Quando ele me chama, meu coração acelera. Paro imediatamente, com a mão ainda na maçaneta da porta, e me viro lentamente para encará-lo. Ele largou os papéis na mesa e agora me observa com um olhar que mistura seriedade e algo mais difícil de decifrar.
- Por que você não ficou em casa para cuidar do Miguel e foi ver a senhora Cecília no hospital? - Ele pergunta sério.
Paro por um momento, sentindo o peso da pergunta. Meu coração bate acelerado enquanto tento organizar uma resposta que faça sentido, mas, antes que eu possa falar, o Sr. Ferrarini se levanta de sua cadeira e se aproxima, cruzando a sala com passos firmes.
- Antonella, você deveria estar descansando, não se preocupando em vir para o trabalho. - Ele diz, a voz grave, mas carregada de preocupação. - Onde está o Miguel agora?
- Está aqui na empresa comigo. - Respondo, com a voz um pouco hesitante. - Não tinha com quem deixá-lo pela manhã, então o trouxe. Ele está perto da minha mesa, brincando. - Acrescento, respirando fundo. – No meu horário de almoço, vou levá-lo para a escola.
- Fico feliz em saber que o Miguel está aqui. - Ele diz, esboçando um sorriso de lado. Meu Deus, estou quase babando.
Luca dá mais um passo em minha direção, diminuindo a distância entre nós. Minha respiração engata, e eu sinto o peso de seu olhar intenso. Ele para a poucos centímetros de mim, o suficiente para que eu consiga sentir o calor que emana dele.
- Antonella, você é dedicada, talvez até demais. - Ele diz, com a voz mais suave agora, mas ainda firme. - Mas isso não significa que precisa carregar o mundo nas costas sozinha.
Seus olhos encontram os meus, e o calor sobe pelas minhas bochechas. Tento desviar o olhar, mas é impossível. Ele me mantém presa ali, como se pudesse enxergar cada pensamento que passa pela minha mente.
- Miguel é sua prioridade, certo? - Ele continua, a voz mais baixa, quase como se estivesse apenas conversando comigo e não dando um sermão.
- Sempre. - Respondo rapidamente, sentindo um nó na garganta.
Ele inclina a cabeça, me analisando por um momento. Então, suspira e cruza os braços sobre o peito, me dando um pouco mais de espaço, mas sua presença ainda é esmagadora.
- Certo. Quero que você tire o restante do dia para cuidar dele. - Ele diz, direto.
Minha boca se abre, surpresa.
- Senhor, eu não posso! Há coisas para resolver, prazos a cumprir...
Ele levanta a mão, interrompendo minha resposta.
- Já basta. Eu disse para ir para casa, e é isso que você vai fazer. Não discuta. - Há uma firmeza inquestionável em sua voz, mas também algo que me faz sentir... cuidada.
Engulo em seco, lutando contra o desejo de argumentar. Mas como posso? Ele não está pedindo; está ordenando.
- Sim, senhor. - Respondo, quase sussurrando.
Ele esboça outro sorriso, pequeno, mas encantador.
- Ótimo. E leve o Miguel com você. Hoje ele é sua prioridade absoluta, entendeu?
Assinto, incapaz de desviar o olhar. Ele volta para sua mesa, pegando um documento qualquer, mas ainda sinto sua presença em cada parte do meu corpo.
- Vá, Antonella. E não volte até amanhã.
Dou um passo para trás, finalmente abrindo a porta, mas paro para olhá-lo mais uma vez.
- Obrigada, Senhor.
Ele ergue o olhar e, por um breve momento, seus olhos parecem suavizar ainda mais.
- Apenas cuide bem do seu filho. E de você também.
Saio da sala com o coração disparado, levando comigo a certeza de que aquele homem é muito mais do que um chefe exigente. Ele é um enigma que me atrai cada vez mais, mesmo quando eu tento resistir.
Saio da sala e fecho a porta devagar, ainda sentindo o impacto de sua presença. Minhas mãos tremem levemente enquanto caminho de volta para minha mesa. Miguel está sentado no tapete perto da minha cadeira, brincando com seus carrinhos. Ele levanta os olhos para mim com um sorriso inocente que imediatamente derrete o peso em meu peito.
- Mamãe, olha o que eu fiz! - Ele diz, apontando para uma "estrada" que criou com livros empilhados.
Ajoelho ao lado dele e passo a mão em seus cabelos macios.
- Está incrível, meu amor. Mas agora vamos para casa, tá bom? O senhor Luca disse que posso passar o resto do dia com você.
Ele pula de alegria e abraça minhas pernas com força. Enquanto isso, recolho os livros que Miguel espalhou e os coloco de volta no lugar.
Após organizar tudo, pego Miguel no colo, e ele me abraça pelo pescoço com tanta força que quase sinto o cansaço do dia desaparecer. Caminho até o elevador, tentando não pensar demais na intensidade do olhar do Luca. Ele tem um jeito autoritário, mas algo em sua voz hoje me tocou profundamente.
Ao chegar em casa, organizo tudo e deixo tudo pronto para levar Miguel à escola. Preparo seu almoço e, depois que ele termina de comer e se arruma, saímos de casa. Após deixá-lo na escola, passo novamente no hospital para ver dona Cecília. Ela continua no mesmo estado, e isso parte meu coração, já que sempre a considerei como uma segunda mãe.
No caminho de volta para casa, meus pensamentos se voltam para minha mãe. Faz tempo que ela não liga, e percebo que também não tomei a iniciativa de ligar para ela. Minha mente está a mil...
Passo em frente ao parque perto de casa e decido ficar um pouco lá antes de seguir para casa. Me sento em um banco e fico observando as crianças brincando, enquanto meus pensamentos continuam a rodar. Depois de alguns minutos, decido voltar para casa.
Quando chego em frente à minha casa, vejo minha mãe batendo na porta.
- Mãe! - Chamo, e, ao me aproximar, ela se vira. - O que aconteceu? - Pergunto, ao perceber seu rosto todo machucado, com marcas roxas.
Ela me olha, e as lágrimas começam a escorrer pelo seu rosto. Ela desvia o olhar para o lado, e é quando percebo uma mala que eu não havia notado antes.
- Vem, mãe, vamos entrar. - Digo, abrindo a porta e dando passagem para ela entrar.
Pego a mala dela, entro, fecho a porta e coloco a mala ao lado. Em seguida, seguro sua mão e a puxo suavemente para se sentar no sofá.
NÃO SEI SE FICOU BOM.
BEIJOSS! 😘😘