THE SHARPEST TOOL - NICHOLAS ALEXANDER CHAVEZ

16. The TV show

And he never thinks of me
Except for when I'm on TV
Midnight Rain - Taylor Swift 

Depois de 11 meses, Helena finalmente podia dizer com absoluta certeza que havia se adaptado à Roma. A cidade que antes parecia um labirinto de ruas estreitas, estátuas e ruínas misteriosas agora era seu lar. Até o ritmo caótico do trânsito italiano já não a incomodava mais; pelo contrário, havia aprendido a apreciar o barulho constante das buzinas e o som das vozes misturadas em diferentes sotaques. Encontrara seu café preferido numa esquina discreta, onde os donos já sabiam seu pedido de memória, e o caminho até a academia local agora era feito no automático, sem precisar consultar o mapa. Roma tinha se tornado sua segunda pele, uma realidade tão parte dela quanto as cores de suas pinturas.

Havia experimentado todos os prazeres que a vida romana podia lhe proporcionar: tardes ensolaradas com vistas incríveis, noites longas sob o céu estrelado, e conversas em italiano que fluiam com mais naturalidade a cada dia. Era uma nova rotina, repleta de pequenos encantos que faziam Roma parecer ainda mais mágica. Até seus quadros pareciam ter se transformado; as cores vibrantes da cidade refletiam-se em suas telas, e o próprio estilo de Helena tornava-se mais ousado e cheio de vida.

Mas, apesar de toda essa adaptação, havia momentos em que a mente dela era atraída para o passado, quase sem controle. Algumas coisas simplesmente permaneciam, como uma tatuagem invisível.

Helena sempre ouvira falar que os homens italianos eram bons amantes e conseguira testar a teoria. Depois de muito tempo tentando reprimir o desejo que sentia por Luca — por sentir que, de alguma forma estava traindo Nicholas — ela se deixou levar. Não estavam namorando nem nada do tipo, apenas se divertiam de vez em quando. Helena gostava da maneira como ele a idolatrava, como venerava seu corpo nu como se estivesse no templo de uma deusa.

Ele a tratava como se fosse uma pedra preciosa que ele nunca voltaria a encontrar, como se cada mínima opinião dela fosse grandiosa e interessante. Luca era o oposto de Nicholas em quase tudo: onde Nicholas era sutil e observador, Luca era intenso e direto. Ele tinha aquele jeito italiano apaixonado, sempre a elogiando com palavras calorosas e exageradas, mas que ela começara a gostar de ouvir. Helena sabia que entre eles era algo casual e, na maioria das vezes, isso era o que ela queria. Afinal, já tinha vivido a intensidade de um amor que a quebrara em mil pedaços; estava ali para se reconstruir, para conhecer a mulher que poderia ser sem as amarras emocionais do passado.

Mas nem sempre era fácil. Por mais que estivesse confortável em sua nova vida, ainda havia dias em que o coração dela batia em um ritmo diferente, como se algo nela ansiasse por algo além das ruas de Roma. Naqueles dias, Luca parecia perceber seu distanciamento, e Helena agradecia o fato de ele ser alguém tão leve; ele a deixava com o espaço de que precisava sem questionamentos, sem dramas. Ainda assim, ela não conseguia evitar sentir uma ponta de culpa sempre que estava com ele, como se Nicholas ainda estivesse em algum lugar da sua memória, observando-a silenciosamente.

Esses momentos de dúvida e saudade, no entanto, vinham se tornando cada vez mais raros. Em parte porque a intensidade de Roma a consumia, mas também porque ela se dedicava inteiramente à sua arte, e os sentimentos confusos que às vezes a incomodavam eram transformados em pinceladas poderosas e coloridas. Era um alívio. Ela tinha a sensação de estar se libertando aos poucos, como se cada quadro novo apagasse um pouco mais as sombras do que deixara para trás. Pintar a mantinha focada, e suas telas começaram a ganhar vida própria. Agora, ao invés de pintar memórias, ela pintava sensações, pedaços das noites romanas, do cheiro da cidade, das lembranças de novas conversas e experiências.

Numa tarde tranquila, estava com suas amigas em um bar próximo à Piazza Navona, rindo e dividindo uma garrafa de vinho tinto enquanto a tarde avançava preguiçosamente para a noite.