Naquela noite, dormir parece impossível. A imagem de dona Cecília no chão, inerte, não sai da minha cabeça. Não há como ignorar o peso da situação e a possibilidade de que as coisas não voltem ao normal. A palavra "AVC" continua ecoando, me assombrando.
Quando o sol finalmente começa a aparecer, ainda me sinto exausta, mas não consigo fechar os olhos nem por um instante. Levanto devagar, tentando não acordar Miguel, que dorme tranquilamente em sua cama. O rosto sereno dele me dá forças, e eu respiro fundo, decidindo que hoje vou ser ainda mais forte.
Depois de me arrumar rapidamente, preparo o café da manhã e o deixo na mesa para Miguel. Logo ele acorda, esfregando os olhos e ainda sonolento. Tento sorrir para tranquilizá-lo, mas minha mente está cheia de preocupações. Preciso ir ao hospital ver como está a dona Cecília. Após ele tomar banho, coloco-o para tomar o café. Tento comer, mas a comida não desce. Enquanto Miguel vai comendo, vou até a sala e ligo para Luca para avisar que terei que faltar e explicar toda a situação.
Ele atende após alguns toques. Explico toda a situação e digo que não poderei ir trabalhar hoje, mas ofereço compensar depois, fazendo hora extra. Ele responde que não será necessário e que está tudo bem, pedindo apenas que eu fique ao lado de dona Cecília neste momento. Agradeço e desligo.
Durante a manhã, fico o tempo todo com Miguel. Às vezes, ele pergunta sobre dona Cecília, e explico que ela está no hospital, sendo cuidada pelos médicos. Ele parece entender e logo volta a brincar.
À tarde, levo Miguel para a escola e aproveito esse momento para ir ao hospital visitar dona Cecília, já que ele estará ocupado na escolinha.
Chego ao hospital com o coração apertado, sentindo o peso da responsabilidade. Pergunto na recepção sobre o estado de dona Cecília e sou direcionada para a UTI. A enfermeira me explica que ela teve um AVC, mas que foi atendida rapidamente, o que aumentou as chances de recuperação. Mesmo assim, ela ainda está em estado delicado e sob observação.
Entro na UTI com passos hesitantes, sentindo o cheiro forte de antisséptico no ar. Dona Cecília está deitada, com tubos e aparelhos conectados a ela. É uma cena difícil de ver, e meus olhos se enchem de lágrimas. Seguro sua mão, mesmo que ela não possa responder.
- Vai ficar tudo bem. - Murmuro, mais para mim mesma do que para ela.
Enquanto estou ali, um médico entra e me cumprimenta. Ele explica o quadro clínico de dona Cecília: o AVC foi isquêmico, e ela precisará de reabilitação após a alta. Ele menciona sessões de fisioterapia e acompanhamento médico contínuo. Agradeço pelas informações e me comprometo a fazer tudo o que puder para ajudar na recuperação dela.
Antes de sair, deixo um beijo em sua testa.
- Estou torcendo pela senhora. - Digo baixinho.
Saio do hospital sentindo um misto de alívio e preocupação. Dona Cecília está sendo cuidada, mas sei que sua recuperação será longa. No caminho de volta, busco Miguel na escola e tento manter uma expressão tranquila, mesmo com a mente repleta de pensamentos.
Assim que chegamos em casa, ele me abraça e diz.
- Vai dar tudo certo, mamãe.
Essas palavras simples, ditas por uma voz tão inocente, me dão forças para enfrentar o que vem pela frente. Faço o jantar e, depois que Miguel dorme, sento-me no sofá, pensando em como organizar a nova rotina. Minha vida mudou de repente, mas preciso estar pronta para tudo.
Na manhã seguinte, acordo tomando todo cuidado para não despertar o Miguel. Sigo minha rotina matinal com calma e preparo duas mochilas para ele: uma para a parte da manhã, quando ficará comigo na empresa, e outra para a escola à tarde. Deixo o café dele pronto na mesa, enquanto eu mesma tomo apenas um café preto. Depois, volto ao quarto para verificar se ele ainda está dormindo.
Miguel está aninhado sob as cobertas, com a expressão serena de quem confia plenamente que tudo ficará bem. Isso me dá forças para enfrentar o dia. Sento ao lado dele na cama, acariciando seus cabelos suavemente até ele começar a se mexer, despertando devagar.
- Bom dia, meu príncipe. - Digo com um sorriso, tentando esconder o cansaço.
- Bom dia, mamãe. A vovó já está melhor? - Ele pergunta, os olhos ainda cheios de sono.
Engulo em seco antes de responder.
- Ela está sendo cuidada por ótimos médicos, Miguel. Vai demorar um pouco para ela voltar para casa, mas estamos torcendo por ela, não é?
Ele assente com a cabeça, ainda abraçando seu travesseiro. Poucos minutos depois, Miguel está sentado à mesa, comendo seu café da manhã, enquanto eu verifico os documentos e o material que preciso levar para o trabalho. Embora Luca tenha sido compreensivo ontem, sei que não posso faltar novamente, então decidi levá-lo comigo durante a manhã.
- Miguel, hoje você vai comigo para a empresa antes de ir para a escola. Tudo bem? - Pergunto, tentando tornar a ideia mais animadora.
- Oba! Vou te ajudar no trabalho? - Ele pergunta com entusiasmo, me arrancando um sorriso.
- Claro! Você será meu ajudante especial.
Ajudo Miguel a tomar banho e dou o café da manhã para ele. Enquanto ele come, verifico as mochilas para garantir que está tudo em ordem. Depois de organizar tudo e me certificar de que ele terminou de comer, saímos de casa juntos e seguimos para o ponto de ônibus.
Ao chegar na empresa, vou direto para o meu andar. Assim que o elevador para e as portas se abrem, saio e sigo em direção à minha mesa. Organizo algumas coisas rapidamente, pego o tablet e observo Miguel, que está entretido brincando com os brinquedos que trouxe em sua mochila.
- Filho, a mamãe vai trabalhar. Fica quentinho aí, tá? Vou até aquela sala e já volto. - Digo, inclinando-me para ficar na sua altura. Ele me encara com atenção.
- Tá bom, mamãe. - Ele responde, voltando a brincar.
Dou um sorriso breve e sigo em direção à sala do Sr. Ferrarini. Chegando lá, bato na porta e, quase ao mesmo tempo, ouço sua voz firme me convidando a entrar.
- Bom dia, Sr. Ferrarini. - Cumprimento ao fechar a porta atrás de mim.
- Bom dia, Antonella. - Ele responde, sem desviar os olhos do que estava lendo.
Começo a passar os detalhes da agenda do dia, explicando os compromissos mais importantes. Quando estou prestes a sair da sala, ouço sua voz novamente me chamando.
- Antonella...
ESPERO QUE TENHA FICADO BOM.
BEIJOSSS!😘