01.First steps

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Lookin' at you got me thinkin' nonsense
Cartwheels in my stomach
when you walked in
Nonsense - Sabrina Carpenter

Tudo começou na academia. Helena estava dentro de seu carro, encarando o prédio há pelo menos 10 minutos. Reunia toda a sua força de vontade para entrar naquele lugar novo e encarar a sua nova realidade: a reabilitação.

Os últimos três meses não tinham sido nada fáceis. Era uma frequentadora assídua de academias há pelo menos 3 anos; de vez em quando, sentia incômodos no joelho, mas nunca havia sido nada preocupante, até que se tornou. A dor a seguia durante os exercícios e permanecia mesmo depois de finalizá-los, e ela suportou dores constantes por pura teimosia. Então, seu joelho resolveu parar de vez e ela finalmente decidiu procurar um médico.

Na verdade, era uma doença comum - não muito comum para alguém de apenas 24 anos, mas ainda assim comum: condromalácia patelar no joelho direito, o que significava basicamente que a cartilagem de seu joelho estava desgastando. O que o médico havia recomendado para tratar, além dos remédios? Isso mesmo, atividades físicas regulares de fortalecimento. Por isso, ela estava plantada do lado de fora da academia naquela hora da manhã.

Depois que havia descoberto o que ela gostava de chamar de "probleminha no joelho", se viu obrigada a contratar um personal trainer, já que não tinha a menor possibilidade de tratar aquele joelho sozinha. Se ela tinha dinheiro para pagar por isso? Definitivamente não. Mas, para sua sorte, tinha uma melhor amiga que poderia ajudar. Quando Sabrina ficou sabendo do probleminha da amiga, logo achou uma solução: seu pai a ajudaria.

Ben era um homem de meia-idade, corpulento e de cabelos grisalhos. Trabalhava com aquilo há pelo menos uns 20 anos e não hesitou em ajudar a garota que viu crescer. A única condição era que ela fosse para a academia no horário da manhã - bem cedo, diga-se de passagem. Helena não entendia como alguém tinha disposição para puxar ferro antes mesmo do sol nascer, mas não podia recusar a oferta gratuita apenas porque não gostava do horário.

Respirou fundo algumas vezes e decidiu enfrentar o inevitável. Não ficou nem um pouco surpresa de encontrar o lugar praticamente vazio, com exceção das duas pessoas mais ao fundo. Os olhos azuis cristalinos do homem foram em sua direção assim que passou pela porta de vidro, e Helena não pôde evitar abrir seu melhor sorriso e andar em sua direção.

- Bem pontual para alguém da sua geração - o tom sarcástico típico do mais velho a fez revirar os olhos.

- Já deveria estar acostumado com isso, Ben.

O homem fez um gesto de desdém e voltou a atenção ao rapaz que já estava ali, fazendo barra fixa com a maior facilidade do mundo.

- Pegue um dos colchonetes. Ouvi dizer que seu joelho é quase tão ruim quanto o de uma senhora de 90 anos.

Helena limitou-se a revirar os olhos e fez o que Ben havia mandado. Quando ele lhe passava instruções do que fazer, tudo parecia tremendamente inofensivo, coisa de iniciante, mas logo ela se encontrava tremendo. Era exaustivo, bem mais do que ela imaginou que seria, e, quando finalmente acabou, a garota se encontrava pingando de suor por todo o chão emborrachado.

Deixou o corpo cair exaurido em cima do colchonete depois de fazer sua última série sofrida de abdominais. Fechou os olhos e tentou normalizar a respiração, que saía aos borbotões, as batidas de seu coração ecoando em seus ouvidos.

De início, havia achado estranho a completa falta de música, mas agora estava absurdamente grata pela calmaria do lugar. O único som era de um tênis colidindo incansavelmente sobre a esteira. Virou-se preguiçosamente em direção ao corredor e notou que se tratava do rapaz que já estava ali antes dela.

Ele estava focado; seus olhos não desviavam por um segundo do visor digital da esteira. Helena apenas se limitou a limpar o colchonete suado e guardá-lo, indo em direção aos armários onde havia guardado suas coisas. Ben havia sumido já fazia algum tempo; ele havia murmurado alguma coisa, mas ela não havia entendido, já que estava mais preocupada em não ter uma parada cardíaca depois de toda aquela sessão de tortura.

