Luas De Sangue E Prata: A Guerra Das Sombras.

Capítulo 11

Perspectiva de Alina:

O caminho de volta para a mansão da familia Draven foi uma névoa pesada de pensamentos e silêncio, Hera havia dispensado os guardas assim que saímos da floresta, apenas pediu pra uma patrulha ir com Lena e seu companheiro que só depois eu descobri que era um dos guardas que ficaram do lado de fora da floresta. Minhas pernas se moviam por puro reflexo, cada passo mais distante da Floresta Negra me fazia sentir como se o chão estivesse se dissolvendo sob meus pés. Hera estava ao meu lado, atenta a cada movimento, mas eu não conseguia falar.

Como eu explicaria algo que nem eu mesma entendo? O que exatamente aconteceu ali?

A floresta tinha uma energia diferente, antiga. Eu podia sentir as raízes das árvores se entrelaçando em meu coração, como se algo dentro de mim tivesse despertado ou se revelado pela primeira vez. Mas o quê? E por quê agora? Era como se a escuridão e a natureza ao meu redor falassem uma língua que eu deveria conhecer, mas só consegui ouvir fragmentos, pedaços desconexos que agora martelavam na minha mente.

Enquanto caminhávamos, Hera me lançava olhares curtos e penetrantes, como se estivesse esperando que eu dissesse alguma coisa. Eu sabia que ela estava preocupada. Podia sentir isso na forma como sua mão roçou a minha de leve uma ou duas vezes, sem nunca apertar. Dando espaço, mas deixando claro que estava ali. Era um gesto tão pequeno, mas foi quase insuportável para mim. O toque dela me ancorava, e eu não sabia se estava pronta para ser ancorada agora.

Finalmente chegamos à mansão. Erick e Lucas se despediram na escada principal, cansados demais para estender qualquer conversa além de um murmúrio de boa noite. Eu os observei sumirem pelo corredor e, por um momento, desejei ter a mesma facilidade que eles para desligar a mente. Hera e eu seguimos para o quarto que presumi ser de Hera, uma suíte silenciosa e escura no terceiro andar, apenas algumas luzes ficavam acesas e o ar do quarto era frio mas aconchegante.

Assim que a porta se fechou atrás de nós, o silêncio se instalou novamente. Eu me sentei na beira da cama e fiquei ali, os cotovelos apoiados nos joelhos, encarando o nada. Hera se movimentava pelo quarto, pegando roupas limpas e ajeitando o ambiente para a noite, mas seu foco estava em mim.

- Alina. - A voz dela era baixa, mas firme. Uma advertência suave, como quem puxa alguém à beira do abismo.

Eu não respondi. Apenas tirei as botas devagar e cruzei os braços, como se me encolher fosse esconder a confusão que me consumia.

Ela se aproximou, parando de frente para mim, e por fim se sentou ao meu lado. O colchão afundou levemente com o peso dela, e o sentimento de familiaridade do momento quase me fez sorrir. Hera sempre tinha essa forma precisa de se aproximar: não invadindo meu espaço, mas também não pedindo permissão para ficar nele.

- Você ficou calada o caminho todo - ela disse, mais uma constatação do que uma acusação. - Quer falar sobre o que aconteceu?

Fechei os olhos por um momento, tentando reunir palavras que fizessem algum sentido. Elas não vieram.

- Não sei o que dizer.

Ela não respondeu imediatamente, e o silêncio dela foi estranhamente confortável. Era como se ela soubesse que eu precisava desse tempo.

- Alguma coisa mudou na floresta - murmurei, finalmente. - Mas eu não sei o que foi. É como... como se algo tivesse despertado dentro de mim. Não foi uma visão, não foi um poder específico. Foi diferente. Mais profundo. Como se a floresta soubesse quem eu sou, mais do que eu mesma sei.

- E você sentiu medo? - Hera perguntou, sua voz suave, mas firme.

Pensei na pergunta por um instante. Eu não tinha medo no sentido comum da palavra, mas havia um desconforto. Como estar em um lugar familiar e perceber, de repente, que há algo escondido bem debaixo dos seus pés. Algo que você não sabia que estava ali, mas que sempre esteve.