O alarme toca às seis da manhã. Miguel ainda está dormindo. Levanto devagar para não acordá-lo. Ele se mexe um pouco, mas continua dormindo. Vou ao banheiro e começo a tomar banho. Quando estou quase pronta para sair, ouço o choro dele.
- Mamãeeeee! Mamãeee! - Ele grita, chorando.
Saio rapidamente do banheiro e vou até ele, sentando na cama.
- Tô aqui, meu príncipe. - Digo, passando a mão pelos cabelos dele.
Ele para de chorar, senta no meu colo e encosta a cabeça no meu peito.
- Miguel, a mamãe vai precisar sair hoje. Você vai ficar com a dona Cecília, tá bom? - Falo, com calma.
Ele levanta a cabeça e me encara.
- Tá, mamãe. A vovó Cecília vai cuidar de mim e eu vou me comportar. - Responde ele, sério.
Dou uma risada suave. Desde que aprendeu a falar, ele chama tanto minha mãe quanto a dona Cecília de "vovó".
- Isso mesmo, meu príncipe. Você vai se comportar direitinho. Agora deixa a mamãe se arrumar e preparar seu banho e o café da manhã.
Miguel sai do meu colo e fica sentado na cama. Levanto, vou até o guarda-roupa e pego uma roupa para mim. Antes de voltar ao banheiro, olho para ele e vejo que está deitado, brincando com o ursinho. Depois de me vestir, volto para o quarto.
- Pronto, meu príncipe. Bora tomar um banho para você tomar o café, que a dona Cecília já está chegando.
Pego ele no colo e vou com ele para o banheiro. Dou um banho rápido, enxugo e enrolo ele na toalha. Coloco-o em pé na cama, onde ele começa a pular enquanto vou pegar a roupa dele. Depois de trocá-lo, ele sai correndo para a sala. Dou um sorriso, vou atrás e o vejo sentado no sofá, esperando que eu ligue a TV no desenho favorito dele. Ligo a TV, dou um beijo nele e vou preparar o café.
Na cozinha, preparo mini panquecas de banana e aveia para ele, com suco de laranja sem açúcar e uvas cortadas ao meio. Para mim, faço ovos mexidos, uma torrada e suco também. Quando volto para a sala, ele continua vidrado no desenho.
- Bora comer, meu príncipe. - Chamo, me aproximando.
- Bora, mamãe! - Ele responde, saltando do sofá e correndo para a cozinha.
Desligo a TV e o sigo. Ele tenta subir na cadeira, mas não consegue. Pego-o no colo e o coloco sentado. A cadeira tem uma almofada para que ele consiga alcançar a mesa. Coloco o prato com as panquecas e o copinho com suco na frente dele. Ele começa a comer com as mãos, intercalando as panquecas com as uvas e bebendo o suco. Me junto a ele para comer.
Quando terminamos, vejo que ele não comeu tudo, mas bebeu o suco inteiro.
- Pronto, agora bora escovar os dentinhos. - Digo, quando a campainha toca.
Vou atender e é a dona Cecília. Deixo-a entrar e ela se acomoda no sofá. Levo Miguel para escovar os dentes comigo. Quando terminamos, ele corre para a sala, gritando:
- Vovóoooo!
Sorrio ao vê-lo abraçar a dona Cecília. Pego minha bolsa e me preparo para sair. Ele já está brincando com ela.
- Dona Cecília, volto lá pelas quatro da tarde. Tem comida pronta na geladeira, é só esquentar. Qualquer coisa, me liga.
- Pode deixar, minha filha. Qualquer coisa, eu te ligo.
- Tchau, meu príncipe. A mamãe volta logo. - Digo, beijando a cabecinha dele.
- Tchau, mamãe. - Ele responde, me dando um beijo na bochecha.
Me despeço da dona Cecília e saio de casa. Olho o relógio e ainda são nove da manhã. Aproveito para andar pelas ruas, entregando currículos em todos os lugares que posso. Paro em frente a uma empresa e fico me perguntando se devo entrar ou não. Respiro fundo e decido entrar. Chego à recepção.
- Bom dia, posso ajudar?
- Bom dia. - Respondo, tentando manter a calma. - Gostaria de deixar meu currículo com vocês.
A recepcionista, uma mulher de aparência séria, sorri gentilmente e estende a mão.
- Claro, pode me entregar que eu encaminho para o setor responsável.
Pego o currículo da bolsa e entrego a ela. Sinto um leve nervosismo, mas tento disfarçar. Ela agradece e dá uma olhada rápida no documento.
- Estamos com algumas vagas abertas. Se houver alguma que se encaixe no seu perfil, entraremos em contato. - Diz, com um sorriso de incentivo.
- Obrigada. - Respondo, retribuindo o sorriso. - Fico no aguardo.
Saio da empresa com um misto de esperança e ansiedade. Todo o processo de procurar emprego é desgastante, mas cada oportunidade pode ser um passo mais perto de conseguir algo. Respiro fundo e continuo andando pelas ruas, entregando mais currículos onde posso.
O tempo passa rápido, e logo percebo que já está quase na hora do almoço. Decido parar em um pequeno café para descansar um pouco. Peço um suco de laranja e me sento perto da janela, observando as pessoas passarem apressadas do lado de fora. Minha mente, porém, volta para o Miguel. Sempre fico preocupada em deixá-lo, mesmo sabendo que a dona Cecília cuida muito bem dele.
Termino o suco e decido que é hora de continuar. Volto para as ruas, determinada a entregar mais alguns currículos antes do fim do dia. Quando olho para o relógio de novo, já são quase quatro da tarde. Resolvo ir para casa, ansiosa para ver Miguel e saber como foi o dia dele.
Chego em casa e, assim que abro a porta, ouço a risada dele vindo da sala. Quando entro, vejo Miguel brincando com seus carrinhos enquanto a dona Cecília assiste a tudo com carinho.
- Mamãeeee! - Miguel grita, correndo até mim.
Abaixo-me para abraçá-lo, sentindo aquele alívio familiar que só o abraço dele me traz.
- Como foi o seu dia, meu príncipe? - Pergunto, beijando sua bochecha.
- A vovó Cecília brincou comigo! - Ele responde, animado.
Sorrio e olho para a dona Cecília.
- Muito obrigada, dona Cecília. Como ele se comportou? - Pergunto.
- Como um anjinho, como sempre. - Ela responde, com um sorriso caloroso. - Comemos, brincamos, e ele até tirou um cochilo depois do almoço.
- Fico feliz em ouvir isso. - Dou um suspiro de alívio.
Acompanho a dona Cecília até a porta, agradecendo mais uma vez. Quando ela se despede, fecho a porta e me viro para Miguel, que já voltou a brincar com seus carrinhos.
- Agora é só esperar, meu príncipe. Quem sabe, logo a mamãe consiga um emprego. - Murmuro para mim mesma, sentando-me no sofá e observando-o brincar.
Com o coração mais tranquilo, fico imaginando um futuro mais estável para nós dois, onde não dependamos mais da ajuda da minha mãe e da dona Cecília. Mesmo com todas as dificuldades, sei que estou fazendo o meu melhor.