olhos. — Não, jamais! Com certeza há meninas muito mais talentosas para o papel. Eu nem sei cantar direito!

— Querida, isso não é problema. Algumas aulas de canto resolverão, e você não terá dificuldades. Você tem a família mais talentosa de Aspen ao seu lado. — Ela olhou para trás e, ao ver Ross, sorriu. — E como o Ross será nosso Romeu, não vejo problema em ele dar umas aulas para você. Claro, se ele não quiser, ele terá que contracenar com a querida Phoebe de 85 anos.

— Acho que ela faria um trabalho melhor do que eu. — Murmurei, mas Ruby riu.

— Vejo vocês amanhã. Quero que ensaiem uma cena, mas deixem o beijo para depois. — Ela piscou e se afastou.

Beijo? Eu não vou beijar ele! Eu nem queria fazer parte dessa peça!

No caminho de volta, Rocky dirigia com Ross no banco do passageiro. Eu estava atrás, tentando ignorar o silêncio no carro e a mandíbula tensa de Ross. Ele parecia nervoso.

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