D E Z O I T O

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Beber. Essa era a única opção depois de todo o pânico que passei naquele ônibus.

O bar em que entramos estava em plena noite de karaokê. Pessoas com chapéus de cowboy cantavam e bebiam, e o ambiente parecia um festival de diversão improvisada. Havia uma pista de dança ao lado e um alvo de dardos pendurado na parede.

— O que vai tomar? — Rocky perguntou, voltando do bar com uma expressão de curiosidade. — Eles têm umas bebidas bem estranhas, olha isso. — Ele levantou o copo, exibindo uma mistura de azul com verde fluorescente.

— Com certeza não vai ser isso. — Eu ri, caminhando em direção ao bar.

— O que vai ser hoje, lindinha? — perguntou um homem mais velho com um dente faltando, me encarando de um jeito que me fez sentir um leve nojo.

— O mais forte que você tiver. — respondi, tentando ignorar o desconforto. Ele sorriu para mim de forma exagerada.

Quando voltei para a pista de dança, vi Savannah e Malia dançando ao som de uma música de gosto duvidoso. Claramente, as duas já estavam sob o efeito do álcool. Riker e Ross conversavam sobre trabalho com Ryland, mas Ross estava sentado em uma cadeira próxima à pista, olhando para o vazio.

— Tequila? — Levantei meu copo na direção de Savannah, que sorriu, triunfante.

— Achei que você não bebia muito. — Ela gritou por causa da música. — Mas essa noite é diferente! Vamos encher a cara, porra! — ela gritou, e eu não pude deixar de rir.

Virei-me por um segundo e notei Ross nos observando. Em um impulso irracional, levantei o copo para ele. O que diabos eu estou fazendo?

— Brinde? — falei, tentando parecer descontraída. Um copo e eu já estava assim?

— Não. — Ele apontou para garrafa em sua mão. — Hoje eu não estou bebendo. Prometi para mim mesmo que seria só água.

— Água? Ross Lynch? Isso definitivamente não combina. — brinquei, e ele soltou uma risada curta.

Maldito sorriso. Maldito homem.

— Então vou beber por nós dois. — Eu brindei sozinha, levantando o copo no ar.

•••

— Vamos lá, meninas! Última rodada! — Malia disse, levantando o shot no ar com entusiasmo.

O efeito da bebida já estava dominando meu corpo, fazendo o mundo ao redor girar levemente. Savannah, Malia e eu brindamos, batendo os copos com força. Em um só movimento, levamos os shots à boca. O líquido desceu queimando, de maneira cruel, pela minha garganta.

Agarrei a mão de Malia e puxei Savannah pela outra, correndo para a pista de dança. O ritmo era intenso, os corpos ao nosso redor se moviam em perfeita sintonia com a batida de "Timber", da Kesha, que reverberava no ar.

Eu estava bêbada, sabia disso. Mas tudo o que eu conseguia sentir era meu corpo se entregando à música. Meu cabelo se movia ao ritmo dos meus movimentos, e pela primeira vez em muito tempo, senti uma confiança genuína tomando conta de mim.

— Tão linda assim, por que não dança assim para mim? — Ouvi uma voz rouca ao meu ouvido.

Por um segundo, senti o álcool que tinha bebido subir de volta à garganta. Segurei o ar, tentando evitar o desastre ali mesmo. Um homem mais velho estava atrás de mim, dançando ao meu redor de maneira desconcertante. Pânico. Eu estava bêbada e não sabia o que fazer.

— Você é muda, docinho? — Ele se aproximou ainda mais. Dei um passo para trás, sentindo o pânico aumentar.

— Tudo bem por aqui? — Duas mãos firmes seguraram minha cintura. Respirei fundo, aliviada ao ver Ross com a expressão séria. — Ele está te incomodando?

— Desculpe, eu não sabia que ela estava acompanhada. — O homem deu um passo atrás, envergonhado.

— E mesmo que não estivesse, isso não te dá o direito de se aproximar dela, ou de qualquer mulher. — Ross deu um passo à frente, o homem se encolheu. — Agora sai daqui antes que eu arrebente a merda da sua cara.

Antes que eu pudesse reagir, me vi cambaleando até a porta dos fundos do bar.

— Ei, tá tudo bem? — Ross perguntou atrás de mim. — Olivia?

Antes que eu pudesse responder, meu estômago se contraiu, e eu expeli todo o álcool do meu corpo. Ross chegou mais perto, segurando meu cabelo para trás.

Eu odeio beber.

— Ei. — Ele me chamou quando terminei. — Vamos, vou te levar para dentro. — Ele me guiou de volta, mas ao abrir a porta, mudou de ideia. — Vamos para o ônibus. Parou de chover.

Subi os degraus cambaleando, enquanto Ross me apoiava firmemente. Mesmo bêbada, não deixei de perceber o quão forte ele era, e como aquele era um dos momentos de maior proximidade que tínhamos tido em quase um mês.

— Pronto, deita aqui. — Ele organizou algumas almofadas na parte de cima do ônibus, onde havia alguns sofás.

Me deitei com dificuldade. Minha mente estava turva, mas eu ainda tinha consciência. Eu sabia exatamente quem tinha me trazido até aqui: ele.

— Sabe, Ross, eu não te entendo. — As palavras saíram da minha boca em um sussurro. Ele se sentou à minha frente, ouvindo atentamente. — Um dia você está ensaiando aquela droga de música comigo, me gira no ar, no outro está com aquela garota ridícula, no outro aparece com esse cabelo bagunçado, sem camisa. O que você quer de mim?

— Então quer dizer que você gosta do meu cabelo bagunçado? — Ele brincou, seus olhos brilhando com aquele charme irritante.

— Eu odeio tudo em você. — falei devagar. — Você é um maldito Deus grego, encanta todas as mulheres com suas cantadas baratas. — Apontei para o rosto dele, e ele riu.

— Pode ter certeza que eu também me odeio, Olivia. — Ele suspirou, abaixando a cabeça. — Eu queria te explicar tudo o que passa aqui. — Ele tocou o peito. — Mas é complicado, até para mim.

— Então me conta. — Minha voz saiu rápida, quase em desespero, antes que eu bocejasse.

— Eu quero...

Essas foram as últimas palavras que ouvi antes de o sono me vencer. Eu odeio a bebida. E odeio ainda mais Ross Lynch. Será que um dia vou saber o que ele tanto queria dizer?

Talvez nunca saiba. E a culpa é minha.

 E a culpa é minha

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⏰ Última atualização: 5 days ago ⏰

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