Helena já fazia seu caminho até a saída quando ouviu o som dos passos diminuírem até finalmente pararem. O estranho estava com as mãos nos joelhos, ofegante. Ele também estava coberto de suor, mas um sorriso satisfeito estampava seu rosto. Quando ele finalmente endireitou a coluna, ela pôde perceber como ele era alto e bonito. Muito bonito.

Tinha um rosto forte e bem definido, lábios mais carnudos que a maioria dos homens que ela conhecia; seus cabelos castanhos desgrenhados grudavam em sua testa. O nariz era irritantemente reto e perfeito, parecia algo que ela teria desenhado. Ele se parecia com alguém que ela teria desenhado, como se tivesse saído de dentro de sua cabeça e se materializado ali.

Helena não conseguia se mexer, nervosa com a possibilidade de chamar a atenção do homem para si e que ele notasse que ela o encarava boqueaberta. Suas mãos pareciam ter perdido as forças e, quase como nos momentos constrangedores de filmes adolescentes, sua garrafa de água escorregou de suas mãos e caiu no chão. O som estridente fez com que os olhos castanhos se voltassem imediatamente em sua direção.

Ele parecia confuso, como se aquele realmente fosse o primeiro momento em que notava não estar sozinho na academia; então seu olhar percorreu a garota da cabeça aos pés, tomando total conhecimento da pessoa que o observava. Helena sabia que seu rosto estava vermelho; sentia a quentura incômoda por toda a sua face. Abaixou-se rapidamente para pegar a maldita garrafa e sentiu seus olhos acompanhando seus movimentos. E tudo só piorou quando voltou a olhá-lo e percebeu um sorrisinho de canto surgindo naquela maldita boca.

Ela poderia ter se encolhido de vergonha, mas sentiu uma onda de adrenalina insana e, em vez de desviar o olhar, como teria feito normalmente, Helena foi tomada por coragem que não fazia ideia de onde vinha.

- Desculpe pela garrafa - ela disse, tentando parecer casual enquanto se levantava, ainda um pouco ofegante. - Não tive a intenção de acabar com o silêncio do lugar.

Ele deu um passo à frente, aproximando-se dela.

- Sem problemas. Às vezes, a gravidade tem seus próprios planos. - A voz dele era forte, mas ainda assim extremamente suave. - Eu sou Nicholas, por sinal.

- Helena. - Ela estendeu a mão, sem saber bem o que esperar. Para sua surpresa, Nicholas segurou a dela com firmeza; o mísero contato a fez sentir um frio na barriga.

- Então, Helena, o que traz você a este templo de tortura às 6 da manhã?

Ela riu, relaxando um pouco.

- Bem, aparentemente, eu tenho um "probleminha no joelho" - ela disse, fazendo aspas com os dedos. - Estou aqui para melhorar isso.

- E o Ben está te ajudando, né? Ele é ótimo; um pouco mandão de vez em quando, mas ótimo.

- Sim, é o pai da minha melhor amiga. Achei que isso faria com que ele pegasse mais leve comigo, mas estava enganada.

- Acredite em mim, treino com ele há mais de um ano, e nada faz com que ele pegue leve.

Helena sabia que provavelmente seu nervosismo era muito perceptível para ele, já que não parava de mover as mãos e desviar o olhar de vez em quando, mas ele não parecia se importar. Provavelmente estava acostumado a causar aquele tipo de reação nas pessoas.

- Achei que já tinha ido embora, garota - a voz rouca de Ben surgiu pelos corredores antes mesmo de ele se fazer presente no lugar - Não tinha que fazer alguma coisa com a Sab?

- Eu já estava indo embora, Ben - deu passos desajeitados na direção do grisalho e o abraçou. - E o nome da "coisa" é brunsh. Seu cérebro de velho não consegue lembrar?

- Essa sua geração devia parar de inventar bobagens - deu tapinhas carinhosos nas costas da garota enquanto a direcionava para a porta. - Te vejo amanhã no mesmo horário.

- Claro, capitão.

A garota bateu continência e finalmente foi embora, mas não antes de seus olhos cruzarem uma última vez com os de Nicholas.

THE SHARPEST TOOL - NICHOLAS ALEXANDER CHAVEZ Onde histórias criam vida. Descubra agora