Nuvens

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- E aquela parece com o quê? - O garoto de 17 anos pergunta, apontando para o céu.

Tomaram o café da manhã naquela cafeteria novamente. A garçonete parecia chateada, talvez por não ter recebido a ligação que tanto esperava de Alexander. Tentou novamente dando outro papel. O rapaz apenas amassou-o, como fez antes. Dessa vez, para a felicidade não demonstrada de Charlie, voltaram para o hotel pela avenida. Lá, o loiro mostrou algumas músicas de seu ídolo, Elvis Presley, pela internet.

À tarde, foram para aquele parque da fonte novamente. Mas dessa vez, nada de água. Subiram a colina e se deitaram, um do lado do outro, na grama verde do lugar. O único passatempo do lugar, de acordo com Alexander, era observar as nuvens do lugar e Charlie gostou da ideia. Passaram a dizer, um para o outro, o que viam em cada uma delas. Para se conhecerem melhor, contavam uma lembrança, se existisse, sobre a forma da nuvem.

- Parece uma borboleta - O maior respondeu, seguindo a visão para onde o menino apontava - Se lembra de algo que tenha visto uma borboleta?

- Um dia vi uma borboleta azul na janela do meu quarto - Demorou um pouco antes de responder. Sempre falava da mesma forma. Inseguro, lento e trêmulo, como suas mãos - Tentei pegá-la com meu... erro. Isso assustou os trabalhadores da fazenda e meu pai me bateu por isso. Os homens e a borboleta, nunca mais voltaram depois disso.

- Não é um erro, garoto - Alexander se apressou em dizer - É um dom. Mas seus pais costumavam bater em você?

Charlie apenas assentiu, lentamente.

- Minha mãe não, mas meu pai... Era todos os dias. Tinha dias que era mais de uma vez.

Alex ficou sentido com a história do garoto ao seu lado. No caso dele, seus pais sabiam de seu dom e brigavam quando sabiam que tinha usado. Mas ser agredido por isso, nunca.

- Como a sua mãe era com você? - Perguntou, tentando deixar de lado suas próprias lembranças.

Charlie fecha os olhos.

- Às vezes brigava comigo, às vezes me dava atenção. Mas nunca carinho. Ela brigava com meu pai quando batia muito em mim. Nunca adiantou muito - Ele abre os olhos para fitar o garoto ao seu lado - Mas ela sempre disse que meus olhos são bonitos.

Alexander se vira para encarar Charlie e se perde naquelas cores. Sempre se perdia. Castanho claro e o outro era quase vermelho.

- Ela tem total razão - Ele falou, sem o tirar a sua visão em nenhum momento - São lindos.

Charlie volta para sua antiga posição e fecha novamente os olhos, tirando Alex de seu transe.

- Nunca os vi - Diz simplesmente.

Grace se surpreende com aquela simples frase. Aquele menino pálido nunca tinha visto seu reflexo. Seu próprio rosto.

- Olhe para mim - Depois de falar, Charlie obedece. Alex pega a câmera de seu celular e bate a foto do rosto do menino. Quando colocou na galeria, virou o celular, mostrando para o rapaz - Aqui está.

- Então esses são os olhos de monstro - Ele diz num tom entristecido - Meu pai tinha razão. Por isso que ele me vendeu.

Ele foi vendido pelo pai? Quem no mundo faz isso? Mas para quem? Achou melhor não tocar no assunto para não piorar o momento, assim como já tinha feito antes. O foco agora era ajudar aquele menino.

- Não diga isso! - Grita, repreendendo o menor - Não diga que aquele idiota está certo! Seus olhos têm, com certeza, as mais belas cores que eu já vi, Charlie.

Sua frase consegue tirar um sorriso do menor.

- Gosto de você, Alex - Fala lentamente, surpreendendo o loiro. O pálido nunca tinha dito seu apelido desde o dia que o encontrou na Floresta 09 - Não sei porque mas sinto que posso confiar em você.

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