Ligação

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- Silêncio, Margareth! - Grita o alto homem já com vários fios brancos em sua cabeça loira.

- Ele é apenas um garoto, Tomas! - A mulher com muitos cabelos brancos em seus longos fios negros rebate no mesmo tom.

- Um garoto, Margareth? Um garoto? - Raiva e indignação são a descrição perfeita para sua voz - Aquilo que temos em nossa casa não é um garoto! É um monstro!

A mulher leva as mãos à boca.

- Ele é seu filho, Tom. Aquele monstro é o NOSSO filho. Nós concordamos em cuidar dele e você...

- Eu concordei em cuidar de um garotinho órfão de dois anos e meio, Margareth! - Bateu o punho na escrivaninha em sua frente com tamanha força que foi o suficiente para fazer todas as paredes da simples casa de madeira com dois andares, tremer - Não me lembro de concordar em trazer um mutante estranho.

- Não fale assim de Charlie - Disse triste, abaixando o tom de voz e sentando em uma cadeira próxima.

- E não é verdade? - Disse ele num tom irônico - Aquele nojentinho vive assustado, não olha nos olhos de ninguém, com mãos trêmulas e sempre geladas. E além daquele moleque ser pálido e quase não ter sanidade nenhuma, faz aquelas bruxarias de mover coisas. Aposto que tem algo a ver com aqueles olhos mutantes dele.

- Gosto dos olhos dele - Disse a mulher tentando fugir um pouco do assunto em questão - Não fale mal de nosso filho.

- Você sabe muito bem que ele não é nosso filho, Margareth! - Gritou novamente - Você sabe muito bem!

- E o que quer que eu faça? - Ela fala já com lágrimas em seus olhos - Abandonaremos um garoto com problemas mentais, que mal consegue falar, no meio de uma floresta qualquer em Oregon?

O homem se ajoelha diante de sua esposa, falando agora com mais calma.

- Margareth. Há alguns dias, liguei para o senhor Vitae e expus o que Charlie tem. Ele se mostrou bastante interessado em buscar uma cura para o garoto e propôs dois milhões de dólares pela guarda dele.

Ela o olhou, assombrada.

- Você quer vender nosso menino?

- Você sabe perfeitamente que não iremos sobreviver muito nessa nossa pequena fazenda, e Charlie é totalmente improdutivo para nós. Além de não trabalhar, gastamos nossa pouca comida o alimentando. O senhor Vitae vai o curar, tirando-o de nosso caminho e ainda nos dando uma fortuna em troca. Todos saem ganhando.

- Desde quando simpatiza com Theodore Vitae?

- Querida - disse segurando suas mãos - Vitae é um bom homem. Sabe o que está fazendo. Uma pessoa da mídia, além de ser muito rico , ele tem o maior laboratório tecnológico de medicina do mundo inteiro!

- O mesmo laboratório acusado de uso de pessoas inocentes como cobaias? Vi reportagens na televisão.

- Teorias de Conspiração! - Levantou-se indo em direção ao telefone fixo no escritório da casa, que é onde eles estavam - Espero que o trato com o senhor Vitae ainda esteja de pé.

- Eu não sei, Tom. Não confio nesse tal de Theodore Vitae. Sei que precisamos do dinheiro mais do que nunca mas, Charlie é apenas um garoto assustado.

- Não me importa a sua opinião, Margareth. Irei falar com o Vitae e iremos pegar o dinheiro. Eu sou o homem, quem manda sou eu. Agora volte para a cozinha para fazer o jantar. Alô?...

Margareth se virou , indo em direção da cozinha no fim do corredor, deixando Tom sozinho com o telefone. Provavelmente falando com a secretária de Theodore Vitae.

Ela odeia quando ele a trata como um nada, através de machismo ou outra coisa idiota do gênero. Porém sabia que não podia fazer nada a respeito contra Tomas, então ficava em silêncio

A mulher passou pela sala de estar mas ainda conseguiu ouvir passos rápidos subindo as escadas, seguida de uma forte batida de porta.

- Oh, não - Margareth sussurrou para si, começando a subir as escadas rapidamente - Ele ouviu tudo.

Ao fundo era possível ouvir o fim da conversa que Tomas dizia pelo telefone.

''Sim, senhor. Negócio fechado''.

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