Cura

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A escuridão engoliu por completo o lugar. Os braços de Alexander são soltos pelos seguranças brutamontes, mas sua boca é tampada por uma pequena mão. O corpo de Alex é carregado para trás e jogado com força ao chão. Poucos segundos depois, outro estrondo oco de corpo ao chão é ouvido.

- Foi por nosso pai - A voz de Clarisse é perfeitamente ouvida por Alexander, mesmo que na forma de sussurro - Mas isso não muda em nada, Lex.

Nesse mesmo instante, a energia do ambiente é restaurada. Rapidamente, todas as luzes presas ao teto acendem. Alexander percebe que a coleira, antes presa em seu pescoço, estava agora no chão. Então percebe onde está.

Na entrada do elevador executivo.

O loiro leva o olhar para a enorme caixa de vidro. Encontra o olhar furioso de Theodore Vitae.

- Tragam-os aqui! - O homem exclama, assustando os seguranças em forma de muralha que receiam antes de correr na direção do elevador.

Alexander levanta rapidamente e puxa o braço esquerdo de Charlie para apoiar em seu ombro e o puxa para seu colo, prendendo as pernas do menor em sua cintura. Os homens se aproximam ainda mais. Os garotos entram no cubo do elevador e Alex aperta em qualquer botão do painel. As portas se fecham quando os engravatados estão a dois metros da porta.

Grace suspira e encosta as costas de Charlie na parede metálica do elevador. As mãos geladas do menino agarram a blusa do menor com força enquanto este retira aquela maldita coleira com cristal azul do pescoço dele.

Rain encosta sua cabeça no peitoral forte de Alexander.

- Eu estava com tanto medo, Alex - Charlie não consegue mais conter as lágrimas e molhar o moletom de Grace foi inevitável. Tremia muito - Tanto medo, tanto medo...

Alexander passa suas mãos nas costas do menino pálido a afunda seu rosto naquele pescoço de pele macia. Charlie tinha medo de morrer e Alexander quase que o levou para a morte novamente.

O mesmo erro.

- Me desculpe, Charlie - A voz de Alexander sai rouca, arrepiando a pele pálida sensível - Eu quase te perdi. Quase te perdi de novo. Eu sei que não mereço mas eu te imploro que me perd...

É interrompido pelo menor, que o abraça com mais força e começa a chorar alto.

- Eu estava com tanto medo de te perder - Sua voz trêmula sai relutante devido aos soluços do choro. Aquelas palavras surpreendem o rapaz em pé - Medo de que aquele louco te machucasse. De que te matasse.

Ele se afunda ainda mais contra a blusa do maior, diminuindo a distância de seus corpos. O fato de ser importante para Charlie aumentava ainda mais a responsabilidade que Alexander sentia como quando se deixava levar nas cores diferentes daqueles olhos. Conseguia sentir a frequência dos soluços pelo choro diminuindo.  

Ele se sentia bem perto daquele garoto.

- Temos que sair desse prédio - Alexander pousa os pés do menor no chão do elevador - Não acho que Theodore facilitará isso.

Bom, e estava certo. Quando as portas de metal se abriram para o saguão, um grupo de pelo menos quinze homens armados estava a espera deles. Mas Charlie apenas fez um sinal com a mão que todos foram jogados para longe por telecinese. Os garotos avançam rapidamente em direção à saída, mas antes de atravessar a grande porta de entrada, Alexander pega uma das pistolas automáticas que estavam no chão, quardando-a na calça, e retorna ao encontro do menino.

Estavam sozinhos a partir de agora.



"Doutor Theodore Vitae,
Estou demasiadamente emocionado por demonstrar um ato de compaixão para com meu filho, que agora aparenta estar completamente curado e saudável graças ao seu soro. Como forma de gratidão, mandarei a maior quantidade possível dos soldados americanos para receber essa tal cura genética do bem sucedido Projeto Lune. Em algumas horas, receberá batalhão atrás de batalhão em sua Torre Sede de Laboratórios. Tenho a completa certeza que seu soro transformará para sempre a história da humanidade. Os Estados Unidos da América agradece seus esforços para com o país e toda a sua população.
Atenciosamente,
Oliver Ali
Presidente da República Federativa dos Estados Unidos da América".

O primeiro passo para a conclusão do Plano B estava concluído. O caos mundial é apenas uma questão de tempo.

E Theodore Vitae sorria com isso.

Sorria em perceber o quanto era fácil iludir o ser humano com apenas a simples cura para um filho.

Principalmente se esse ser humano em questão for responsável pela maior potência bélica mundial.

Como a mente humana é fácil.


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