P R Ó L O G O

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Você poderia ir para Aspen comigo e minha família neste fim de ano. — Rocky se sentou na poltrona à minha frente.

   A temporada de férias havia chegado, e eu, como órfã, não tinha muitas opções para aproveitá-la. A faculdade oferecia quartos para os alunos que ficavam por ali enquanto os demais voltavam para suas famílias.

Rocky sempre voltava para casa. Ele tinha uma família linda; seus irmãos eram astros do rock, e juntos compartilhavam uma banda. Era impressionante como essa conexão entre eles parecia inquebrável. Mas, em todos os Natais, eu estava aqui. Sempre no mesmo quarto, com as mesmas meias que minha mãe havia deixado para mim. Aquilo já havia se tornado minha tradição: não pensar em nada, ignorar a solidão que, vez ou outra, minha mente insistia em me lembrar.

— Não precisa, Rocky. Já passei muitos natais aqui. Inclusive, já selecionei minha lista de filmes para maratonar e, claro, coloquei "Esqueceram de Mim" por último. — Dei uma risada, e ele revirou os olhos.

Rocky era meu melhor amigo desde que entrei na faculdade. Lembro-me de como estava perdida na aula de Literatura Inglesa; sentei-me em um canto da sala, e, à medida que ela se enchia, ninguém escolheu sentar ao meu lado.

Então, duas pernas finas e extremamente longas ocuparam a cadeira ao meu lado. Rocky, com seu cabelo castanho claro totalmente bagunçado e uma camiseta que dizia algo sobre revolução, se sentou. Ri discretamente. Depois disso, ele me contou sobre sua enorme família, e eu revelei que a minha não existia.

— Rydel vai neste fim de semana — ele me cutucou. — Ela disse que quer te conhecer. Quatro anos na faculdade, e você nunca conheceu minha família. Vão achar que estou mentindo sobre ter amigos e pensar que sou um louco solitário.

— Você sabe que eu iria, mas preciso estudar. — Menti.

Antes de meus pais morrerem, eles sempre diziam que eu era ótima em disfarçar as coisas. Eu era uma criança boa, nunca reclamava, mesmo quando algo me fazia mal. Eu sorria e simplesmente mentia. Ou melhor, chamava isso de uma pequena encenação. Era boa nisso: fingir que tudo estava bem.

— Mentira! Você já estudou tudo o que tinha para estudar. — Ele se levantou e me encarou. — Te dou até meia-noite para me responder. Amanhã de manhã, estarei pegando a estrada e espero que suas malas estejam prontas.

Algo dentro de mim dizia para ir, mas meu lado racional só pensava no quanto eu poderia ser um incômodo no meio da família de Rocky sem ter sido convidada. Eu odiava ser o centro das atenções em qualquer situação.

Joguei-me na cama e agarrei o bichinho de pelúcia ao lado, um pinguim, ou melhor, o Sr. Snow. Lembro vagamente quando minha mãe me deu ele; era meu sexto aniversário. Desde então, durmo com ele todas as noites.

"Seja gentil, amorosa e cuidadosa, Liv. Cuide do Sr. Snow e de todos ao seu redor com amor e gentileza, exale isso."

A voz da minha mãe ecoou nitidamente em minha cabeça. Ela era a pessoa mais doce e gentil que eu já conheci. Era especial e fazia eu me sentir especial.

Peguei o celular e comecei a digitar, apagando e reescrevendo a mesma mensagem mil vezes. Estava tão nervosa que meus dedos digitavam freneticamente, cometendo erros a cada frase.

"Rocky, te encontro às 7h. Espero que leve muito café. PS: te odeio por me convencer a tudo."

Alguns minutos se passaram até que ouvi o celular apitar. Revirei os olhos ao ler a resposta dele:

"Você não sabe dizer não ao seu melhor amigo. Vai ter o melhor fim de ano do mundo com os Lynch, eu prometo :)"

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