CAP 5

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Chego à porta indicada e respiro fundo, tentando controlar o nervosismo. Bato suavemente e, ao ouvir um "entre" vindo de dentro, empurro a porta devagar e entro na sala.

A primeira coisa que noto é o ambiente: moderno e minimalista, com grandes janelas que oferecem uma vista impressionante da cidade. Na mesa, um homem alto, de terno impecável, está sentado, concentrado em alguns papéis. Ele levanta os olhos quando me vê, e um pequeno sorriso surge em seu rosto.

- Bom dia, sou a... - começo a falar, mas ele me interrompe com um gesto educado.

- Bom dia. Você deve ser a candidata para a vaga de secretária, certo? - Ele diz, com uma voz firme, mas cordial.

- Sim, exatamente. - Confirmo, tentando manter a calma.

- Meu nome é Luca Ferrarini. - Ele se apresenta, estendendo a mão. O nome faz com que meu coração dispare por um instante. Ferrarini... ele deve ser o CEO. Aperto sua mão, sentindo sua presença marcante.

- Prazer em conhecê-la. Por favor, sente-se. - Ele gesticula para a cadeira à minha frente.

Obedeço, sentando-me e cruzando as mãos no colo, enquanto ele folheia meus documentos. O silêncio que se segue parece eterno, e tento não deixar meu nervosismo transparecer.

- Vejo que você tem uma boa experiência. - Ele comenta, finalmente, sem tirar os olhos do papel. - Conte-me um pouco mais sobre suas responsabilidades nos empregos anteriores.

A entrevista começa, e à medida que falo sobre minhas habilidades e experiências, sinto a tensão diminuir levemente. Luca é direto em suas perguntas, mas também parece genuinamente interessado nas minhas respostas. Aos poucos, vou me sentindo mais à vontade.

- Muito bem. Acredito que você poderia se encaixar bem aqui. - Ele diz após um tempo, fechando a pasta com meus documentos e me olhando diretamente nos olhos. - Vamos finalizar as avaliações e entraremos em contato em breve.

Me levanto, apertando sua mão novamente, grata pela oportunidade. Quando saio da sala, sinto o peso do nervosismo se dissipar, substituído por uma sensação de realização. Agora, tudo o que posso fazer é esperar.

Quando chego em casa, vejo minha mãe e dona Cecília conversando. Fecho a porta e entro; assim que minha mãe me vê, pergunta:

- Como foi lá, minha filha? - Minha mãe pergunta, curiosa.

- É, minha filha, como foi lá? - Pergunta dona Cecília, também curiosa.

Sorrio para as duas, sentindo o entusiasmo e a ansiedade ainda frescos em meu peito.

- Foi bem, mãe, dona Cecília. Acho que foi bem, pelo menos. - Respondo, tentando manter a calma, mas minha voz acaba entregando minha excitação. - Ele pareceu interessado e disse que vão entrar em contato em breve. Mas não sei, não quero criar muitas expectativas.

Minha mãe me observa com aquele olhar que só ela tem, uma mistura de orgulho e preocupação.

- Ah, minha filha, você se preparou tanto. Tenho certeza de que deu o seu melhor, e é isso que importa. - Ela diz, dando um sorriso de apoio.

Dona Cecília, com a sua sabedoria de anos, inclina a cabeça e me observa, pensativa.

- E esse chefe, como é ele? Um homem decente? - Ela pergunta, sempre com um ar cuidadoso e um pouco desconfiado quando o assunto é trabalho e, especialmente, homens poderosos.

Dou uma risadinha, lembrando do impacto que Luca Ferrarini causou em mim. Alto, imponente, com aquele sorriso enigmático e a voz grave, definitivamente ele deixava uma impressão marcante.

- Parece um bom homem, sim. Um pouco sério, mas muito educado. - Respondo, tentando esconder qualquer admiração a mais que senti por ele.

