O som que o elevador fazia era quase nulo, mas mesmo assim podia ser perfeitamente ouvido pelos dois.
O silêncio tomou conta de apenas dois minutos da viagem. Alexander abraça o menino ao seu lado, cessando suas tênues linhas de pensamento. Seu queixo permanece apoiado na cabeça do menor.
- Vamos acabar com isso, Charlie - Ele sussurra - Tudo vai ocorrer bem, vamos conseguir.
Charlie assente, ainda apoiado no forte e definido tórax de Grace. Então se afastam novamente.
Aquela poderia ser apenas mais uma ou a última conversa entre os dois. Rain prezava na primeira opção. Não queria que mais ninguém sofresse com essa louca ambição de Vitae.
Não queria que Alexander se machucasse.
O menino começa a sentir uma dor aguda no fundo da consciência.
Era aquela dor novamente, sempre no mesmo ponto, com oscilações na intensidade. Sempre pra pior. Sua visão começa a enturvecer e seu corpo vai despencando lentamente ao chão, indo para trás da linha do corpo de Alexander. Leva as mãos para a cabeça, como todas as outras vezes, entrelaçando os dedos aos fios negros, buscando alguma forma inútil de amenizar essa dor.
Então fecha os olhos.
Imagens vêm e vão o tempo todo, voando num universo sem medo. Flashes de realidade.
Premonições.
Era um enorme painel feito de tecnologia maciça, muitas tubulações azuis e amarelas, o elevador parando bruscamente suas engrenagens de metal, quatro dígitos vazios numa tela, botas negras movendo entre a névoa azul, um revólver apontado para as costas de Alexander, o som do tiro, um líquido vermelho descendo pelas escadas.
A realidade volta quando Charlie abre os olhos. Era alucinógeno e doloroso. Mesmo com as pálpebras abertas, a visão estava turva, torta e desfocada. Uma estranha dor batendo afinadamente em seu peito. Sente que vai desmaiar então busca desesperadamente algo em se apoiar. Algo para chamar atenção.
Chamar a atenção de Alexander.
Então toca em seu pulso e o puxa com todas as forças que pode.
O ato assusta o garoto loiro, que é pego desprevenido. Então ele se agacha e apoia seus braços nos de Charlie.
- Charlie - Diz ele, nervoso - O que aconteceu?
O moreno murmura algumas palavras inaudíveis, o que torna a preocupação de Alex ainda maior.
- Charlie! - Agora o tom já era de grito - Charlie, me responda!
- Pare... - Rain já estava começando a pronunciar alguns sons, formando palavras. A dor de cabeça estava insuportável - Pare... o... elevador...
quando entende o pedido do menor, Alexander soca o botão de parada emergencial. O elevador para bruscamente, como se as engrenagens estivessem emperradas, mesmo não estando. A fina dor em sua cabeça já diminui e esse foi o primeiro passo para que sua visão se concretizasse. Ele não permitiria que Alexander fosse morto naquele andar. Então, pensando nisso e em tudo o que os trouxe para aonde estavam, lágrimas se puseram a escorrer de sua face.
- Você teve outra visão, não teve? - Ao ouvir a pergunta de Grace, Charlie assente lentamente. Os três últimos fragmentos de realidade continuavam a repetir várias vezes sem parar em sua cabeça - O que você viu?
- Você... - A palavra estava na ponta da língua, mas Charlie se negava a acreditar - morrendo.
Alexander engole seco, mesmo já tendo uma ideia de que seria essa a resposta. Então abraça o corpo trêmulo do rapaz a sua frente, fazendo-o chorar ainda mais.

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Além do Espelho
Ficção CientíficaA busca pelo poder levaria alguém a transformar toda uma dimensão em cobaias para a tentativa de transformar a humanidade em uma nova evolução? E se a chave para essa dimensão fosse um garoto com "habilidades especiais"? O poder existe. Além do Esp...