Fonte

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- Certo, senhor Mark, obrigado pelo aviso - E desligou o telefone, finalizando a ligação logo em seguida.

Acabara de ser avisado pelo dono da hospedagem que um pacote tinha sido entregue na recepção, há alguns minutos. Estava escrito "Alexander Grace" no papel grosso da embalagem.

Quando conectou o telefone fixo novamente em sua base, levantou-se e caminhou em direção à mesa próxima a sua cama, puxando a camisa branca de manga longa para junto a si, vestindo-a em seguida. Vira em direção à cama na parede oposta. Dessa vez conseguiu controlar seu sono e foi para a sua cama após passar quase duas horas sentado junto a cama de Charlie. Não sabia se sua habilidade realmente funcionava, mas uma coisa é certa, o menino ficava aparentemente mais calmo e relaxado quando ativava seu "filtro dos sonhos".

Passou pela porta, mas antes verificando se Charlie mantinha sua respiração regular e lenta. Estava dormindo.

Desceu pelas escadas de metal, que faziam um barunho irritante a cada passo dado por Alex, e seguiu seu trajeto até a recepção do hotel. Ainda estava amanhecendo. A luz estava fraca e algumas rajadas com um vento frio da noite tocavam seu corpo. Passou pelas portas de vidro e logo avistou Mark Silgman, o proprietário e gerente do hotel em que ele e Charlie estavam hospedados. Quando percebeu a presença de Alexander, puxou de algum compartimento inferior do balcão, uma caixa de papelão. Ela não era nem muito pequena ou muito grande. Era um meio termo disso. Alex segurou a caixa, suportando facilmente seu peso, e saiu de volta por onde entrou, sem esquecer de agradecer ao homem parado ali.

Subiu as escadas barulhentas de volta. Passou por dois corredores que o guiavam para a esquerda e finalmente voltou para o seu quarto, tendo muito cuidado em não fazer barulho algum para não despertar o garoto ainda deitado. Levou aquele pacote até a mesa e se posicionou em abrir. Quando levantou a tampa que via seu nome, após retirar as alças laterais, se viu diante de um conjunto de peças de roupa. Algumas do seu tamanho, outras menos, provavelmente para Charlie. Depois de organiza-las em um monte ao lado da caixa, ainda percebeu um pequeno envelope branco no fundo da caixa. Antes de abrir, leu o curto recado escrito a mão com tinta escura: "Use-o para quaisquer dívidas, o cartão é ilimitado". Um cartão prateado se encontrava no interior da fina embalagem de papel.

O "presente" era de Vitae, disso ele não tinha dúvida alguma. Pegou uma das blusas de seu tamanho e a mediu, a pondo de frente a seu corpo. Não achou que caberia até se vestir com ela.

Então deu outra olhada para aquele cartão de crédito, ainda dentro da caixa de papelão branco. Com a sua mão, o pegou. As palavras "T. Vitae; Cartão Executivo" brilhavam contra a luz que vinha da janela. Quando virou o objeto reluzente, percebeu um código de quatro números em um pequeno papel preso ao cartão por um simples adesivo.

"9362"

- Deve ser a senha - Ele diz num tom que só poderia ser ouvido por ele.

Ele olha para todos os objetos jogados na mesa. Roupas limpas e um cartão prateado. Uma ideia surge em sua mente numa velocidade tão rápida que quase foi instantânea.

- Charlie - Chama quando se aproxima do garoto ali deitado. Pensou muito se deveria ou não acordar o rapaz de um sonho. Sua voz sai calma e relaxante, não queria assustar o menino - Charlie, vamos sair agora.

O garoto menor pouco se mexe, relutante a sair de sua cama. Após alguns instantes, se levanta, fitando o rapaz de cabelo loiro a sua frente. Percebe que ele está segurando algum tipo de mochila em apenas um ombro. Sente a pressão da curiosidade em sua mente mas logo os afasta. Se apressou em se manter acordado quando ouviu a última fala de Alex.

Vão juntos até a pequena lojinha da hospedagem. Fileiras de brinquedos e lembranças estavam expostas para venda. Charlie percebeu que ele comprou aguma coisa mas não pôde ver pois foi impedido pelo maior.

Ainda sonolento, caminha em direção à saída do hotel.

Após pegarem um táxi até um dos grandes bosques da cidade. É um lugar bem vasto, muito arborizado e com uma linda fonte de água no centro de tudo. Era um tipo de fonte completamente diferente de todas que Charlie já vira. A área da fonte era bem espaçosa e suas muretas, muito baixas.

Alexander se sentou na mureta e puxou Charlie, o forçando a sentar ao seu lado.

O tímido som do vento batendo nas árvores, juntamente com o calmo toque da água da fonte quando toca o chão, transformava o lugar. O céu ainda completava o ambiente com uma coloração linda de um azul bem claro.

- Aqui é bem bonito, não acha? - Alex pergunta, matando o silêncio que reinava entre eles. O garoto a seu lado não parava de reparar em cada mínimo detalhe do bosque. Maravilhado.

Sua resposta foi um simples assentimento de cabeça.

Com certeza, maravilhado.

- Silencioso - Continuou Charlie, fazendo Alex trazer sua linha de pensamentos de volta a Terra. O mais velho não esperava que fosse respondido com palavras.

Charlie realmente achava aconchegante aquele lugar. Era como se o tempo nunca passasse. E realmente queria isso.

- Charlie... - Quando se vira na direção do garoto que o chamou, recebe um jato de água no rosto.

O susto é inevitável, claro. Mas logo percebe o que aconteceu quando escuta a risada gostosa de Alexander enquanto corria para dentro da fonte. O menor tenta limpar o rosto com a palma da mão e percebe uma pistola de água ao seu lado, a mesma que Alex carregava consigo. Era verde e azul. Então era isso que ele tinha comprado.

A risada do loiro contagiou o menor.

Ele se levanta e pensa duas vezes antes de entrar na fonte junto a Alex.

- Não fique com medo da água, Charlie! - Grita animado - Duvido que não me acerta!

Ele se sente desafiado e corre na direção de Grace. É invadido por um espírito de felicidade muito grande. Nunca sentira algo assim antes.

Estava feliz por estar ali com Alexander.

Depois de muito correrem, estavam completamente encharcados. Charlie acabou ficando menos molhado que o outro, apesar de nunca ter usado uma pistola carregada de água. Alex diz que isso é sorte de principiante, tornando a situação mais engraçada.

Acabaram trocando suas roupas molhadas num banheiro público ali perto. Alexander era mal perdedor mas era precavido também. Tinha trazido roupas secas na mochila.


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