Decomposição

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Quase duas horas.

Esse foi o tempo que os dois garotos caminharam, lado a lado, no completo silêncio pelas ruas de Portland. Alexander apoiou melhor o braço de Charlie em seu pescoço, lhe dando um apoio mais apoio para andar. Desde quando saíram correndo da Torre Sede de Laboratórios, lugar onde quase morreram, o pálido não havia descansado em momento algum. Alguns minutos atrás, quase desabava no chão pela fadiga, se não fosse a presença de Grace bem do seu lado...

Aquelas terríveis horas nas salas brancas de Vitae foram destruidoras para a mente e corpo do menino. O cientista invadiu o lado mais obscuro e, até aquele momento, inacessível do cérebro dele. O lado perdido em suas memórias.

Além do Espelho...

Aquelas palavras devastavam a consciência do rapaz apenas pelo fato de serem lembradas. O que aquilo significava? E o que ele queria com aquela construção de espelho gigante? O toque frio do vidro em suas mãos foi incontrolável. A lembrança era de dor...

Muita dor...

Assim que saíram, apenas um lugar veio em sua cabeça.

O lugar onde passou sua infância triste e deprimente. O lugar onde não teve amor nem consideração, apenas ódio, desprezo, medo.

Medo.

O lugar onde foi chutado, esmurrado, ignorado, jogado, desprezado, mal amado, machucado, maltratado, xingado. Durante toda a sua vida foi assim.

A casa dos horrores.

A casa onde era chamado de monstro pelas pessoas a quem confiava.

A casa de seus pais.

A pequena casa com dois andares de madeira já podia ser vista de onde estavam. Ninguém estava ali. Nem na casa, nem nas pequenas terras aradas para o plantio. Quanto mais se aproximavam, podiam ver uma enorme placa de alumínio na frente da habitação.

"Vendida para a Empresa Vitae de Tecnologias e Evolução".

Ódio foi o que o menino loiro sentiu quando leu aquele maldito nome. As pequenas janelas estavam completamente destruídas por pedradas. A porta fora arrombada. Furos estavam espalhados pelas tábuas rústicas, eram tiros provavelmente. Os garotos pararam sua caminhada na entrada da morada.

A lembrança da premonição que mostrou a morte de sua mãe veio à tona. Os sentimentos de tristeza e de culpa também. Ela havia se sacrificado para encontrar uma forma de libertar seu filho. Margareth nunca foi de ter alguma aproximação do menino. Maior parte por causa de Tomas Rain, que a proibia de ter alguma relação carinhosa com ele.

Sempre sentiu seu medo de trovões. Quando correu para os braços da mulher pela primeira vez, foi recebido com um chute na boca do estomago, ato deferido pelo padrasto. Era levado contra a vontade para o sótão, o lugar mais úmido e, por causa das finas ripas de madeira que o formavam, coberto por infiltrações da casa inteira. Dormiu muitas vezes rodeado por água da chuva e lágrimas. Nunca fora acolhido com alguma forma de aconchego pelos pais adotivos.

A primeira vez que tocou alguém que realmente quis ajudá-lo foi em um pouco mais de uma semana. Tocou na pele quente de Alexander Grace. Aquele que o jurou proteção de tudo.

O mesmo garoto que o levou para a morte.

Pensamentos assim também estavam rodeando na mente de Grace. A forma de como enganou o menor para levá-lo para a Torre. A forma de como foi enganado por Theodore Vitae a fim de ganhar a confiança de um pobre menino para no fim, torturá-lo e o expor a testes doentios e dolorosos. Realmente, estava gostando da companhia do pálido em sua vida e não queria perdê-lo por um erro tão estúpido.

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