Poder [Final]

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Eram aproximadamente nove horas da manhã. Há apenas algumas horas houvera a dissipação do efeito de transe ocasionado pela aplicação obrigatória de gel de Material Relativo nos militares. Apesar do caos, tudo estava se normalizando.

E, por mais que fosse de pouca intensidade, a chuva se fazia presente.

Um casal se aproxima. Ele com um terno sofisticado e sapatos sociais engraxados. Ela com um curto vestido preto com renda nas mangas e suas inconfundíveis botas de cano e salto altos, esses chegando acima dos joelhos.

Alexander Grace segurava também um buquê de lírios, os mais polinizados possíveis, como pediu à dona da floricultura. Maria King segurava seu braço por dentro do dele.

Houve apenas uma cerimônia pequena, como foi dito nos jornais mundiais. Talvez ele quisesse que fosse assim. Não haviam convidados de renome. No fim, todos estavam em suas casas. Apesar de ser a pessoa que era, não era bem visto como social.

Eles pararam bem ao lado do túmulo de granito puro. Algumas poças pequenas se faziam presentes na superfície lisa da pedra.

"Dinheiro não compra apreciação."

Acima do túmulo, seu nome estava gravado na pedra da lápide. Uma fotografia estava bem ao seu lado.

Então os lírios, as flores que mais odiava na vida, foram deixados em um jarro com água bem ao lado de sua foto mais recente. Ele também deixou o cartão partido ao meio de conta ilimitada, a qual senha jamais esqueceria, embaixo do recipiente de vidro.

"Theodore Vitae."

Então eles deram meia volta, sabendo que aquela seria a primeira e última vez que visitariam aquela lápide no cemitério de Portland.

* * *

Um bip.

Longo, agudo e poderoso.

Quase que revigorante.

Então outro, agora mais rápido e curto.

E outros dois. E mais dois. E mais, e mais. Mais, mais, mais.

Tão uniformes como as batidas de um coração.

E talvez fossem.

Conforme abria os olhos, mais permitia aqueles feixes de luz forte e branca em seus olhos. Chega a ser incômodo no início, mas é o que o mantém em si. Como um grandioso farol de luz celeste.

Quase que revigorante.

Quando observa com mais atenção, percebe a verdade: É um teto branco, perfeitamente limpo e polido em gesso. Imaculado.

É o teto de um hospital.

A verdade lhe dá um forte aperto no peito. Um hospital. A ultima coisa que restava em sua memória era a cena de Vitae caindo morto ao chão da A42n, mais nada. 

Aquele foi o fim.

Com certa dificuldade, mexe a cabeça para seu lado esquerdo. Havia uma bolsa de sangue ligado ao seu braço, pingando lentamente o líquido vermelho. Apenas agora sentiu o incomodo do pequeno ferro da agulha, mas essa era a menor de suas preocupações.

Alex.

Aquele sim era um problema maior para a mente de Charlie. Estavam juntos quando tudo aconteceu. Quando a premonição que ele teve estava prestes a se concretizar. Claro que não podia permitir que Alexander morresse, aquele garoto era importante para Charlie, muito. Então, quando o ultimo ponto estava quase concluído, foi para a frente do corpo do amigo, que nem percebeu o ato. A dor que recebeu foi tanta, que não podia nem mesmo respirar. Simplesmente, ficou estático. Viu o corpo de Theodore cair e uma silhueta aparecendo lentamente. Sua visão se enturveceu quando viu Alexander se distanciar dele.

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