Minha mãe balança a cabeça, satisfeita, e coloca a mão no meu ombro.

- Fico feliz, minha filha. Você merece essa chance.

Dona Cecília sorri, mas seu olhar é astuto, quase como se pudesse ler meus pensamentos mais profundos.

- Vou torcer por você, menina. Sei que é uma moça trabalhadora. - Ela diz, com aquele jeito carinhoso.

Agradeço, e ficamos lá conversando. Dona Cecília fala que precisa ir para casa; eu e minha mãe nos despedimos e agradeço por ela ter ficado com o Miguel. Fico conversando com minha mãe, o tempo passa, olho as horas e vejo que está na hora de buscar o Miguel na escola.

- Mãe, vou buscar o Miguel na escola. A senhora vai junto?

- Não, filha, seu pai acha que estou no shopping.

- Está certo, mãe. Qualquer coisa, me ligue.

- Vai querer uma carona para buscar o meu neto?

- Não, a escola é perto, vou andando mesmo.

Ela se levanta, e eu a acompanho até a porta. Saio junto com ela, tranco a porta e a acompanho até o carro. Ela se despede e entra. Em seguida, sigo em direção à escola.

O caminho até a escola é tranquilo. A brisa suave do fim de tarde balança as folhas das árvores, e o céu ganha um tom alaranjado, típico de um pôr do sol preguiçoso. Conforme me aproximo da escola, vejo alguns pais reunidos, esperando pelos filhos. A ansiedade que eu sentia antes, durante a entrevista, parece ter dado lugar a uma calma serena, algo que só sinto quando estou prestes a ver o rosto sorridente do meu pequeno Miguel.

Assim que chego ao portão, ouço o toque do sinal e, em poucos minutos, as crianças começam a sair. Procuro por Miguel no meio da multidão de uniformes iguais, até que vejo aquela cabecinha loira se destacando, os olhos brilhando de felicidade ao me ver. Ele corre em minha direção, e eu me abaixo para recebê-lo com um abraço apertado.

- Mamãe! - Ele exclama, envolvendo os bracinhos ao redor do meu pescoço.

- Oi, meu amor! Como foi a escola hoje? - Pergunto, acariciando seus cabelos e sentindo o alívio de tê-lo nos meus braços.

- Foi legal! A professora falou que a gente vai fazer uma excursão semana que vem! - Miguel diz, animado, enquanto pega minha mão e começamos a caminhar de volta para casa.

Conversamos sobre a excursão e os planos que ele tem para a próxima semana. É reconfortante ouvir sua vozinha animada, suas preocupações tão simples, em contraste com as minhas ansiedades e dilemas. A cada passo, sinto que os problemas do mundo adulto ficam um pouco mais distantes.

Assim que chegamos em casa, Miguel corre para a sala, largando a mochila no chão, e começa a procurar seus brinquedos favoritos. Aproveito o momento de tranquilidade para preparar um lanche para ele, algo rápido antes do jantar. Ele se senta à mesa, e o som de sua voz preenche o ambiente enquanto conta, em detalhes, sobre a nova brincadeira que inventaram no recreio.

- Mamãe, quando eu crescer, quero ser um super-herói! - Ele anuncia de repente, entre uma mordida e outra no sanduíche.

Dou uma risada leve, sentindo o coração se aquecer.

- E você já sabe qual vai ser o seu superpoder? - Pergunto, entrando na brincadeira.

- Vou poder voar! E vou ser muito, muito forte! - Ele responde com convicção, o que me faz sorrir.

Enquanto o observo, sinto uma onda de carinho e gratidão. Ele é o meu mundo, o motivo pelo qual tudo vale a pena, até as entrevistas difíceis e os dias de incerteza. Penso em como a vida é cheia de altos e baixos, e em como Miguel é a âncora que me mantém firme, mesmo quando tudo ao redor parece desmoronar.

O CEO E A MÃE SOLOOnde histórias criam vida. Descubra agora