A manhã se arrasta lentamente após o convite inesperado de Luca. Tento manter o foco nas minhas tarefas, mas meus pensamentos continuam voltando ao jantar de hoje à noite. Não consigo evitar o frio na barriga que surge sempre que me lembro da expressão dele, da vulnerabilidade que ele mostrou, algo tão diferente da imagem sempre controlada e confiante que Luca Ferrarini projeta.
Decido me concentrar no trabalho para não surtar de ansiedade. Respondo e-mails, organizo relatórios, faço algumas ligações importantes e tento manter minha rotina o mais normal possível. No entanto, toda vez que vejo Luca passar pelo escritório, nossos olhares se cruzam brevemente, e sinto aquele arrepio familiar percorrer minha espinha.
Quando finalmente chega a hora do almoço, minha mãe me liga para saber como estou. Ela tem sido meu maior apoio durante esses meses difíceis. Conto a ela sobre o convite de Luca, esperando algum conselho, mas ela apenas ri de leve e me incentiva a ir.
- Você merece um pouco de alegria depois de tudo que passou, minha filha. Se permita viver um pouco, mesmo que seja só um jantar.
As palavras dela me confortam, mas também me deixam um pouco mais nervosa. Será que estou pronta para isso?
Decido que sim, estou. Depois de tudo o que aconteceu, talvez seja hora de me permitir sentir algo novo, ainda que de forma cautelosa.
Ao fim do expediente, volto para casa apressada. Preciso escolher uma roupa adequada para a ocasião. Algo que seja elegante, mas sem parecer que me esforcei demais. Opto por um vestido preto simples, ajustado ao corpo, mas não muito revelador. Coloco um par de brincos discretos e um batom vermelho para dar um toque de cor.
Minha mãe sorri ao me ver pronta.
- Você está linda, querida. Vá e se divirta, mesmo que apenas um pouquinho.
Agradeço com um abraço rápido e dou um beijo em Miguel, que ainda está brincando com seus carrinhos no chão da sala. Assim que escuto uma batida na porta, abro-a ansiosa e me deparo com Luca, mais lindo do que nunca, a ponto de me fazer esquecer todas as palavras.
Luca está de pé, à minha porta, com aquele ar inconfundível de sofisticação. Ele veste um terno azul-marinho perfeitamente ajustado, com a gravata afrouxada em um gesto que só acrescenta charme ao seu visual já impecável. Seus olhos me percorrem de cima a baixo, e vejo um brilho de aprovação em seu olhar.
- Você está deslumbrante. - Ele diz, sua voz grave ecoando pela pequena sala de estar.
Sinto minhas bochechas queimarem com o elogio, e tudo o que consigo fazer é agradecer timidamente. Antes que eu possa dizer mais alguma coisa, vejo Miguel correr até Luca com um sorriso radiante. Para minha surpresa, Luca se abaixa, pega Miguel no colo com facilidade, e eu fico parada ali, admirando aquela cena tão inesperada.
- E aí, garotão. - Ele diz com um sorriso genuíno, enquanto bagunça o cabelo de Miguel.
O riso de Miguel ecoa pela sala, e é impossível não sorrir ao ver a alegria nos olhos dele. Por um momento, o ar formal entre mim e Luca se dissipa, dando lugar a uma leveza que eu não esperava sentir. Luca coloca Miguel no chão, e ele volta a brincar.
- Luca, posso te chamar assim? - pergunto, e ele assente. - Esta é minha mãe, Raquel. Mãe, este é o Luca.
- Prazer, dona Raquel. - ele diz, estendendo a mão, que ela aperta.
Nos despedimos e saímos de casa, e meu coração parece querer saltar do peito. Caminho ao lado de Luca, tentando me manter calma, mas é impossível não sentir a tensão no ar. Ele abre a porta do carro para mim, um gesto que achei antiquado, mas surpreendentemente encantador. Entro, agradecendo baixinho, e ele dá a volta para entrar no lado do motorista.