Inferno

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Charlie se vê preso pelos pulsos a uma corda forte de couro, esta presa fortemente ao teto. Também não conseguia mexer seus pés, também preso a cordas semelhantes e ao chão. Se encontrava completamente suspenso. Sua boca estava silenciada por uma mordaça. Sua cabeça girava, não tendo forças para fazer nada. Apenas estava cansado. Muito. Tentou se soltar das cordas ou da mordaça, mas em vão. Podia ouvir um conjunto de vozes próxima a ele, mesmo sem as ver pela baixa iluminação no local. Já não estava mais com sua blusa ou calça, apenas sua cueca, mais nada.

- Acha mesmo que isso é necessário, senhor Vitae? - A mulher de pele negra indaga ao homem em pé ao seu lado. Vão em direção a uma porta do lado. A sala que iriam era uma espécie de "camarote" daquele show de horrores.

Vitae.

Essa pequena palavra ecoou em sua mente. O homem para quem foi vendido pelos próprios pais. Agora seria mais um cobaia para suas experiências cruéis e macabras com humanos. Era isso o que ele faz, de acordo com sua falecida mãe. Agora estava ali, preso, pronto para o abate. Sua fuga não adiantou de nada.

Alexander.

Ele estava ajudando aquele homem sinistro? Tinha mentido para o menino todo esse tempo? Ele nunca fora seu amigo. Era apenas uma armadinha para o menor, do começo ao fim. Agora estava com medo e não tinha ninguém com ele. Nunca mais terá.

Estava com medo da morte.

Então sente uma dor próxima ás suas costelas nuas. Um choque, seguido de uma dor terrível. Sentiu como se fosse invadido por uma corrente elétrica que queimava por onde passava. Seus gritos de dor foram abafados pelas mordaças.

Ele se sentia inseguro. Desprotegido. Indefeso e abandonado.

Sabia que tinha que reagir contra seu agressor, mas não o via. Aquilo que puseram em seu pescoço deixara sua visão turva, impossibilitando ainda mais sua defesa.

Outro ataque de choque. Dessa vez, em suas costas. Tentou se contorcer, numa tentativa nula de aliviar a dor crescente, mas não conseguia por não ter apoio nenhum para isso. Seu grito de dor e outros de socorro foram bloqueados novamente. Sentiu um nó no fundo da garganta e chorou.

- Muito, senhorita King - Ele responde sem tirar os olhos da cena de sofrimento do outro lado do vidro espelhado - Sei que os testes em Sean Grace foram um fracasso. Era um mero humano. Mas Charlie é uma cobaia muito mais forte do que ele era.

Os dois perceberam que, antes de mais um eletrocutamento, o encarregado foi brutalmente jogando contra a parede branca do local.

- Magnífico! - O homem grita do ambiente fechado - Viu isso, senhorita King? É disso o que precisamos. Chame os açoitadores agora.

A mulher desviou o olhar que estava preso no garoto para o botão no painel de controle. Quando acionado, uma sirene chama mais secretários de Vitae para o lugar onde Charlie se encontra. Dois ajudam o caído e outros quatro ficam na sala, todos com um chicote pronto para ser usado.

Quando Charlie sente o primeiro toque do chicote em sua pele, desejou que morresse. Os sons feitos pela arma em contato com a pele pálida, quando chegaram aos ouvidos da morena, cortaram sua alma. Sentiu nojo de todos aqueles homens encapuzados. Sentiu nojo de Vitae por ter criado essa história ridícula. Sentiu nojo de si mesma por estar permitindo. No fundo, percebeu que devia fazer algo, então teve uma estranha ideia que iria por em prática assim que possível.

Não podia suportar aqueles sons agonizantes.

Sim, estava sentindo compaixão e pena daquele menino.


Quatro horas se passaram até Charlie desmaiar. Hordas e mais hordas de agressores vinham para cumprir sua missão contra o menor. Mas aquilo já era esperado por Vitae. O menino desacordado foi levado para a parte dois de testes. Outra sala bastante semelhante com a primeira, porém essa contém uma cadeira em seu centro. Puseram o menino nessa cadeira e prenderam seus pulsos. Outra dose do soro lhe foi fornecido através de uma seringa em seu pescoço. Logo após isso, conectaram quatro eletrodos ao redor de sua cabeça. Essa parte do experimento faz com que os "pacientes" falem exatamente tudo o que passa por sua mente. Quando foi ativado, um grito tão alto foi dado pelo menino no centro, que até mesmo Theodore Vitae e Maria King ouviram da sala segura de observação. O corpo de Charlie se debate muito, soltando algumas palavras inaudíveis.

Daí ele grita, de uma hora para outra.

- ESPELHO... ESPELHO... LUNES ALÉM DO ESPELHO, LUNES ALÉM DO ESPELHO, TOCAR, TOCAR, TOCAR... SINAIS NO SONO, SONO, SONO, SONO... TOCAR ESPELHO... LUNES ALÉM DO ESPELHO... ESPELHO...

- Eu não acredito - O homem se levanta rapidamente da cadeira em que sentava e se aproxima do vidro em que observava o garoto pálido - Ele é a Chave.

"O levem para a A42n, agora mesmo! Não podemos deixar o efeito do soro passar até lá!"



- Você não tem noção do que fez - A mulher se aproxima do garoto sentado na cadeira da escrivaninha.

Estavam no quarto 37. O dormitório de Alexander Grace. Quando ouviu aquela voz forte e feminina, saltou de um susto.

- Senhorita King? - Ele pergunta vendo a mulher parada bem a sua frente - O que faz aqui?

- Tentando fazer você salvar uma vida - Ela diz simplesmente - Não aguentava ficar ao lado daquele louco, apenas observando sofrimento.

- Sofrimento? O que quer dizer com isso?

Ela revira os olhos.

- Você acreditou mesmo na história de cura? - Seu tom é sarcástico - Faça-me o favor. O garoto está sendo torturado a horas e apenas você pode ajudar.

Infelizmente, Clarisse estava certa.

Theodore Vitae é o vilão.

Não conseguiu suportar aquilo dentro de si e se concentrou no rosto da formosa mulher. A dor é a mesma, a diferença é que ela não estava acostumada.

Então Grace viu. Era Charlie sendo eletrocutado, açoitado. Sofrendo. Tudo aquilo eram memórias da mulher. Ele as via em primeira pessoa, como tivesse sido ele ali. O corpo do menor estava completamente ferido

Se tivesse tentado usar seu dom contra Theodore antes, seu pai poderia ser morto. Caso ele também não fosse.

Ele logo se levanta.

- Que droga! Como pude deixar isso simplesmente acontecer? - Ele grita para as paredes mudas - Ele deve me odiar.

- E com razão - Ele assente como resposta - Mas não temos tempo. O ajudarei a tirar o garoto em segurança.

Ele tinha levado o garoto, quem jurou proteger, para sua própria sentença de morte.

- O que devo fazer? - Ele pergunta - Como posso mudar isso?

Ela sorri.

- O Experimento Final deve ser iniciado em alguns instantes, então temos que correr. Venha comigo.

"Vamos para o andar mais próximo ao inferno".


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