12. Rome

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Wondering if I dodged a bullet
Or just lost the love of my life
I don't wanna live forever - Taylor Swift 


O primeiro mês de Helena na Itália foi como uma miragem desbotada de algo que um dia imaginara ser perfeito. Ela achava que sabia bem qual era a sensação de ter o coração partido. Achava que conhecia exatamente a dor que sentiria quando tudo acabasse.

Mas ela não conhecia.

Ninguém nunca está preparado para ter o coração partido, mas aquele sentimento ia além de tudo que já havia passado. Era uma completa falta de esperança de que algum dias as coisas voltariam a fazer sentido.

Quando chegou a Roma, a cidade que sempre sonhara em explorar parecia apenas um plano de fundo borrado, contaminada pela tristeza dela.

As ruas de paralelepípedos, as cúpulas douradas das igrejas e as estátuas antigas que antes despertavam sua imaginação agora eram apenas símbolos vazios de um momento que deveria ser cheia de promessas. Ela andava pelas vielas, olhando para o chão mais do que para a paisagem ao seu redor. Sentia a ausência dele em suas alma, como se uma parte muito importante e vital sua tivesse sido brutalmente arrancada.

No começo achou que estivesse sendo dramática, então montou uma rotina exaustiva a qual se prendia fielmente, como se o resto de sua sanidade dependesse daquilo. Dizem que não há nada que motive mais uma pessoa na academia do que uma desilusão amorosa, e ela estava provando que aquilo era uma realidade.

Ia a academia todos os dias e levava seu corpo ao limite na esperança da endorfina lhe fazer esquecer de como estava infeliz. Corria quilômetros pelas ruas de Roma, mesmo que o frio tornasse a tarefa quase suicida, apenas para mantê-lo longe de sua mente pelo máximo de tempo que conseguisse. Era difícil pensar no rosto perfeito dele quando estava tentando não morrer com uma parada cardiorespiratória.

Ela deveria estar feliz, caramba! Ela estava lá. Vivendo a sua oportunidade de ouro, frequentando as aulas na Accademia di Belle Arti,  aquela era a sua chance de mergulhar no universo que tanto amava. Era tudo que ela sempre havia almejado então porque ainda se sentia miserável?

As aulas na Accademia di Belle Arti deveriam ser um escape, mas, para Helena, eram como uma tortura. Ao invés de inspiração, tudo o que sentia era uma apatia sem fim. Estava perdida e era ainda mais assustador porque até as suas pinturas pareciam ter perdido o sentido. Cada pincelada no ateliê da academia parecia sem vida. As cores que antes a preenchiam com sentido agora pareciam desbotadas, como se o mundo tivesse perdido sua intensidade.

Seus professores a elogiavam, comentavam sobre seu talento e suas pinceladas expressivas, mas para ela, eram apenas palavras vazias. Cada quadro parecia mais uma tentativa falha de traduzir a dor que consumia seu peito, uma frustração constante com o vazio que não conseguia preencher. Um dia ela fora boa em expressar sua dor, mas agora parecia quase cruel mostar aquilo para o mundo.

Era algo particular que compartilhava com Nicholas e, mesmo que se tratasse de uma melancolia quase patológica, ainda assim parecia sagrada. Queria guardar aqueles sentimentos com ela, como se de alguma forma aquilo a fizesse se sentir mais próxima dele.

Às vezes, ela se pegava pensando no que ele estaria fazendo. Como seria se ele estivesse ali, com ela, descobrindo os cantos de Roma, dividindo risadas e sussurros pelas ruas iluminadas por lampiões antigos. E era nesses momentos que a dor voltava com força total, crua e implacável, lembrando-a de que ele não estava ali. Que estava longe, vivendo a própria vida, enquanto ela tentava sobreviver naquele lugar desconhecido.

Helena percebeu que evitava os lugares mais bonitos de Roma. As praças floridas, as escadarias movimentadas, os cafés aconchegantes — tudo parecia ecoar uma felicidade da qual ela não conseguia mais fazer parte. A cidade que sempre sonhara conhecer agora parecia uma piada cruel, uma lembrança constante do que ela perdera.

THE SHARPEST TOOL - NICHOLAS ALEXANDER CHAVEZ Onde histórias criam vida. Descubra agora